Poucos filmes recentes provocaram tanta análise e debate quanto The Brutalist, obra de 215 minutos dirigida por Brady Corbet. A produção acompanha a trajetória de László Tóth, arquiteto húngaro e sobrevivente do Holocausto, interpretado por Adrien Brody, que emigra para os Estados Unidos em busca de recomeço, mas acaba se envolvendo em uma relação devastadora com o magnata Harrison Lee Van Buren, vivido por Guy Pearce. O desfecho do longa, denso e carregado de simbolismos, mistura tragédia pessoal, reflexão histórica e a eterna disputa entre arte e poder.
O ponto de ruptura: a violência de Harrison
A relação entre László e Harrison é marcada por tensão desde o início, mas ganha contornos ainda mais sombrios quando o industrialista subjuga o arquiteto em uma viagem à Itália. O estupro cometido por Harrison não apenas expõe a perversidade do empresário, como também desencadeia a derrocada emocional de László. Consumido pela dor e pelo vício, ele chega a colocar em risco a vida da esposa, Erzsébet, ao aplicar nela uma dose de heroína após a falta de remédios.
Apesar da crise, Erzsébet encontra forças para confrontar Harrison publicamente, acusando-o diante de sua família e empregados. O magnata, incapaz de lidar com a perda de poder, desaparece misteriosamente, sem que o filme revele seu destino. Essa ausência abre espaço para diferentes interpretações: fuga, suicídio ou simplesmente a incapacidade de encarar a vergonha.
A trajetória de Erzsébet e sua ausência no epílogo
Após sobreviver à overdose, Erzsébet decide retornar à Europa com o marido. Diagnosticada com osteoporose anos antes, sua saúde segue frágil, e no epílogo ambientado em 1980, ela já não está presente. A ausência sugere que tenha morrido nesse intervalo, deixando László envelhecido e dependente dos cuidados da sobrinha Zsófia.
O epílogo em Veneza e a fala de Zsófia
O último ato acontece durante a Bienal de Arquitetura, quando László é homenageado por sua carreira. Incapaz de discursar por conta da idade e do estado físico, ele vê sua sobrinha assumir a palavra. Zsófia conecta as criações do tio ao trauma vivido nos campos de concentração, revelando que partes do centro comunitário idealizado por Harrison carregam símbolos das prisões nazistas.
No discurso, ela cita uma frase do tio: “O que importa é o destino, não a jornada”. Para Zsófia, esse pensamento resume a vida de László, alguém que atravessou o inferno, mas deixou como legado obras respeitadas. No entanto, o filme sugere uma ironia amarga. A “jornada” de László foi marcada por abusos e exploração, e mesmo seu reconhecimento final não lhe permite controlar a narrativa sobre sua arte, já que mais uma vez alguém fala por ele.
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