A personagem Alberta, embora tenha pouco tempo de tela em Um Limite Entre Nós, é peça fundamental para o desenrolar do drama familiar retratado no filme. Estrelado por Denzel Washington e Viola Davis, o longa chegou à Netflix no último sábado (12), reacendendo o debate sobre seus temas centrais. Baseado na peça vencedora do Pulitzer, escrita por August Wilson, o filme se passa na década de 1950 e explora, entre outros aspectos, os conflitos internos de um homem marcado por arrependimentos e pelas limitações de seu tempo. Nesse contexto, Alberta representa mais do que uma simples amante: ela é o ponto de ruptura de uma família já fragilizada.
Alberta é o pivô do rompimento entre Troy e Rose
Alberta é a mulher com quem Troy Maxson, interpretado por Denzel Washington, mantém um relacionamento extraconjugal. Embora o filme não aprofunde seu passado ou personalidade, sua presença é constante nos diálogos e nas tensões entre os personagens principais. Troy a conhece em um bar chamado Taylor’s, e o envolvimento dos dois acontece longe dos olhos de Rose, sua esposa.
Jim Bono, melhor amigo de Troy, observa o comportamento do companheiro e tenta alertá-lo, aconselhando-o a encerrar a relação antes que cause danos irreversíveis. Troy, em um primeiro momento, promete terminar o caso, mas essa decisão muda drasticamente quando ele descobre que Alberta está grávida.
A gravidez de Alberta e o colapso familiar
A notícia da gravidez é o estopim de uma das cenas mais impactantes do filme. Troy confessa a Rose sobre o caso e o filho que está por vir, causando uma explosão de dor e frustração. A traição representa para Rose muito mais do que a quebra de um voto matrimonial; ela simboliza o fim do ideal de família que ela lutava para manter.
Durante a discussão, Troy tenta justificar suas escolhas, dizendo que encontrou em Alberta uma válvula de escape para as pressões e frustrações da vida. Mas suas palavras não diminuem a gravidade do que fez. A tensão atinge o ápice quando Troy, em um gesto agressivo, segura o braço de Rose, o que leva Cory, o filho do casal, a intervir fisicamente, empurrando o pai contra a cerca do quintal.
Esse momento marca o rompimento definitivo entre Troy e Cory, assim como o distanciamento irreversível entre Troy e Rose.
O nascimento de Raynell e a decisão de Rose
Alberta morre durante o parto, deixando a recém-nascida Raynell sem mãe. Diante da situação, Rose toma uma decisão difícil e generosa: cria a menina como se fosse sua filha, mesmo carregando o peso da traição. Essa escolha é feita, segundo a própria Rose, pela inocência da criança, que não deve pagar pelos erros dos pais.
No entanto, sua decisão de acolher Raynell não vem acompanhada de perdão para Troy. Rose deixa claro que, embora continue a cuidar da filha dele, não está disposta a manter o vínculo emocional ou conjugal com o marido. Essa postura reforça a força e a integridade da personagem, que se recusa a apagar sua dor, mas não deixa de agir com humanidade.
Alberta como símbolo das escolhas e falhas de Troy
Mesmo sendo uma personagem ausente fisicamente em boa parte do filme, Alberta representa muito das contradições de Troy. O relacionamento com ela surge como uma tentativa do protagonista de escapar das frustrações acumuladas ao longo da vida: o racismo que o impediu de seguir carreira no beisebol, a pressão de sustentar a família e o medo de sua própria insignificância.
A figura de Alberta acaba sintetizando a falha de Troy como marido e pai. Seu desejo por liberdade e prazer se sobrepõe ao compromisso que jurou manter. E, ao mesmo tempo, sua recusa em abandonar Alberta após a gravidez mostra o quanto ele está preso a suas próprias contradições: exige disciplina e renúncia dos filhos, mas não consegue aplicar os mesmos valores em sua própria vida.
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