No universo denso e angustiante da minissérie Adolescência, da Netflix, nenhum detalhe é gratuito. Entre olhares silenciosos, planos-sequência hipnóticos e diálogos carregados de tensão, até mesmo um simples sanduíche pode carregar camadas de significado. No terceiro episódio da série, o lanche aparentemente inofensivo oferecido a Jamie — um sanduíche de queijo com picles — se transforma em uma poderosa metáfora sobre infância, trauma e a luta silenciosa pelo controle.
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O sanduíche como teste psicológico: reação de Jamie revela mais do que palavras
É Jamie (vivido com crueza por um jovem elenco revelação) quem protagoniza o momento mais enigmático do episódio 3, quando se encontra com a psicóloga Briony (Erin Doherty). Ela oferece ao garoto um chocolate quente com marshmallows e um sanduíche de queijo com picles. O gesto, à primeira vista, parece acolhedor — quase materno —, mas esconde uma possível provocação: como Jamie reage diante de algo que não gosta?
A teoria mais aceita entre críticos e especialistas é que Briony usa o lanche como um experimento silencioso. Ela quer observar como o adolescente lida com frustração, controle e desconforto. A princípio, Jamie recusa o sanduíche ao perceber o picles, debochando da escolha de Briony — um gesto sutil de resistência em um ambiente onde ele não tem poder algum. Mas, mais tarde, tomado pela fome e talvez pela própria raiva, ele cede e come. É uma pequena rendição, que diz muito sobre seu estado emocional e psicológico.
O lanche da infância como símbolo da perda de inocência
Outra leitura possível — e igualmente potente — é simbólica: o sanduíche e o chocolate quente remetem à infância. São alimentos reconfortantes, típicos de lanches escolares ou momentos carinhosos em casa. Ao inseri-los numa cena tensa, marcada pela atmosfera de julgamento e diagnóstico, a série confronta o espectador com a realidade brutal de Jamie: ele é, simultaneamente, um acusado de assassinato e um menino de 13 anos.
Esses alimentos, colocados ali com aparente inocência, tornam-se marcadores do que foi perdido. Adolescência, como o próprio nome sugere, caminha na corda bamba entre o fim da infância e o surgimento de algo mais sombrio. Jamie não é retratado como um monstro, tampouco como um mártir — ele é um garoto comum tragado por um mundo que falhou com ele. E o sanduíche, nesse contexto, é um lembrete visual e emocional disso.
O nojo de Briony: a náusea que vai além do gosto
Ao fim da cena, quando Jamie já deixou a sala, Briony sente nojo ao segurar o sanduíche, mas não é a comida que a enjoa, mas o peso simbólico que ela agora carrega. O lanche, antes um gesto de empatia, agora representa a impotência da psicóloga, a brutalidade da situação e, talvez, o terror de perceber que, apesar de tudo, Jamie ainda é apenas um menino. Um menino capaz de coisas terríveis.
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