Descubra a história real por trás da série Desobedientes

Desobedientes, nova produção da Netflix criada por Mae Martin, tem chamado atenção do público por seu clima sombrio e pelo enredo que mistura suspense psicológico e drama social. A trama gira em torno da fictícia Tall Pines Academy, um colégio interno para adolescentes considerados problemáticos que, sob o comando da enigmática Evelyn, esconde abusos e métodos de manipulação dignos de uma seita.

Apesar de ser uma obra de ficção, a minissérie bebe diretamente de histórias reais do chamado “troubled teen industry” (indústria de adolescentes problemáticos), setor que movimenta bilhões de dólares em escolas terapêuticas, programas de reabilitação e campos de sobrevivência voltados para jovens. O que deveria ser um espaço de acolhimento, porém, se revelou para muitos um ambiente de violência e trauma.

As raízes do projeto

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Mae Martin já declarou em diversas entrevistas que Desobedientes nasceu de experiências pessoais (via TUDUM), em especial de uma amiga próxima enviada a um desses institutos. A jovem desapareceu de repente, sob o pretexto de uma viagem com os pais, e passou anos internada em um centro nos Estados Unidos. Sua fuga dramática e os relatos posteriores marcaram Martin profundamente, servindo como base para a narrativa da série.

Martin contou que se perguntava como teria sido se tivesse acompanhado a amiga ou tentado resgatá-la. Esse exercício imaginativo deu origem à relação entre as personagens Abbie e Leila, que, na ficção, enfrentam a lavagem cerebral imposta pela Academia de Tall Pines.

A indústria de adolescentes problemáticos

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O setor conhecido como troubled teen industry cresceu especialmente na América do Norte a partir dos anos 1970, muitas vezes associado a grupos de autoajuda que flertavam com práticas de culto. Programas como o Dozier School for Boys e instituições ligadas à World Wide Association of Specialty Programs and Schools (WWASPS) são exemplos citados em reportagens e documentários por ex-alunos que relatam negligência, violência física e psicológica, além de táticas coercitivas (via ScreenRant).

Um método comum era a chamada “abdução consentida”: pais contratavam empresas que, no meio da noite, arrancavam os adolescentes de casa sem aviso, levando-os à força para as escolas. Esse recurso, recriado na série com Abbie, foi denunciado em diversas investigações jornalísticas.

A inspiração nos cultos e terapias abusivas

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Outro elemento que aproxima ficção e realidade está nos métodos usados para “corrigir” os jovens. Martin e sua equipe pesquisaram o movimento Synanon, um culto surgido na Califórnia nos anos 1950, conhecido por práticas de confronto coletivo. Dali nasceu a inspiração para o “Hot Seat”, mostrado na série, em que adolescentes são expostos a ataques verbais intensos até quebrarem emocionalmente.

Embora a série apresente o fictício ritual chamado “Leap”, criado especialmente para a trama, as referências a técnicas de manipulação psicológica são reconhecíveis para quem já estudou casos reais. Muitos ex-internos relatam que eram submetidos a dinâmicas de humilhação pública sob a justificativa de alcançar autoconhecimento.

O peso dos testemunhos reais

Além das experiências pessoais de Mae Martin, Desobedientes contou com a consultoria da amiga que inspirou a história e de outros roteiristas que viveram em instituições semelhantes. Essa colaboração garantiu autenticidade aos detalhes: desde o vocabulário utilizado até as estratégias de controle social aplicadas pelos líderes da academia fictícia.

Relatos de sobreviventes publicados em blogs, documentários e redes sociais reforçam a verossimilhança da produção. Muitos descrevem a indústria como uma máquina movida pelo medo dos pais e pelo lucro fácil de centros que prometiam soluções rápidas, mas que acabavam perpetuando traumas.

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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.