A série O Eternauta, da Netflix, encerra sua primeira temporada com um final enigmático e repleto de camadas, deixando o espectador com mais perguntas do que respostas. Baseada na aclamada HQ argentina de Héctor Germán Oesterheld e Francisco Solano López, a adaptação mistura ficção científica, tensão psicológica e crítica social em um cenário apocalíptico. Ao longo de seus episódios, a produção constrói uma narrativa que, embora comece de forma familiar ao gênero, surpreende por seus desdobramentos inesperados.
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A ameaça alienígena vai além do que se imagina
O ponto de virada na trama ocorre quando Juan Salvo, protagonista vivido por Ricardo Darín, começa a perceber que os horrores enfrentados pelos sobreviventes não se limitam aos efeitos de uma catástrofe ambiental. No início, os besouros gigantes são apresentados como os principais vilões, mas o comportamento dos insetos, que evitam atacar certos humanos, revela que algo muito maior está por trás dos ataques.
Essa revelação se concretiza em Campo de Mayo, base militar onde Juan percebe que parte da população está sob influência de uma entidade alienígena. Essa criatura, de aparência humanoide e dedos alongados, utiliza uma espécie de melodia hipnótica para controlar tanto os humanos quanto os insetos. Ainda não se sabe o objetivo exato dessa invasão silenciosa, mas o uso de controle mental, em vez de força bruta, indica uma estratégia cuidadosamente orquestrada.
Juan e o enigma do tempo
Outro elemento que confere profundidade ao enredo é o papel do tempo na trajetória de Juan. Desde os primeiros episódios, ele vivencia momentos de déjà vu e visões que sugerem uma conexão com o futuro ou com outras linhas temporais. Inicialmente interpretadas como sintomas de estresse pós-traumático, essas visões ganham um novo peso ao final da temporada.
O protagonista dá indícios de estar preso em um ciclo temporal, talvez condenado a reviver os eventos em busca de uma saída para salvar sua família. Essa característica remete a outras obras do gênero, como o filme A Chegada, onde a percepção do tempo se altera após o contato com seres extraterrestres. Em O Eternauta, a repetição dos eventos pode não ser apenas simbólica, mas parte da própria essência do personagem, sugerindo que ele seja, literalmente, um viajante eterno.
Clara: entre a humanidade e o controle alienígena
A filha de Juan, Clara, também ganha destaque nos momentos finais. Em uma das últimas cenas, ela aparece empunhando uma arma ao lado de outros humanos sob treinamento militar, sugerindo que foi capturada pela força alienígena. Seus comportamentos anteriores já indicavam sinais de influência externa, com lapsos de memória e falas desconexas sobre seus amigos desaparecidos.
Essa ambiguidade sobre sua consciência – se ela está totalmente dominada ou apenas parcialmente – abre espaço para um possível resgate ou reviravolta em sua trajetória. Juan, ciente do futuro que se aproxima, pode tentar impedir que a filha seja consumida pela mesma força que ameaça o restante da humanidade.
A invasão começou muito antes do esperado
O que mais chama atenção na construção da ameaça alienígena é o fato de ela não ter começado com uma explosão ou ataque direto. A primeira fase da invasão envolveu a manipulação do campo magnético da Terra, o que levou à liberação de partículas radioativas fatais. A destruição da tecnologia e da comunicação entre os sobreviventes contribuiu para o isolamento, o medo e o colapso da organização social.
Somente após esse enfraquecimento geral da civilização é que os invasores introduziram suas armas biológicas – os besouros – e, por fim, utilizaram o controle mental para assumir o comando de grupos humanos. Esse processo meticuloso diferencia O Eternauta de outras produções do gênero, destacando a dimensão estratégica da dominação.
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