Ney Matogrosso foi o rosto, a voz e a ousadia que catapultaram o Secos & Molhados para o estrelato em 1973. Com maquiagem pesada, figurinos andróginos e uma postura desafiadora, Ney se tornou o centro das atenções em meio à repressão da ditadura militar. Mas, após a sua saída do grupo no ano seguinte, a pergunta que perdura é: o que aconteceu com os outros integrantes da banda?
A ruptura com Ney e o fim da formação original
A saída de Ney Matogrosso do Secos & Molhados não foi apenas uma decisão artística, mas também consequência de conflitos empresariais e divergências financeiras. O cantor se opôs à substituição do empresário original pelo pai de João Ricardo, líder e idealizador do grupo. Além disso, o modelo de divisão equitativa dos ganhos, antes sustentado pelo espírito coletivo, foi abalado quando questões autorais passaram a pesar mais.
Enquanto Ney brilhava nos palcos, a sua postura provocativa incomodava parte do público e até mesmo colegas de banda. Segundo ele, chegou a ser confrontado por outros integrantes, que temiam que o grupo fosse rotulado como exclusivamente homossexual. Ney se manteve firme. Disse que os outros que se explicassem, pois ele não mudaria sua performance. A tensão era inevitável.
Com a gravação do segundo disco concluída, Ney deixou a banda junto a Gerson Conrad. João Ricardo, detentor dos direitos sobre o nome Secos & Molhados, seguiu tentando manter o projeto vivo com novas formações — sem o mesmo impacto.
As formações posteriores e a nova tentativa em 1978
Em 1977, uma nova configuração da banda foi formada. João Ricardo reuniu músicos que já o acompanhavam em projetos paralelos, como o guitarrista Wander Taffo e o baixista João Ascensão. O baterista Gelson Fernandes, vindo da banda Os Incríveis, e o vocalista Norival Rodrigues, conhecido como Lili, completavam a nova formação. A voz aguda e o porte físico de Lili evocavam a lembrança de Ney, e a expectativa da gravadora era alta.
O disco lançado em 1978 tentou acompanhar a febre disco da época. Canções como Que Fim Levaram Todas as Flores? e De Mim Para Você ganharam destaque, com direito a exibição no Fantástico. No entanto, o sucesso midiático não se traduziu em uma carreira sólida. Faltaram shows, planejamento e, mais uma vez, houve divergências internas sobre direitos e lucros.
Segundo relatos dos próprios músicos, o fim se consolidou quando tentaram renegociar a forma de remuneração, reivindicando participação nos lucros. João Ricardo recusou. Para ele, o Secos & Molhados sempre foi uma criação pessoal, com músicos colaboradores ao redor de sua visão artística. A banda se dissolveu.
O destino dos músicos
Após a ruptura, os ex-integrantes formaram o grupo Sobrinhos da Rainha, nome irônico que fazia alusão ao comportamento centralizador de João Ricardo. O projeto, apesar de promissor, não encontrou apoio de gravadoras. Sem shows, com dificuldades financeiras e sem perspectivas, a banda minguou.
O baixista João Ascensão abandonou a música e retomou os estudos. Hoje é engenheiro elétrico. Wander Taffo e Gel Fernandes seguiram juntos e foram convidados por Rita Lee para integrar sua banda. Mais tarde, fundaram o Rádio Táxi, sucesso nos anos 80. Taffo faleceu em 2008, vítima de mal súbito, enquanto Gel permanece ativo na banda.
Já Norival Rodrigues, o Lili, mergulhou em uma trajetória melancólica. Após o fracasso dos Sobrinhos, tentou empreendimentos próprios, como uma loja de roupas, e trabalhou em bares de Campinas como cantor. No entanto, envolveu-se com álcool e drogas. Isolado, afastou-se até de seus antigos amigos e morreu em 2010, de cirrose hepática. Sua história foi por muito tempo um enigma, até que familiares e amigos o localizaram com a ajuda de reportagens. A memória de Lili, hoje, resiste na lembrança de poucos.
João Ricardo e a continuidade do nome
Após a saída de Ney, João Ricardo manteve a marca Secos & Molhados sob sua tutela. Continuou lançando álbuns com diferentes formações, mas sem recuperar o impacto cultural e comercial dos anos 1970. A posse do nome resultou, décadas depois, em disputas judiciais que reverberam até hoje. Houve embates sobre o uso de músicas e imagens em documentários, livros e produções audiovisuais.
Na cinebiografia Homem com H, que estreou em 2023, todas as músicas solicitadas foram liberadas para uso, embora João Ricardo não tenha participado da produção nem autorizado o uso de sua imagem em outras obras recentes.
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