David Berkowitz, nascido Richard David Falco em 1953, ficou conhecido mundialmente como o “Filho de Sam” ou o “Assassino do calibre .44”. Entre 1976 e 1977, ele aterrorizou a cidade de Nova York com uma série de ataques brutais que deixaram seis pessoas mortas e outras sete feridas. Armado com um revólver Bulldog calibre .44, Berkowitz atacava casais em locais isolados, geralmente dentro de carros, espalhando medo e insegurança em uma cidade já abalada pela violência urbana da época.
A assinatura deixada nas cartas que enviava à polícia e à imprensa, recheadas de provocações e referências demoníacas, tornou-se um dos elementos mais marcantes do caso. Em uma dessas mensagens, ele se referia a si mesmo como “Beelzebub” e “o Beemote Gordinho”, afirmando que “vive para a caçada”. A polícia lançou uma das maiores operações de busca da história da cidade até capturar Berkowitz em agosto de 1977, após uma denúncia de uma moradora que o viu próximo a uma das cenas do crime.
A origem do nome “Filho de Sam” e as alegações demoníacas
Durante os interrogatórios, Berkowitz alegou ter sido influenciado por um demônio que habitava o corpo do cachorro de seu vizinho, Sam Carr, e que teria ordenado os assassinatos. Foi dessa história, mais tarde desmentida pelo próprio Berkowitz, que surgiu o apelido “Filho de Sam”. Apesar de inicialmente parecer um delírio isolado, essa narrativa se tornaria o ponto de partida para teorias mais profundas sobre o envolvimento de grupos ocultistas nos crimes.
No tribunal, David Berkowitz foi considerado mentalmente capaz de responder por seus atos e se declarou culpado de homicídio em segundo grau. Foi condenado a seis penas de prisão perpétua consecutivas e ainda permanece encarcerado até hoje.
O surgimento das teorias conspiratórias: o trabalho de Maury Terry
Apesar da confissão e condenação de Berkowitz, muitas dúvidas persistiram sobre a possibilidade de ele ter agido sozinho. Foi esse mistério que motivou o jornalista investigativo Maury Terry a conduzir sua própria apuração, apresentada na série documental da Netflix Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração.
Terry notou inconsistências importantes na investigação oficial, como retratos falados divergentes e a falta de ligações claras entre todas as vítimas. Ele acreditava que Berkowitz fazia parte de uma seita satânica chamada “The Children”, que realizava assassinatos como parte de rituais macabros. Os filhos de Sam Carr, John e Michael, teriam ligação com o grupo, e juntos, segundo Terry, frequentavam o Parque Untermyer, em Yonkers, conhecido como ponto de encontro de cultos ocultistas.
Entre fatos e obsessão: até onde foi a busca por respostas?
Maury Terry dedicou décadas de sua vida a investigar a suposta conspiração. Ele publicou suas descobertas no livro The Ultimate Evil, onde ligava os assassinatos do Filho de Sam a uma rede maior de seitas satânicas, que teria conexões até com o culto “The Process”, associado ao círculo de Charles Manson. As autoridades, no entanto, sempre consideraram suas alegações como especulativas e sem base sólida.
Ainda assim, a série documental mostra como as cartas enviadas por Berkowitz da prisão reforçaram, em parte, as crenças de Terry. Em entrevistas concedidas nos anos 1990, Berkowitz afirmou que não havia atuado sozinho, embora jamais tenha fornecido provas conclusivas. Em uma das conversas mais marcantes, gravada para a televisão, ele confirma a existência de um grupo envolvido, mas deixa muitas perguntas sem resposta.
As vítimas: nomes que não podem ser esquecidos
A trajetória de Berkowitz é também marcada por um rastro de vítimas inocentes, cujas vidas foram brutalmente interrompidas ou permanentemente afetadas. Entre os casos mais lembrados estão:
- Donna Lauria, de 18 anos, morta na primeira ação atribuída ao Filho de Sam, em julho de 1976.
- Christine Freund, de 26, atingida enquanto estava no carro com seu noivo.
- Stacy Moskowitz, de 20, que foi a última vítima fatal, em um ataque que também deixou Robert Violante cego de um olho.
Outras vítimas, como Carl Denaro e Donna DeMasi, sobreviveram, mas carregam sequelas físicas e emocionais até hoje.
Berkowitz hoje e os ecos de uma cidade traumatizada
Preso desde 1977, David Berkowitz cumpre sua pena no sistema prisional do estado de Nova York. Ele afirma ter se convertido ao cristianismo e adota uma postura mais introspectiva, enviando mensagens de arrependimento e falando sobre fé. Ainda assim, seu nome continua associado a um dos períodos mais sombrios da história de Nova York.
A repercussão midiática do caso foi tão intensa que levou o estado a criar a chamada “Lei Filho de Sam”, que impede criminosos de lucrar financeiramente com suas histórias. A popularidade do tema também foi combustível para diversas produções audiovisuais, incluindo a mais recente série The Son of Sam Tapes, da Netflix, que traz entrevistas inéditas e gravações feitas com Berkowitz em 1980.
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