A trajetória artística de Ney Matogrosso sempre foi marcada por ousadia, liberdade e autenticidade. Mas por trás do brilho dos palcos, há também uma história pessoal de dor, enfrentamento e reconciliação. Em uma entrevista ao programa Sem Censura, o cantor compartilhou detalhes de sua conturbada relação com o pai, um militar severo, revelando momentos de tensão e, mais tarde, de afeto e cuidado.
Um lar militar e a repressão precoce
Ney cresceu em um ambiente rígido, onde a expressão artística não era bem-vinda. Desde pequeno, demonstrava interesse por desenho e chegou a pedir para estudar pintura. A resposta foi dura e imediata: “Filho meu não vai ser artista”. A desaprovação paterna se intensificou durante a adolescência, culminando em episódios de agressão e medo.
Aos 17 anos, após desafiar uma punição imposta, foi avisado pelo irmão de que o pai o procurava armado. “Ele foi pra guerra, eu não ia enfrentar uma arma”, contou Ney, lembrando do episódio ocorrido em Campo Grande (MS), onde viviam em uma vila militar. O medo era constante, mas o cantor encontrou forças para confrontá-lo: “Eu não te respeito, tenho medo de você. Mas medo passa”.
Além da repressão emocional, Ney também sofreu agressões físicas. Em um dos relatos mais impactantes, revelou que apanhava tanto que os vizinhos começaram a gritar em protesto. Mesmo assim, resistia. “Ele queria que eu chorasse, e eu não chorava. Minha mãe jogava um espanador e eu chorava, mas pra ele, não.”
Essa resistência silenciosa tornou-se uma das formas de se afirmar diante da figura paterna que tentava moldá-lo com rigidez e força.
A independência conquistada e o início da mudança
Anos depois, já vivendo em São Paulo e sustentando-se com pouco, mas com orgulho de sua liberdade, Ney reencontrou o pai. O velho militar ainda insistia para que o filho voltasse para casa, oferecendo emprego e estabilidade. “Sou dono da minha vida”, respondia Ney, sem abrir mão de sua autonomia.
Foi em uma dessas despedidas, em frente ao antigo prédio do jornal Estadão, que um gesto inesperado mudou a dinâmica entre pai e filho. Ney, acostumado a demonstrar afeto aos amigos com beijos no rosto, fez o mesmo com o pai. “Foi instintivo. Era meu pai. E aquilo mudou tudo.”
O afeto tardio e o reencontro emocional
Depois desse episódio, algo mudou. O pai, que nunca havia beijado os filhos — nem mesmo as filhas — passou a corresponder ao gesto. Desde então, os dois se beijavam sempre que se encontravam. A rigidez foi sendo substituída, pouco a pouco, por carinho e respeito.
Nos últimos anos de vida do pai, diagnosticado com câncer no pulmão, Ney se dedicou a cuidar dele. Ia visitá-lo com frequência, levava sorvete e passava horas conversando. Foi nesse contexto de proximidade que o pai reconheceu suas falhas e pediu desculpas pela dureza com que criou os filhos.
“Eu cuidava dele. Não guardei ressentimento. Era meu pai, antes de tudo”, afirmou o cantor, selando uma trajetória marcada por dor, mas também por reconciliação.
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