Entenda o final do episódio 3 da 7ª temporada de Black Mirror

O terceiro episódio da sétima temporada de Black Mirror, intitulado Hotel Reverie, mergulha em uma história de amor improvável, construída dentro dos limites da ficção digital. Estrelado por Issa Rae no papel de Brandy, o episódio propõe um olhar sensível e perturbador sobre as conexões humanas mediadas por tecnologia. O desfecho, carregado de emoção e ambiguidade, foi interpretado pela própria atriz como algo “triste e agridoce” — longe de um final feliz convencional.

Brandy é inserida em um filme — e em um romance improvável

A trama gira em torno de Brandy, uma atriz que participa da refilmagem do clássico fictício Hotel Reverie. Por meio de um sistema chamado Re:Dream, ela é digitalmente inserida no filme original para substituir um dos atores. Contudo, uma falha no processo faz com que Brandy fique presa dentro do universo do longa. É nesse espaço simulado que ela conhece Clara (vivida por Emma Corrin), outra figura digital com quem desenvolve uma relação intensa e apaixonada.

Ao longo da narrativa, a conexão entre Brandy e Clara cresce, mesmo com o pano de fundo irreal do mundo cinematográfico. A série mais uma vez utiliza uma premissa tecnológica para explorar sentimentos genuínos — e, desta vez, trata-se do amor surgido em circunstâncias artificiais, mas com impacto real.

O retorno à realidade e a solidão do que foi vivido

O episódio caminha para sua conclusão quando Brandy consegue ser retirada do mundo virtual. No entanto, esse retorno à realidade vem com um custo alto: Clara permanece presa no universo digital, e suas memórias da relação com Brandy são completamente apagadas. Restam à protagonista apenas as lembranças de um amor que parece ter acontecido só para ela.

Issa Rae, em entrevista concedida durante uma mesa-redonda com a imprensa, classificou o final como melancólico. Para a atriz, o que torna a experiência ainda mais triste é o fato de que Brandy não pode compartilhar sua história com ninguém sem parecer insana — e tampouco poderá vivê-la novamente com Clara nos mesmos termos. Ainda assim, ela reconhece que o sentimento foi autêntico, mesmo que isolado no tempo e na ficção.

Uma ligação simbólica — e uma esperança tênue

Na última cena do episódio, Brandy utiliza um telefone especial para se conectar com Clara. Do outro lado da linha, a personagem digital não a reconhece, mas, de forma gentil, oferece tempo e escuta para que Brandy se explique. “Você tem uma voz gentil”, diz Clara, indicando que algo no subconsciente ainda ecoa.

Esse momento final, segundo Rae, é onde reside a beleza do episódio. Embora separadas por realidades distintas e pela falha de memória de Clara, a possibilidade de reconexão — mesmo que parcial — traz uma ponta de ternura. Mas a atriz reforça: não se trata de uma resolução feliz, e sim de uma lembrança da fragilidade dos vínculos quando atravessados por barreiras tecnológicas intransponíveis.

Uma versão sombria de San Junipero

Apesar das semelhanças temáticas com o aclamado episódio San Junipero, que também aborda um amor nascido em ambiente virtual, Hotel Reverie opta por uma abordagem mais amarga. Ao invés da promessa de eternidade digital, o que se vê aqui é a impossibilidade da continuidade: uma conexão profunda rompida por limitações impostas pela própria tecnologia que a possibilitou.

O episódio evita reviravoltas chocantes, característica comum da série, e aposta em um impacto emocional mais sutil, porém devastador. A separação final entre Brandy e Clara simboliza a distância entre mundos que jamais poderão se tocar plenamente — uma metáfora poderosa sobre amores que não resistem às transformações do tempo, da memória e da realidade.

Confira também:

• Quando a ficção vira realidade: uma análise de Black Mirror – Tendências tecnológicas já existentes hoje
• Os melhores episódios de Black Mirror

Black Mirror é uma série de televisão britânica antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker e centrada em temas obscuros e satíricos que examinam a sociedade moderna, particularmente a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias.

A série está disponível na Netflix.