Miles Heizer fala sobre o futuro de Boots e o impacto da série LGBTQIA+ da Netflix

O ator Miles Heizer está vivendo um momento especial na carreira. Após estrelar a série Boots, sucesso recente da Netflix, o intérprete de Cameron Cope reflete sobre o impacto da produção e comenta as possibilidades de uma segunda temporada. Inspirada no livro The Pink Marine, de Greg Cope White, a trama acompanha um jovem gay que se alista nos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos em 1990, período em que pessoas LGBTQIA+ eram oficialmente proibidas de servir abertamente nas Forças Armadas.

A primeira temporada, lançada em outubro, recebeu elogios da crítica e conquistou 92% de aprovação no Rotten Tomatoes. O público também respondeu com entusiasmo, especialmente por se tratar de uma das últimas produções supervisionadas pelo lendário produtor Norman Lear, falecido em 2023 aos 101 anos.

Um retrato de coragem em tempos hostis

Boots - As principais mudanças da série em relação ao livro

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Heizer interpreta Cameron, um adolescente confuso e impulsivo que decide se alistar ao lado do melhor amigo, Ray McAffey (vivido por Liam Oh), em busca de fuga de uma vida familiar turbulenta. O personagem encontra nos quartéis um ambiente ainda mais desafiador, onde precisa esconder sua sexualidade para sobreviver.

A série se passa poucos anos antes da criação da controversa política “Don’t Ask, Don’t Tell”, implementada em 1994 durante o governo de Bill Clinton, que permitia a presença de pessoas LGBTQIA+ no Exército apenas se elas não revelassem sua orientação sexual. A norma, considerada um compromisso político entre alas conservadoras e progressistas, acabou se tornando um símbolo da repressão institucional, sendo finalmente revogada em 2011, sob a presidência de Barack Obama.

Para Heizer, essa linha do tempo ainda oferece muito material para explorar. “Existem inúmeras histórias para contar, desde as experiências de Greg nos Fuzileiros até o impacto e a posterior revogação de Don’t Ask, Don’t Tell. Eu faria dez temporadas, se a Netflix deixasse”, afirmou o ator em entrevista à Variety.

Um elenco e uma equipe marcados pela diversidade

Entenda o final de Boots

“Boots” também chamou atenção por reunir uma equipe majoritariamente queer tanto diante quanto atrás das câmeras. O elenco inclui nomes como Max Parker, Vera Farmiga, Cedrick Cooper e Ana Ayora, além de Angus O’Brien, que interpreta um recruta com comportamento provocador e hiper-masculinizado.

Heizer destacou o significado dessa representatividade nos bastidores. “É muito raro ver tantos profissionais LGBTQIA+ e mulheres trabalhando juntos em um projeto desse porte. A energia era diferente, havia uma sensação de propósito coletivo”, comentou.

Essa autenticidade se refletiu na recepção da série, que foi elogiada por retratar a vulnerabilidade dos jovens soldados sem cair em estereótipos. A crítica também destacou a habilidade da produção em equilibrar drama, humor e comentários sociais.

Do medo à libertação: a experiência pessoal de Miles Heizer

Boots - As principais mudanças da série em relação ao livro

A jornada de Heizer com Boots é pessoal. O ator, que ficou conhecido por 13 Reasons Why, assumiu publicamente sua homossexualidade aos 19 anos, após uma infância marcada por dificuldades. Ele conta que cresceu em uma família conservadora e religiosa em Kentucky, ao lado da mãe e da irmã Moriah, antes de se mudar para Los Angeles.

“Foi um processo doloroso. Todos ficaram muito abalados quando me assumi. Tive sorte de ter minha irmã ao meu lado, ela foi meu maior apoio”, relembrou o ator em entrevista à Variety. Hoje, ele encara o passado com distanciamento e gratidão, destacando a importância de projetos como “Boots” para ampliar a empatia do público.

“Recebo mensagens de pessoas que serviram nas Forças Armadas e dizem se reconhecer na história. É incrível ver como uma série pode criar pontes entre experiências tão distintas”, contou Heizer, emocionado.

Entre a ficção e a atualidade

O que aconteceu com Cam Cope depois do final de Boots

Embora ambientada nos anos 1990, “Boots” dialoga diretamente com o cenário político contemporâneo. Durante as gravações, iniciadas em 2023, Heizer e o elenco perceberam que as discussões sobre inclusão e direitos LGBTQIA+ voltavam ao centro do debate público.

“Não imaginávamos que a série seria tão atual. Enquanto filmávamos, novas restrições começaram a surgir para pessoas trans no serviço militar. É frustrante perceber que, décadas depois, ainda enfrentamos os mesmos dilemas”, disse o ator.

Essa relevância contemporânea, segundo ele, foi um dos fatores que garantiram à série uma resposta tão positiva. “Apesar de ser ambientada em 1990, Boots reflete o que ainda está acontecendo hoje. Isso a torna poderosa e, ao mesmo tempo, profundamente triste.”

A expectativa por uma nova temporada

Até o momento, a Netflix ainda não confirmou oficialmente a segunda temporada, mas Heizer se mantém otimista. “Temos muito mais para mostrar. O primeiro ano termina quando Cameron e Ray completam o treinamento, em meio à invasão do Kuwait pelo Iraque. Há todo um universo para explorar dali em diante”, adiantou o ator.

Para ele, “Boots” ainda está apenas começando a contar sua história. “É uma série sobre coragem e identidade, mas também sobre amizade, amor e a luta por pertencimento. Se tivermos a chance, podemos acompanhar essa trajetória por muito tempo.”

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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.