Em Nosferatu, de Robert Eggers, Friedrich Harding, interpretado por Aaron Taylor-Johnson, representa um retrato claro da resistência às mudanças sociais em torno do papel feminino. Desde os primeiros momentos do filme, o personagem demonstra desconfiança em relação a Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), cuja postura e passado a colocam em confronto direto com os valores conservadores sustentados por Friedrich. A antipatia que ele sente por ela não nasce apenas de eventos sobrenaturais ou de perigos concretos, mas daquilo que Ellen simboliza: a ruptura com o modelo de feminilidade submissa e domesticada da época.
A feminilidade de Ellen desafia as estruturas sociais da época
Ellen não se encaixa nos padrões de comportamento esperados das mulheres do século XIX. Com uma ligação espiritual com o misterioso Conde Orlok e uma sensibilidade que escapa à racionalidade científica de figuras como Friedrich e o próprio Thomas Hutter (Nicholas Hoult), ela se torna alvo de desconfiança e medo. Para Friedrich, Ellen representa um perigo que vai além do plano sobrenatural — ela encarna uma ameaça à estabilidade de seu lar. Sua liberdade emocional e seus traços de autonomia feminina colidem com a vida doméstica tradicional que ele construiu ao lado de Anna (Emma Corrin) e suas filhas.
A relação entre Ellen e Anna intensifica os conflitos familiares
Parte da hostilidade de Friedrich em relação a Ellen também é alimentada pelo laço estreito que ela mantém com Anna, sua esposa. A amizade profunda entre as duas mulheres parece anteceder o casamento de Anna com Friedrich, e carrega um subtexto de cumplicidade que ultrapassa os limites esperados para a época. Para Friedrich, essa conexão feminina intensa soa como uma ameaça à autoridade que ele exerce no ambiente doméstico. Ele vê em Ellen uma influência capaz de corroer os valores que sustentam sua família, e isso o empurra ainda mais para o ressentimento.
O desprezo de Friedrich tem consequências trágicas
Nos momentos finais do filme, a tragédia se instala com força sobre os Harding. A morte de Anna, das filhas e do próprio Friedrich é, em parte, consequência do desprezo que ele nutriu por Ellen. Incapaz de confiar nela ou de entender a verdadeira natureza de sua luta, Friedrich escolheu o caminho da negação e da resistência. Ao rejeitar sua ajuda e desvalorizar suas advertências, ele perdeu a oportunidade de proteger sua família. A tragédia que se abate sobre ele é, portanto, tanto uma punição simbólica quanto uma consequência de sua rigidez diante de uma nova ordem representada por Ellen.
Ellen nunca foi o problema, mas o reflexo de um mundo em transformação
A relação entre Friedrich e Ellen não é o foco central da narrativa, mas funciona como um espelho das tensões sociais e culturais exploradas em Nosferatu. A oposição entre os dois simboliza o embate entre ciência e misticismo, entre o conservadorismo patriarcal e a liberdade feminina emergente. Friedrich vê em Ellen não apenas uma mulher assombrada, mas uma mulher livre — e isso, para ele, é mais assustador do que qualquer vampiro.
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