O drama Um Limite Entre Nós, estrelado e dirigido por Denzel Washington, chegou recentemente à Netflix, reacendendo o interesse por um dos filmes mais impactantes de 2016. Baseado na peça homônima de August Wilson, vencedora do Prêmio Pulitzer, o longa acompanha a trajetória da família Maxson nos anos 1950, abordando temas como frustrações, conflitos geracionais, racismo estrutural e as tensões dentro da dinâmica familiar. O desfecho da história, carregado de simbolismo e emoção, traz diversas camadas de interpretação.
A reta final do filme: perdas e reconciliações silenciosas
Troy Maxson, interpretado por Denzel Washington, é o personagem central de toda a narrativa. No clímax do filme, ele revela à esposa Rose (Viola Davis) que manteve um caso extraconjugal com uma mulher chamada Alberta, que acabou engravidando. A revelação provoca uma ruptura emocional na relação do casal, que, mesmo ferido, tenta manter algum grau de unidade familiar. Alberta morre ao dar à luz, e Rose, em um gesto de compaixão, aceita criar Raynell, filha do marido com a amante.
Pouco depois, Troy se confronta com Cory, seu filho, em uma discussão acalorada que termina com os dois em conflito físico. Logo em seguida, há uma mudança repentina de tempo: seis anos se passam, e a narrativa avança para o dia do funeral de Troy. Ele faleceu de um ataque cardíaco no quintal de casa, e agora sua família se reúne para prestar as últimas homenagens. Cory, que se alistou nos fuzileiros navais nesse intervalo de tempo, reluta em participar do funeral, refletindo o ressentimento que ainda carrega pelo pai.
O simbolismo da cerca nunca finalizada
O título do filme não é aleatório. Ao longo da história, Troy e Rose se dedicam à construção de uma cerca no quintal, mas ela jamais é finalizada. Essa cerca é mais do que um elemento físico; representa os desejos, limites e muros emocionais que separam e, ao mesmo tempo, tentam proteger os membros da família.
Para Rose, a cerca simboliza sua tentativa de manter a família unida em torno de um núcleo seguro, uma família que ela nunca teve de forma completa em sua infância. Para Cory, o mesmo elemento representa aprisionamento, uma limitação imposta por um pai que constantemente desacredita de seus sonhos. Já para Troy, a cerca é ambígua: ao mesmo tempo que tenta preservar o que lhe resta da família, ele sabota sua própria construção simbólica ao projetar suas frustrações sobre os filhos e trair a esposa.
A canção “A Dog Named Blue” e as camadas do afeto
No desfecho do filme, Cory e Raynell, a filha adotiva de Rose, cantam juntos “A Dog Named Blue”. A música conta a história de um cachorro fiel que vive em busca da aprovação do dono. A letra da canção é carregada de significado, especialmente no contexto do relacionamento entre Troy e Rose.
Em determinado momento da história, Troy exige a atenção da esposa, esperando obediência quase automática. Quando Rose se recusa a atender imediatamente ao seu chamado, ele se irrita, e ela responde dizendo que não é um cão. O paralelo com a música ganha ainda mais força no final, quando Cory, ao ouvir a canção, compreende melhor as relações afetivas marcadas por obediência e silêncio, refletindo sobre as dores deixadas pelo pai.
A herança emocional de um pai falho
Troy é um personagem complexo, marcado por contradições profundas. Ele vive frustrado por não ter conseguido seguir carreira no beisebol, e projeta esse fracasso nos filhos, especialmente em Cory, tentando impedir que o jovem siga o caminho no esporte. A justificativa de Troy é a busca pela segurança e estabilidade, mas, na prática, ele sabota os sonhos do filho e reprime sua individualidade.
Ao mesmo tempo, Troy é guiado por um rígido senso de dever. Em uma das falas mais emblemáticas do filme, ele afirma que não precisa gostar do filho, apenas sustentá-lo. Essa visão de paternidade, baseada apenas na obrigação e não no afeto, molda toda a sua conduta e afeta profundamente os vínculos familiares. O resultado é um homem que acredita estar fazendo o melhor para os seus, mas que, na verdade, cria barreiras emocionais quase intransponíveis.
A redenção silenciosa
No funeral, a presença de todos os membros da família no quintal onde a cerca inacabada permanece é um retrato simbólico das feridas que ainda cicatrizam. Cory, embora inicialmente recuse ir ao enterro, é convencido a participar, sinalizando uma tentativa de reconciliação com o passado. A cena final, em que o tio Gabriel toca a trombeta em direção ao céu, remete à ideia de uma possível redenção espiritual para Troy, sugerindo que, apesar de seus erros, ainda há espaço para o perdão.
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