A série Adolescência conquistou a crítica com sua abordagem realista e impactante, impulsionada por um roteiro brilhante e uma cinematografia imersiva. Filmada em um plano-sequência contínuo, a produção mantém um clima de tensão e desconforto, onde o silêncio e os momentos de introspecção dos personagens ganham destaque.
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No entanto, um detalhe sutil na trilha sonora revela uma camada ainda mais profunda de emoção: a presença de Katie, a jovem assassinada na trama, está sempre ali, mesmo sem grande tempo de tela. A escolha de músicas estratégicas e a inclusão de sua voz nas composições transformam a experiência do espectador, tornando a perda da personagem ainda mais dolorosa.
As músicas de Adolescência e seus momentos cruciais
A trilha sonora de Adolescência é majoritariamente composta por melodias instrumentais que intensificam a tensão da série. No entanto, três canções marcantes aparecem em momentos-chave, carregadas de significado:
“Fragile” (cover de Sting) – Tocada no final do segundo episódio, essa versão da música é interpretada pelo coral da escola da série, trazendo um tom de luto ao local onde Katie foi brutalmente assassinada. A cena mostra estudantes deixando flores no local do crime, ressaltando a fragilidade da vida e a violência juvenil.
“Take On Me” (A-ha) – No quarto episódio, a canção surge durante uma viagem de carro da família Miller. Ao tocar essa música, Lisa desperta lembranças da adolescência de Eddie e Manda, oferecendo um raro momento de leveza antes da tragédia tomar conta.
“Through the Eyes of a Child” (AURORA) – No momento mais devastador da série, a música embala o choro desesperado de Eddie no quarto de Jamie. A letra, que fala sobre ver o mundo através dos olhos de uma criança, ressoa profundamente com a jornada de Jamie e a maneira distorcida como ele enxergava a realidade antes de cometer o crime.
Cada uma dessas músicas não foi escolhida ao acaso. Elas não apenas reforçam a dor da narrativa, mas também revelam um detalhe oculto: a presença de Katie vai muito além das poucas imagens que vemos dela.
A presença de Katie na trilha sonora
Em entrevista ao Tudum da Netflix, o diretor Philip Barantini revelou um detalhe surpreendente sobre a trilha sonora de Adolescência: a voz de Katie, interpretada pela atriz Emilia Holliday, está presente em várias faixas instrumentais ao longo da série.
Canções como “Adolescence”, “… Do You Believe Me?”, “Walk Back to Class” e “Eddie Breaks” contam com os vocais sutis de Holliday, um lamento suave que ecoa nos momentos mais emocionais da trama. Dessa forma, mesmo sem estar fisicamente presente, Katie continua a existir na narrativa como um espectro silencioso, lembrando os personagens – e o público – da tragédia que aconteceu.
O momento mais marcante ocorre na música “Fragile”, quando a própria Holliday canta um solo no final da faixa. Isso acontece exatamente no local onde sua personagem foi assassinada, trazendo um significado ainda mais forte para a cena. A letra, que diz “on and on / the rain will say / how fragile we are”, sugere que, embora o tempo possa apagar as marcas físicas da violência, as cicatrizes emocionais permanecem para sempre.
A escolha de silenciar Katie e seu impacto na narrativa
A ausência de Katie na tela foi uma decisão intencional dos criadores da série, que optaram por contar a história sem explorar diretamente sua perspectiva. Isso gerou críticas, pois alguns argumentam que a vítima acaba sendo apagada para dar protagonismo ao agressor. No entanto, essa escolha narrativa serve a um propósito maior: ressaltar a injustiça de sua morte e o impacto avassalador que ela tem sobre todos ao seu redor.
A série trabalha essa ausência de forma inteligente, usando a trilha sonora para garantir que Katie nunca seja esquecida. Sua voz, transformada em um sussurro melancólico ao longo da história, representa o luto e a dor que continuam a assombrar os personagens.
Em um dos momentos mais marcantes da série, a detetive Misha Frank afirma: “Katie não importa, Jamie importa. Todos se lembrarão de Jamie. Ninguém se lembrará dela.” Mas a narrativa contradiz essa fala ao garantir que, mesmo sem tempo de tela, Katie continue presente. Sua melhor amiga reforça essa ideia ao dizer: “Tudo o que você precisa saber é que ela está morta. E que não deveria estar.”
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