David Berkowitz, conhecido como o “Filho de Sam”, foi preso em 10 de agosto de 1977, encerrando um período de medo que durou mais de um ano em Nova York. Entre julho de 1976 e julho de 1977, Berkowitz matou seis pessoas e feriu outras sete usando um revólver calibre .44, espalhando pânico por todos os bairros da cidade. Com sua confissão e posterior condenação a mais de 300 anos de prisão, o caso parecia encerrado para a maioria da população.
No entanto, para um homem em particular, o fim da violência não significava o fim da história. O jornalista investigativo Maury Terry estava convencido de que Berkowitz não havia agido sozinho. A inquietação de Terry com as inconsistências no caso originou uma investigação paralela que duraria décadas e que agora volta ao centro do debate com a série documental da Netflix Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração, dirigida por Joshua Zeman.
Maury Terry e a busca por respostas
Logo após a prisão de Berkowitz, Maury Terry começou a identificar lacunas nas investigações oficiais. Os retratos falados divulgados pela polícia não se pareciam com o suspeito preso. Além disso, os crimes pareciam aleatórios, sem ligação evidente entre si. E mais: o próprio Berkowitz alegou ter obedecido ordens de um demônio que habitava o cachorro de seu vizinho, Sam Carr.
Terry foi além da bizarrice das declarações. Ele descobriu que os filhos de Sam Carr, John e Michael, tinham vínculos com Berkowitz. Segundo sua tese, os três faziam parte de um culto satânico conhecido como “The Children” e teriam frequentado juntos rituais em locais como o Untermyer Park, em Yonkers. Com base nessas descobertas, Terry publicou em 1987 o livro The Ultimate Evil, onde defende que os assassinatos foram cometidos por uma rede de cultos satânicos espalhados pelos Estados Unidos.
Uma investigação à margem da credibilidade
Apesar da dedicação de Terry, suas teorias foram rejeitadas por grande parte da comunidade policial e da imprensa. Durante os anos 1980 e 1990, ele passou a aparecer em programas sensacionalistas de televisão, como os de Geraldo Rivera, o que comprometeu ainda mais sua imagem como jornalista sério. Ainda assim, ele persistiu. Em conversas registradas com Berkowitz, o assassino chegou a confirmar que não havia agido sozinho. Porém, a forma como Terry conduzia essas entrevistas – com perguntas excessivamente direcionadas – levantava dúvidas sobre a confiabilidade dessas alegações.
Joshua Zeman, diretor da série documental, conta que inicialmente duvidava das teses de Terry. No entanto, após seu contato com policiais aposentados que admitiam informalmente que Berkowitz poderia ter tido cúmplices, Zeman decidiu investigar por conta própria. Após a morte de Terry em 2015, o cineasta teve acesso ao extenso material reunido pelo jornalista, incluindo entrevistas inéditas e correspondências de Berkowitz.
O impacto pessoal da obsessão
O caso Filho de Sam não apenas consumiu a cidade de Nova York durante os anos 1970, mas também devorou a vida de Maury Terry. Sua busca incansável por uma verdade oculta o afastou da família, destruiu relacionamentos e, segundo alguns próximos, deteriorou sua saúde mental e física. Para Zeman, Terry foi a última vítima de Berkowitz, engolido por um enigma que talvez nunca tivesse uma resposta definitiva.
A série Os Filhos de Sam: Loucura e Conspiração não oferece uma conclusão fechada, mas levanta questões importantes sobre como as autoridades tratam casos de grande repercussão pública e o papel da imprensa na construção de narrativas. Em tempos de desconfiança generalizada nas instituições e crescimento de teorias da conspiração, a trajetória de Maury Terry serve como um alerta: a linha entre buscar justiça e mergulhar na paranoia pode ser mais tênue do que parece.
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