Monstro: A História de Ed Gein – As principais distorções e exageros da série

A série Monstro: A História de Ed Gein, terceira temporada da antologia criada por Ryan Murphy, chegou à Netflix cercada de polêmicas. O principal motivo? A forma como o programa altera, dramatiza e até inventa partes inteiras da vida do assassino Ed Gein, transformando fatos históricos em pura ficção televisiva.

Enquanto as duas temporadas anteriores — dedicadas a Jeffrey Dahmer e aos irmãos Menendez — já haviam sido criticadas por distorcer a realidade, o novo capítulo parece ter ido ainda mais longe. A promessa de retratar fielmente um dos casos mais infames da história criminal americana deu lugar a uma narrativa repleta de erros, invenções e exageros.

O romance inventado com Adeline Watkins

Monstro: A História de Ed Gein reacende mistério sobre Adeline Watkins, sua suposta namorada

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Uma das maiores invenções da série é o suposto romance entre Ed Gein e Adeline Watkins. Na produção, os dois vivem uma relação intensa que inclui noivado, cumplicidade nos crimes e até encontros em cemitérios. Nada disso, no entanto, é comprovado historicamente.

Adeline existiu, mas nunca foi noiva de Gein. Ela mesma chegou a afirmar, em uma entrevista antiga, que o via apenas como um conhecido e que havia rejeitado seu pedido de casamento. Anos depois, desmentiu até mesmo o noivado, alegando que eram apenas amigos. Ed Gein, por sua vez, nunca comentou publicamente sobre a jovem.

A ficção de Ryan Murphy ainda adiciona outro elemento inexistente: a parceria de Adeline nos crimes e o fato de ela supostamente ter conseguido para Gein um emprego como babá — algo sem qualquer base nos registros reais.

Robert Bloch e o mito de Psicose

Monstro: A História de Ed Gein - As principais distorções e exageros da série

A série também exagera ao retratar o autor Robert Bloch, criador de Psicose, como um estudioso da mente de Gein. No enredo, Bloch aparece teorizando sobre a psicologia do assassino e afirmando que suas obras foram inspiradas diretamente nele.

Na realidade, Bloch pouco sabia sobre Gein. Ele morava a poucos quilômetros da cidade onde os crimes ocorreram e apenas se inspirou na ideia de um homem aparentemente comum que escondia um segredo terrível. O escritor chegou a admitir que o personagem Norman Bates não era uma representação de Ed Gein, mas uma criação própria, apenas vagamente influenciada pelos fatos reais.

A falsa parceria entre Gein e Ted Bundy

Outro ponto completamente fictício é o episódio em que Ed Gein ajuda o FBI a capturar Ted Bundy. A produção sugere uma colaboração entre os dois casos, algo digno de um thriller policial, mas totalmente infundado.

Gein nunca manteve contato com a polícia federal, tampouco com outros assassinos em série. Embora suas entrevistas tenham sido estudadas por criminologistas, não há registro de que ele tenha auxiliado investigações de outros crimes. A inclusão de Bundy é um recurso puramente narrativo, usado para conectar universos criminais distintos, algo mais próximo de Mindhunter do que da realidade.

O caso de Evelyn Hartley

Monstro: A História de Ed Gein - A verdade sobre o desaparecimento de Evelyn Hartley

Na série, a cantora e atriz Addison Rae interpreta Evelyn Hartley, uma jovem de 15 anos que desaparece misteriosamente e acaba ligada aos crimes de Gein. O problema é que, apesar de o desaparecimento de Hartley ter sido real, nunca houve provas de que Gein tenha tido qualquer envolvimento.

A teoria de que ele matou Evelyn como vingança por ter perdido um trabalho de babá é completamente infundada. Além disso, os dois sequer moravam em cidades próximas, o que tornaria improvável qualquer tipo de contato. O caso Hartley permanece sem solução, e muitos investigadores acreditam que mais de uma pessoa esteve envolvida no crime — o que reforça o caráter ficcional da abordagem da série.

Christine Jorgensen e o mito da obsessão

Monstro: A História de Ed Gein - As principais distorções e exageros da série

Outro equívoco de Monstro: A História de Ed Gein é o retrato da suposta fascinação de Gein por Christine Jorgensen, uma mulher trans que é publicamente conhecida por ter sido a primeira pessoa nos Estados Unidos a passar por uma cirurgia de redesignação sexual

Embora Gein tivesse em casa recortes de jornais sobre cirurgias de redesignação sexual, não há indícios de que fosse obcecado por Jorgensen. A série chega a mostrar Adeline oferecendo a ele um livro da própria Christine — obra que, na realidade, foi publicada somente após a prisão de Gein.

A verdade sobre a morte de Henry Gein

Ed Gein e Ted Bundy: a verdade por trás da conexão mostrada em Monstro: A História de Ed Gein

A produção também dramatiza a morte de Henry, irmão de Ed, sugerindo que ele foi assassinado durante um incêndio. A autópsia real, no entanto, apontou asfixia e queimaduras superficiais como causa da morte. Apesar de existirem rumores sobre possíveis sinais de violência, a polícia nunca conseguiu comprovar que Ed tenha matado o irmão.

Na série, a cena é usada para reforçar a imagem de Gein como um psicopata em ascensão, mas os fatos históricos não sustentam essa versão.

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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.