Na terceira temporada de The White Lotus, a jornada dos irmãos Ratliff chega ao fim com uma cena final que, apesar de silenciosa e simbólica, fala alto sobre suas transformações internas. Embora o passeio de barco que encerra a temporada lembre o início da viagem da família à Tailândia, a maneira como Saxon, Piper e Lochlan ocupam seus lugares — literal e emocionalmente — revela mudanças profundas em suas personalidades e dinâmicas familiares.
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Uma despedida espelhada: os sinais na composição da cena
Os irmãos Ratliff deixam o resort tailandês no mesmo tipo de barco com o qual chegaram, mas agora sentados em ordem invertida, refletindo uma reconfiguração simbólica de suas relações. Se no primeiro episódio Saxon estava à esquerda, Piper ao centro e Lochlan à direita — ecoando a hierarquia entre eles e o provérbio “não veja o mal, não ouça o mal, não fale o mal” —, agora os papéis se invertem.
Lochlan, agora à esquerda com óculos escuros, representa o novo “não veja o mal”, indicando uma recusa em encarar a própria escuridão. Piper, ainda no centro, mas atenta ao mundo ao redor, mostra-se mais aberta e consciente. Já Saxon, à direita e sem os óculos, lê um livro deixado por Chelsea — uma referência direta ao seu despertar espiritual. A posição e os adereços de cada um são pistas visuais das transformações que viveram ao longo da temporada.
Saxon: do hedonismo ao vazio existencial
Saxon Ratliff chegou à Tailândia como o retrato do privilégio inconsequente: sedento por festas, mulheres e ostentação. Contudo, o episódio traumático em que ele e o irmão Lochlan se envolvem sexualmente durante uma noite de excessos força Saxon a encarar a própria alma — ou a ausência dela. A conversa com Chelsea, que o chama de “sem alma”, serve como espelho cruel e libertador.
O encontro com a espiritualidade, simbolizado pela meditação com Chelsea e pela leitura do livro que ela lhe dá, marca um ponto de virada. No barco, ao dispensar os óculos escuros e mergulhar na leitura, Saxon indica que começou a ver além das aparências. Sua jornada sugere um desejo genuíno de se tornar alguém melhor, ou ao menos alguém que finalmente enxerga o próprio vazio.
Piper: entre o idealismo e a aceitação
Piper, desde o início, era a mais crítica à superficialidade de sua família. Ela buscava uma vida com mais propósito, mais verdadeira, longe das amarras do luxo e do dinheiro. No entanto, sua estadia na Tailândia a confronta com a realidade de que também encontra conforto nesse estilo de vida.
Ao invés de fugir, Piper aprende a aceitar suas contradições. Ela não se transforma radicalmente, mas encontra equilíbrio entre o desejo de autonomia e a compreensão de suas raízes. Sua nova postura mais confiante no barco, com um leve brilho no olhar e uma segurança renovada, sugere que encontrou uma forma mais autêntica de ser dentro de seu próprio contexto.
Lochlan: da confusão à introspecção
Lochlan começa a temporada como o mais perdido dos três. Sem saber quem é, o que quer, ou como se posicionar no mundo, ele é facilmente influenciado por Saxon, por Piper e pelos próprios desejos confusos. Sua jornada passa por experimentações intensas — incluindo sexo, drogas e até uma experiência de quase morte ao ingerir acidentalmente veneno.
Essa quase morte, descrita como uma visão de Deus, marca o ponto mais transformador de sua trajetória. Mesmo assim, ao fim da temporada, Lochlan ainda carrega resistências. Seus óculos escuros na cena final indicam que, embora tenha ganhado voz e autonomia, ainda teme olhar para dentro. Seu processo de amadurecimento está em andamento, e será provavelmente o mais longo e doloroso.
O silêncio que diz tudo: o que não é mostrado também importa
Um dos elementos mais intrigantes do episódio final é o que não vemos: a reação dos filhos à revelação de Tim sobre seus crimes e a iminente ruína financeira da família. A série opta por não mostrar esse momento explícito, confiando no arco de transformação dos personagens para sugerir como cada um lidará com a nova realidade.
Tim aparece no barco apenas preparando o terreno para a revelação. O que virá a seguir, sabemos, será um teste de fogo — principalmente para Victoria, a matriarca interpretada por Parker Posey, cuja dependência emocional e material do dinheiro é constante ao longo da temporada.
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