Ney Matogrosso, um dos maiores nomes da música nacional, é o centro da cinebiografia Homem com H, que estreou nos cinemas em 1º de maio e já está disponível na Netflix. O longa-metragem, dirigido por Esmir Filho e estrelado por Jesuíta Barbosa, percorre a vida do artista desde a infância até sua consagração como símbolo de liberdade e vanguarda no cenário artístico. Entre os diversos episódios retratados no filme, um dos mais marcantes é o breve, porém intenso, relacionamento vivido com outro ícone da MPB: Cazuza.
O encontro que mudou tudo
O primeiro contato entre Ney e Cazuza aconteceu em 1979. Na época, Ney já era uma figura consagrada pelo grupo Secos & Molhados, enquanto Cazuza, então com 17 anos, ainda era um jovem em formação artística. Segundo Ney relatou em entrevista à revista Época, o início foi despretensioso, quase casual, em um encontro onde ambos fumavam um baseado e tomavam Mandrix. No meio da conversa, Cazuza perguntou se poderia ganhar um beijo. Ney aceitou, e foi ali que algo profundo se acendeu. “O mundo se apagou ao redor”, lembra o cantor, descrevendo o início de um laço que transcenderia o tempo.
Um amor breve, mas inesquecível
A relação durou apenas três meses, mas Ney sempre fez questão de ressaltar sua intensidade. Em entrevistas, ele conta que se apaixonou profundamente por Cazuza, mas reconhece as dificuldades de convivência. “Era complicado lidar com os dois Cazuzas: o da imagem pública, desregrado e provocador, e o da intimidade, doce, carinhoso, encantador”, relatou à revista Veja. Mesmo com os choques de personalidade e episódios de conflito – como uma briga que terminou com Cazuza cuspindo em Ney e este lhe dando um tapa – o respeito e o amor entre os dois se mantiveram vivos. O vínculo afetivo persistiu, mesmo depois do fim do relacionamento sexual, transformando-se em amizade sólida.
A despedida marcada pela ternura
O filme Homem com H retrata, entre outros momentos, os últimos dias de vida de Cazuza. Já debilitado pela Aids, ele recebia visitas frequentes de Ney, que fazia questão de cuidar dele com delicadeza e carinho. O artista recorda que chegou a massagear os pés do ex-companheiro quando este já não conseguia mais se levantar. A despedida foi dolorosa: Cazuza faleceu dois dias antes de Marco de Maria, outro grande amor da vida de Ney, também vítima do HIV. As perdas quase simultâneas marcaram profundamente o cantor, que se emocionou ao ver essas cenas sendo reconstituídas nas filmagens.
Reparando uma lacuna do cinema nacional
Um dos méritos do novo filme é resgatar essa história que havia sido ignorada por outra cinebiografia. Em Cazuza – O Tempo Não Para, de 2004, Ney Matogrosso sequer é mencionado. À época, os realizadores justificaram dizendo que Ney era “grande demais para caber no filme” — uma explicação que não convenceu o artista e o deixou incomodado. Com Homem com H, essa omissão finalmente é corrigida. A relação é mostrada com a delicadeza e a profundidade que merece, revelando um Cazuza diferente do estereótipo público: mais terno, íntimo e amoroso.
A sensibilidade dos bastidores
O ator Jullio Reis, que dá vida a Cazuza no longa, buscou incorporar justamente esse lado menos conhecido do cantor. Segundo ele, Ney descrevia Cazuza como alguém de olhar doce, de gestos suaves e fala mansa — características que contrastam com a imagem rebelde que marcou sua carreira. O cuidado da produção em mostrar esse contraste também se reflete na escolha de cenas que representam momentos de cumplicidade e afeto entre os dois artistas, como a montagem da última turnê de Cazuza, O Tempo Não Para, dirigida pelo próprio Ney.
Uma história de amor que transcende a morte
Para Ney Matogrosso, Cazuza foi um divisor de águas. Em suas palavras, foi a partir dele que entendeu ser possível se apaixonar de verdade por alguém. Apesar de breve, o relacionamento deixou marcas duradouras. “Hoje seríamos amigos como fomos até o fim da vida dele. A morte não apaga essas coisas de dentro da gente”, afirmou o cantor. Homem com H não apenas celebra a trajetória de um artista irreverente, mas também presta um tributo a um amor verdadeiro, complexo e inesquecível — como tantos vividos longe dos holofotes.
Confira também:
- Os melhores filmes da Marvel e da DC
- Séries que você precisa assistir se gostou de Virgin River
- Séries que você precisa assistir se gostou de 1992
- K-Dramas que você precisa assistir se gostou de Meninos Antes de Flores
- Séries que você precisa assistir se gostou de Irracional