O drama Anora, de Sean Baker, voltou aos holofotes nesta quarta-feira (23) com sua aguardada estreia no Prime Video. O filme, que já havia sido lançado nos cinemas brasileiros em janeiro de 2025, agora chega ao catálogo da Amazon com uma nova onda de atenção do público. Grande vencedor do Oscar 2025, o longa estrelado por Mikey Madison tem provocado debates não apenas por sua trama emocionalmente intensa, mas também por detalhes sutis, como o significado do nome da protagonista.
Anora: um nome que a própria personagem evita
A personagem principal se chama, oficialmente, Anora. No entanto, em nenhum momento do filme ela aceita ser chamada assim. Desde os primeiros minutos, a jovem insiste para que todos a chamem apenas de Ani, um apelido mais informal, e corrige aqueles que tentam usar seu nome completo. Esse distanciamento com o próprio nome não é aleatório. Pelo contrário, ele faz parte da construção emocional da personagem e está diretamente ligado à forma como ela se enxerga — ou não se enxerga — no mundo em que vive.
O que significa “Anora”?
Em um dos momentos mais simbólicos do filme, Igor, um dos personagens centrais do último ato, comenta com Ani que gosta mais do nome completo dela. Ele menciona, em inglês entrecortado, que “Anora” carrega significados nobres. Segundo ele, o nome tem origens latinas e pode significar “honra”, “graça” ou “luz”. São interpretações que, apesar de belas, parecem destoar completamente da realidade da personagem. Ani, uma jovem que trabalha como stripper em Brighton Beach, convive com frustrações, violência e inseguranças que a fazem sentir-se distante desses ideais positivos.
Nesse mesmo diálogo, ela ironiza o comentário de Igor, dizendo que o nome dele é “idiota”. Ele, por sua vez, responde que Igor significa “guerreiro”. Essa troca revela não apenas um embate entre dois mundos, mas também o esforço de ambos para atribuir algum valor simbólico às suas identidades, mesmo quando tudo à sua volta sugere o contrário.
Por que Ani rejeita o nome “Anora”?
Mais do que uma preferência estética, a recusa em usar seu nome completo carrega um peso simbólico. Ani não se vê digna dos significados que o nome Anora representa. Em um ambiente em que tudo parece descartável — relacionamentos, sentimentos, oportunidades — ela sente que “honra”, “graça” ou “luz” não combinam com quem ela é ou com a vida que leva.
Além disso, o apelido Ani funciona como uma tentativa de assimilação cultural. Ele soa mais americano, mais moderno, mais próximo daquilo que ela gostaria de ser. A negação do nome Anora é também a negação de suas origens. Em diversos momentos, ela evita falar russo e até nega sua fluência na língua. Ela quer fugir do passado, da cultura que carrega e da realidade de Brighton Beach, onde sente que não tem futuro.
Um nome maior que a personagem?
O título do filme carrega o nome completo da protagonista, mesmo que ela se recuse a usá-lo. Isso não é coincidência. Sean Baker parece propor uma reflexão: seria Anora uma versão idealizada da Ani que conhecemos? Uma versão que ela ainda não conseguiu acessar? Ao usar o nome completo como título, o filme sugere que há algo de nobre, sim, na trajetória da personagem, mesmo que ela própria não enxergue isso.
Na cena final, quando Ani desaba em lágrimas após um encontro ambíguo com Igor, o filme encerra sua narrativa de forma agridoce. Não há redenção plena, mas há um reconhecimento da dor, da luta e da tentativa de escapar de um ciclo opressor. Anora, nesse sentido, não é apenas um nome. É um ideal que ela talvez não atinja, mas cuja presença, mesmo à distância, é o que impulsiona sua jornada.
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