Natalie Scatorccio foi uma das personagens mais marcantes de Yellowjackets. Desde o início, ela se destacou como uma alma atormentada, profundamente marcada pelos traumas vividos na juventude e pela culpa que carregava no presente. Sua morte no final da segunda temporada deixou os fãs em choque, encerrando abruptamente a trajetória de uma das sobreviventes mais queridas do grupo. Mas por que os criadores da série decidiram matar Natalie? E por que Juliette Lewis, atriz que a interpretava na fase adulta, deixou o elenco? A seguir, destrinchamos os motivos narrativos e criativos por trás da despedida de Natalie.
A morte trágica e acidental de Natalie
Natalie não morreu por um sacrifício ritualístico, nem por escolha própria. Sua morte foi resultado de um gesto impulsivo de Misty, sua amiga e companheira de sobrevivência. Durante o clímax do episódio final da segunda temporada, as mulheres se reúnem no retiro de Lottie, onde ela propõe um sacrifício ao que chama de “Wilderness”. As demais fingem participar do plano para ganhar tempo, enquanto tentam acionar ajuda psiquiátrica. No entanto, Van desiste de buscar socorro, guiada pelo desespero de sua doença terminal e pela crença de que a oferenda poderia salvá-la.
Em meio ao caos, Lisa ameaça matar Natalie. Em uma tentativa de protegê-la, Misty tenta aplicar uma dose letal de fenobarbital em Lisa. No entanto, Natalie se joga na frente para proteger a jovem, e acaba sendo ela a atingida pela injeção. Em seus últimos momentos, ela tem uma visão onde encontra Javi e Lottie na floresta, sinalizando que, mesmo em paz, ainda estava presa à culpa pela morte de Javi no passado. A cena também marca um encontro simbólico entre a Natalie adolescente e sua versão adulta, unindo as duas pontas de sua história.
Misty em luto: culpa e negação
Embora a morte tenha sido classificada como overdose pelas autoridades, o impacto emocional em Misty foi devastador. Interpretada por Christina Ricci, a personagem revela-se profundamente abalada pela culpa, mesmo que o acidente tenha sido involuntário. Ricci comentou, em entrevista à Variety, que a cena foi uma das mais difíceis de filmar. Misty agiu por impulso, num gesto típico de sua personalidade imatura e possessiva, tentando eliminar qualquer ameaça ao seu círculo próximo. No entanto, o preço dessa atitude foi alto demais, e a perda de Natalie abriu uma ferida que se mantém viva na terceira temporada.
A decisão narrativa: consequências inevitáveis
Segundo os criadores da série, a morte de Natalie não foi gratuita. Jonathan Lisco, um dos showrunners, afirmou que a intenção era mostrar que os traumas vividos na floresta continuam cobrando um preço alto. A série, afinal, sempre se propôs a explorar as consequências psicológicas e emocionais do horror que as protagonistas enfrentaram na juventude. Para os roteiristas, não faria sentido criar um universo onde nada tivesse repercussões reais. A morte de Natalie reforça esse princípio, funcionando como um lembrete de que ninguém está imune ao passado.
Ashley Lyle e Bart Nickerson, também showrunners, acrescentaram que a influência do “Wilderness” não terminou com o resgate das garotas (via THR). A escuridão, como Natalie havia advertido anteriormente, ainda paira sobre elas. A sequência de eventos sobrenaturais, visões, e mortes inexplicáveis sugere que algo – real ou psicológico – continua assombrando o grupo.
Juliette Lewis e sua despedida planejada
A saída de Juliette Lewis não foi inesperada. A atriz, que já tem uma carreira consolidada no cinema, afirmou preferir o formato de filmes ao de séries longas. “Gosto da estrutura do cinema, com começo, meio e fim claros”, disse ela em entrevista à Variety. Embora sua saída não estivesse 100% planejada desde o início, Lewis confirmou que havia discutido sua saída com a produção e encontrou o momento ideal para se despedir. Após deixar Yellowjackets, ela embarcou em projetos como The Thicket, By Design e Opus, reafirmando sua preferência pelo cinema.
Natalie continua viva… no passado
Apesar da morte definitiva de Natalie no presente, a personagem ainda tem espaço na série por meio de sua versão adolescente. Sophie Thatcher, que interpreta a jovem Natalie, afirmou que a morte da personagem adulta trouxe mais profundidade à sua própria atuação. Segundo ela, saber o destino de Natalie acrescenta camadas de complexidade, permitindo que o público perceba o processo gradual de transformação da jovem rebelde na mulher ferida que Juliette Lewis interpretava. A conexão entre as duas se intensifica na terceira temporada, especialmente quando a Natalie jovem adota trejeitos e atitudes da sua versão adulta.
Van e o mistério da morte nas Yellowjackets
O final da terceira temporada trouxe outro choque: a morte de Van, outra personagem querida. Assim como Natalie, Van parecia resistir a tudo, até mesmo ao câncer terminal. No entanto, a série reforça sua natureza ambígua e sobrenatural. A linha entre alucinação, destino e forças externas nunca é completamente definida. A morte de Van, tal como a de Natalie, é envolta em simbolismos e visões, sugerindo que o “Wilderness” talvez não seja apenas um local, mas uma entidade. Quando a jovem Van afirma que “sobreviver nunca foi a recompensa”, ela amplia ainda mais os mistérios que cercam esse universo.
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