Flow, longa animado da Letônia, tornou-se um dos filmes mais comentados do último ano. Após a estreia no Festival de Cannes em 2024, a produção conquistou espaço em premiações internacionais, incluindo um Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Animação, superando gigantes como Pixar e DreamWorks. A vitória inesperada chamou atenção para uma obra que se distancia do modelo clássico da animação americana: não há diálogos explicativos, não há humor simplificado e, sobretudo, não existe a promessa de finais felizes e fechados.
A jornada em um mundo submerso
A narrativa acompanha um gato preto que sobrevive a uma enchente de proporções apocalípticas. Em meio às águas, ele encontra outros animais que, assim como ele, buscam um modo de resistir ao caos: um cachorro dócil, um capivara sonolenta, um lêmure inquieto e uma ave imponente, o secretário. Unidos pelo acaso, os personagens atravessam cidades arruinadas, enfrentam tempestades e descobrem que, em um mundo transformado pela catástrofe, a única forma de seguir adiante é confiar uns nos outros, mesmo sem qualquer palavra trocada.
O papel do secretário na trama
O secretário surge como um dos personagens mais misteriosos. Inicialmente hostil, ele se junta ao grupo após salvar o gato e ser rejeitado pelo próprio bando. Rapidamente assume a função de capitão improvisado, guiando a pequena embarcação e impondo autoridade nas decisões. No entanto, sua trajetória culmina em um destino enigmático: durante uma tempestade, ele consegue alçar voo e, ao lado do gato, alcança o topo de uma torre de pedra. Ali, um fenômeno cósmico altera a gravidade e os dois animais são erguidos em direção a uma luz radiante. Enquanto o gato retorna ao chão, o secretário escolhe atravessar o brilho e desaparece para sempre.
Interpretações para o desfecho do secretário
O momento é um dos mais debatidos pelos espectadores. Há quem veja na cena uma metáfora para a morte: impossibilitado de viver plenamente após perder a asa, o secretário teria encontrado no clarão uma passagem simbólica para o além. Outra leitura sugere que tudo não passou de um sonho do gato, que desmaiou ao cair na água e teria imaginado o sacrifício do companheiro. Uma terceira interpretação, mais espiritual, indica que a ave ofereceu sua vida em troca do equilíbrio natural. Logo após sua partida, as águas começam a baixar, como se sua entrega tivesse apaziguado forças maiores.
O encontro com a baleia e o fim aberto
A ausência do secretário marca a última etapa da narrativa. O gato reencontra os demais sobreviventes, mas agora em um cenário transformado: as águas recuam e revelam uma floresta escondida. No caminho, surge uma baleia monumental, diferente das espécies conhecidas, como se pertencesse a um universo paralelo. O animal, encalhado após a enchente, representa ao mesmo tempo a grandiosidade da natureza e as consequências irreversíveis do desastre. A cena final mostra os quatro amigos diante de um pequeno lago, observando seus reflexos. O enquadramento sugere tanto a união alcançada quanto a fragilidade do futuro que ainda os aguarda.
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