Quando David Berkowitz foi preso em agosto de 1977, após meses aterrorizando Nova York com assassinatos brutais cometidos com uma pistola calibre .44, a cidade finalmente respirou aliviada. Para a maioria, o caso do chamado Filho de Sam estava encerrado. Mas para um homem, o jornalista investigativo Maury Terry, a história estava apenas começando.
Terry acreditava que o caso guardava mais mistérios do que as autoridades estavam dispostas a admitir. Em vez de aceitar a versão oficial, segundo a qual Berkowitz agiu sozinho sob influência de um suposto “cão demoníaco”, ele decidiu investigar por conta própria. Essa jornada, marcada por obsessão, controvérsias e um mergulho profundo no submundo das teorias conspiratórias, duraria décadas e custaria caro à sua vida pessoal.
As primeiras dúvidas sobre a versão oficial
À época dos crimes, Terry era funcionário da IBM e atuava paralelamente como jornalista. Desde o início, ele se mostrou cético quanto à narrativa oficial. A desconfiança surgiu diante de inconsistências básicas, como os retratos falados do criminoso, que variavam consideravelmente e, em muitos casos, não se pareciam em nada com Berkowitz. Além disso, havia contradições nos padrões dos ataques, o que enfraquecia a ideia de um assassino solitário.
Um dos elementos que mais despertou a atenção de Terry foi o apelido “Filho de Sam”, que levou o jornalista a investigar Sam Carr, vizinho de Berkowitz, dono do cão supostamente possuído e pai de dois jovens, John e Michael Carr. Segundo Terry, ambos tinham ligação com Berkowitz e poderiam estar envolvidos nos crimes.
A teoria do culto satânico e a escalada da obsessão
Terry aprofundou suas investigações e passou a acreditar que os assassinatos não foram obra de um único psicopata, mas o resultado de ações coordenadas por uma seita satânica chamada “The Children”. Para ele, esse grupo teria ramificações pelo país e conexões com outros movimentos obscuros, como “The Process”, uma seita acusada de influenciar Charles Manson.
As evidências reunidas por Terry incluíam símbolos satânicos em locais frequentados pelos suspeitos, relatos sobre rituais no parque Untermyer em Yonkers, mutilações de animais e as misteriosas mortes dos irmãos Carr após a prisão de Berkowitz. O jornalista reuniu suas conclusões no livro The Ultimate Evil, publicado em 1988, obra que acabou se tornando referência no subgênero de investigações alternativas sobre o caso.
A solidão do cético e o preço da insistência
Com o passar dos anos, no entanto, a busca por uma verdade alternativa começou a cobrar seu preço. Rejeitado pela grande imprensa, que tratava suas teorias como fantasiosas, Terry acabou recorrendo a programas sensacionalistas para divulgar suas descobertas. A imagem pública do jornalista ficou abalada, e sua reputação entre os colegas da área foi severamente prejudicada.
Mesmo assim, ele não desistiu. Terry acreditava que havia provas suficientes para reabrir o caso, mas a falta de respaldo institucional e o ceticismo da sociedade o empurraram para o isolamento. Sua obsessão comprometeu seus relacionamentos, sua saúde e, por fim, consumiu toda a sua vida. Ele faleceu em 2015, aos 69 anos, sem ver seu trabalho plenamente reconhecido.
A reavaliação de sua investigação por meio da série da Netflix
Foi apenas após sua morte que seu nome voltou a ganhar atenção, graças à série documental Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração, lançada pela Netflix. O diretor Joshua Zeman, que inicialmente não acreditava nas teorias de Terry, passou a rever sua posição ao ter acesso a caixas de documentos, fitas e entrevistas deixadas pelo jornalista.
A série não só explora a possível extensão do caso, como também mergulha no drama pessoal de Terry. Para Zeman, a trajetória do jornalista é um alerta sobre os perigos da obsessão e da busca desenfreada por respostas. “Ele tinha bons argumentos, mas foi desacreditado e isolado. Isso o fez dobrar a aposta, e acabou arruinando sua credibilidade”, declarou o diretor (via Metro Philadelphia).
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