A protagonista de Depois da Caçada, Alma (Julia Roberts), é o centro de uma narrativa que, à primeira vista, parece girar em torno de uma denúncia de assédio, mas que se revela, no fim, uma reflexão profunda sobre verdade, poder e moralidade. Ambientado na Universidade de Yale, o filme dirigido por Luca Guadagnino transforma um enredo típico do movimento #MeToo em algo mais ambíguo, quase filosófico. Quando a trama chega ao seu desfecho, o público não encontra respostas claras, e isso é precisamente o ponto: em Depois da Caçada, mais importante do que descobrir quem mentiu é entender por que ninguém parece inocente.

As consequências da denúncia e a queda de Alma
No início da história, a estudante Maggie (Ayo Edebiri) acusa o professor Hank (Andrew Garfield) de ter ultrapassado os limites após uma festa promovida por Alma, sua mentora. A denúncia provoca uma crise dentro do campus: Hank é demitido, a universidade tenta conter o escândalo e Maggie ganha notoriedade ao expor o caso na imprensa. Alma, por sua vez, tenta manter sua candidatura à vaga de professora titular, mas sua própria conduta acaba vindo à tona. Ao falsificar uma receita médica para conseguir remédios, ela é flagrada e tem a promoção suspensa.
Esses acontecimentos, aparentemente desconectados, revelam o que o filme tem de mais provocador: as punições e os perdões não seguem uma lógica de justiça, mas de conveniência institucional. Enquanto Hank é afastado de forma exemplar para preservar a imagem da universidade, o deslize de Alma é abafado nos bastidores. A mensagem é clara: não há ética em jogo, apenas gestão de danos.
Verdade ou performance?
O roteiro de Nora Garrett evita qualquer tentativa de esclarecer o que realmente ocorreu entre Maggie e Hank. Em vez disso, mostra que cada personagem constrói a própria versão dos fatos, moldando a “verdade” conforme seus interesses. Em uma das cenas mais intensas, Alma confronta Hank em seu apartamento secreto e é forçada a lidar com o comportamento invasivo do colega, que ignora seu pedido para parar de beijá-la. O momento reforça o padrão de desrespeito atribuído a ele, mas sem oferecer a certeza que o público espera.
Guadagnino brinca com essa ambiguidade até o último instante. Ao encerrar o filme com o comando “Corta!”, o diretor quebra a ilusão do real e lembra o espectador de que tudo o que viu foi uma encenação. A dúvida, portanto, não se limita aos personagens; ela se estende ao próprio ato de assistir, questionando o quanto acreditamos no que nos é mostrado.
O passado de Alma e o ciclo da culpa
A espiral de descontrole de Alma culmina em uma confissão devastadora. Após um colapso, ela revela ao marido, Frederik (Michael Stuhlbarg), que, aos 15 anos, teve um relacionamento com um amigo da família e, quando ele terminou, o acusou falsamente de abuso — o que levou ao suicídio do homem. Alma afirma ter inventado a história por vingança, mas Frederik rebate: o que ela chama de “amor” foi, na verdade, abuso.
Essa conversa redefine o filme inteiro. Depois da Caçada mostra que a percepção da verdade é volúvel e que até mesmo quem vive o trauma pode interpretá-lo de forma distorcida. Alma, ao tentar controlar a narrativa de sua própria vida, torna-se prisioneira dela.
O reencontro e o silêncio que resta
Cinco anos depois, a história retorna em um tom quase sereno. Alma, agora reabilitada e promovida a reitora de Yale, reencontra Maggie em um restaurante que Hank costumava frequentar. O diálogo é tenso, mas sem hostilidade. Maggie confessa ter desejado a ruína de Alma e admite nunca ter sabido se queria ser como ela ou estar com ela. Alma escuta com frieza, talvez cansada demais para responder.
O encontro, no entanto, expõe o paradoxo que sustenta Depois da Caçada: os personagens que erraram seguem em posições de poder, enquanto os que denunciaram ou sofreram continuam presos ao passado. Hank, que parecia destruído, agora trabalha confortavelmente na política. Alma ascendeu. Maggie, embora serena, desistiu de buscar justiça.
Quando o filme encerra com a câmera fixada na nota de vinte dólares deixada na mesa, não há redenção, apenas uma constatação amarga: no jogo das aparências, ninguém perde de fato — apenas muda de lugar.
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