Ney Matogrosso, ícone da música brasileira e figura central na vida pessoal e profissional de Cazuza, não aparece em Cazuza – O Tempo Não Para (2004). Essa ausência, sempre estranha aos que conhecem a trajetória real do ex-vocalista do Barão Vermelho, voltou ao debate público após o estrondoso sucesso de Homem com H.
No novo filme, dirigido por Esmir Filho e estrelado por Jesuíta Barbosa, o relacionamento afetivo entre Ney e Cazuza é finalmente retratado com sensibilidade e profundidade. A omissão anterior, agora mais evidente, é vista como uma distorção histórica que impactou não só a percepção do público, mas também afetou pessoalmente Ney, que nunca escondeu seu desconforto com a exclusão.
Relação intensa e papel marcante na vida de Cazuza
Ney Matogrosso e Cazuza viveram um breve, porém intenso relacionamento amoroso em 1983, descrito pelo próprio Ney como “três meses intensos e inesquecíveis”. Apesar de curta, a relação deixou marcas profundas em ambos. E o vínculo entre os dois não terminou com o fim do romance. Ney permaneceu como um dos grandes amigos de Cazuza até sua morte, em 1990.
Mais do que amigo, Ney teve papel crucial em momentos importantes da carreira de Cazuza. Foi ele quem dirigiu a última turnê do artista, que dá nome ao próprio filme lançado em 2004. Além disso, foi o primeiro artista da MPB a gravar uma música do Barão Vermelho: o clássico “Pro Dia Nascer Feliz”.
Mesmo com essa relevância, o nome de Ney sequer é mencionado na cinebiografia de Cazuza. Em seu livro de memórias, Vira-Lata de Raça (2018), Ney desabafa (via Metropoles): “Quando me lembro do filme que fizeram sobre ele, fico triste. É muito reducionista. Quem conhece a história real fica chocado com o resultado.”
Uma justificativa que gerou ainda mais desconforto
A diretora do filme Cazuza – O Tempo Não Para, Sandra Werneck, justificou a ausência dizendo que Ney era “grande demais” para caber em apenas algumas cenas. “Ele teria tão pouco espaço que eu não ia conseguir dar a dimensão real da relação dele com o Cazuza”, declarou à época do lançamento.
Essa explicação, longe de consolar, aumentou o ressentimento. Ney relata que recebeu pessoalmente a visita da diretora em sua casa e compartilhou com ela todos os detalhes da relação: do primeiro encontro até o último adeus. “Falei de toda a nossa trajetória e nosso amor. Depois me disseram que eu era um personagem tão grande que não cabia no filme”, escreveu Ney em sua autobiografia.
O argumento de que a presença de Ney seria “grande demais” também foi contestado por Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que lamentou publicamente a exclusão. “Senti muita falta do Ney no filme”, disse ela, destacando que Ney deu um depoimento emocionante em seu livro Só as Mães São Felizes.
“Homem com H” repara uma omissão histórica
Vinte anos depois, Homem com H traz à tona esse capítulo negligenciado. O longa reconstrói o relacionamento entre Ney e Cazuza de forma poética, sem esconder as contradições. Em entrevista à Veja, Ney descreveu Cazuza como “uma das pessoas mais encantadoras” que conheceu, embora conviver com ele não tenha sido fácil. “Havia dois Cazuzas: o público, rebelde e autodestrutivo, e o íntimo, carinhoso e doce”, disse o cantor.
A escolha de incluir esse relacionamento na nova cinebiografia, segundo o diretor Esmir Filho, veio do próprio desejo de mostrar o lado afetivo e desconhecido de figuras públicas. “Todo mundo conhece o Cazuza irreverente, mas poucos conhecem o que falava baixinho com o Ney. Queríamos dar voz a esse afeto”, explicou.
O filme, que se tornou o mais assistido da Netflix no Brasil em poucos dias, inclui até mesmo uma recriação da turnê O Tempo Não Para — desta vez, com a participação ativa de Ney, que realmente desenhou a luz do show, escolheu o figurino de Cazuza e insistiu para que a canção que dá nome à turnê fosse incluída no repertório.
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