David Berkowitz, conhecido como o “Filho de Sam”, foi preso em 10 de agosto de 1977, colocando fim ao que parecia ser uma aterrorizante sequência de crimes sem sentido em Nova York. Entre 1976 e 1977, ele matou seis pessoas e feriu outras sete, sempre utilizando um revólver calibre .44, e deixou a cidade em estado de pânico. Sua prisão marcou o encerramento da maior caçada humana da história do Departamento de Polícia de Nova York, e sua confissão parecia confirmar que ele havia agido sozinho, motivado por vozes demoníacas vindas do cachorro de um vizinho. Contudo, para alguns investigadores, jornalistas e vítimas, a explicação oficial jamais fechou completamente.
Maury Terry e a investigação paralela
Quem não se conformou com a explicação oficial foi o jornalista investigativo Maury Terry. À época trabalhando na IBM, Terry ficou intrigado com diversas inconsistências no caso: retratos falados que não se pareciam com Berkowitz, relatos contraditórios de testemunhas, conexões pouco claras entre as vítimas. Começou então sua própria investigação, movido por uma desconfiança crescente de que havia algo mais sombrio por trás dos assassinatos.
Terry voltou seus olhos para o vizinho mencionado por Berkowitz, Sam Carr, e seus filhos, John e Michael Carr. Os três, segundo Terry, frequentavam o parque Untermyer em Yonkers, local conhecido por relatos de rituais satânicos. A partir daí, Terry passou a suspeitar que os crimes haviam sido cometidos por um grupo, não por um único homem.
A teoria da seita satânica “The Children”
A obsessão de Terry o levou à convicção de que Berkowitz, os irmãos Carr e outros nomes não revelados faziam parte de uma seita satânica chamada “The Children”, ligada a um grupo ainda mais antigo, “The Process”, que por sua vez teria conexões com Charles Manson. Ele publicou suas descobertas em um livro chamado The Ultimate Evil, alegando que havia uma rede de cultos satânicos por trás dos assassinatos.
Berkowitz, anos depois de sua prisão, começou a sustentar a versão de que não agiu sozinho. Em entrevistas e cartas, afirmou ter participado de uma seita e que outros membros estavam envolvidos diretamente em todos os ataques — seja como atiradores, motoristas ou vigias. Entre os nomes citados por ele estavam John e Michael Carr, ambos já mortos à época de suas revelações. Outros cúmplices, segundo Berkowitz, vinham de fora de Nova York, o que impediria a identificação direta.
Ceticismo e apoio parcial
Apesar das alegações de Terry e das novas declarações de Berkowitz, a teoria da seita satânica sempre encontrou resistência. Especialistas como o ex-agente do FBI John Douglas e o jornalista Jimmy Breslin consideraram as novas versões de Berkowitz como tentativas de dividir a culpa ou manipular sua narrativa. Breslin, que trocou cartas com o assassino durante os crimes, foi categórico ao dizer que Berkowitz demonstrava total lucidez e lembrança detalhada dos fatos na noite em que foi preso.
Por outro lado, investigadores que atuaram no caso, como o promotor John Santucci e o detetive Mike Novotny, reconheceram que havia lacunas na versão oficial. Os relatos divergentes de testemunhas, as descrições físicas incompatíveis com Berkowitz e a presença de múltiplos veículos nas cenas dos crimes reforçavam a hipótese de que ele não estava sozinho.
A própria polícia de Yonkers chegou a reabrir o caso em 1996, motivada pelas denúncias de Terry, mas nenhum novo indiciamento foi feito. A investigação acabou suspensa, mas tecnicamente segue aberta.
A obsessão que custou caro
O documentário da Netflix Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração mostra com clareza como a busca pela verdade custou caro a Maury Terry. Ao longo dos anos, sua vida pessoal desmoronou: perdeu o casamento, se isolou de amigos e viu sua saúde se deteriorar. Embora tenha sido um dos primeiros a desafiar a narrativa oficial, sua insistência em teorias cada vez mais complexas o afastou do jornalismo tradicional e o levou a programas sensacionalistas, onde suas ideias eram tratadas como especulação.
O diretor Joshua Zeman, responsável pela série, define Terry como uma figura trágica: “Ele estava certo em muitas coisas, mas perdeu o controle da própria investigação.” Segundo Zeman (via The Guardian), a falta de transparência da polícia contribuiu para o surgimento de desconfianças e teorias conspiratórias que, décadas depois, ecoam em movimentos contemporâneos como o QAnon.
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