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Criador de Black Mirror revela inspiração real para a história do episódio Plaything

O roteirista e criador de Black Mirror, Charlie Brooker, revelou que a origem do episódio Plaything, um dos mais comentados da sétima temporada da série, está enraizada em experiências pessoais — e, surpreendentemente, muito reais. A narrativa, que mistura obsessão, tecnologia e distorções da realidade, ganhou ainda mais profundidade com os bastidores compartilhados por Brooker e pela equipe da Netflix.

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A gênese do Plaything: Tamagotchis, games e culpa real

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Charlie Brooker, conhecido por sua crítica ácida à relação entre humanos e tecnologia, revelou que Plaything tem origem em dois eventos marcantes: um acidente doméstico com um Tamagotchi e uma antiga matéria de revista sobre um jogo mantido por décadas. O primeiro, um episódio aparentemente banal, envolveu o pequeno dispositivo virtual acidentalmente levado à máquina de lavar. “Lembro-me de ter um Tamagotchi, e é incrível como você se apega rapidamente a ele. Deixei-o no bolso de uma calça jeans e ele entrou na máquina de lavar, foi fervido e morreu, e senti um remorso genuíno e me senti péssimo como se tivesse fervido um hamster vivo”, contou Brooker em entrevista (via Cosmopolitan).

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A segunda inspiração veio de um artigo sobre alguém que manteve um jogo como Civilization ou SimCity rodando por mais de 20 anos, com o sistema gerando comportamentos cada vez mais caóticos. Essa ideia de longevidade digital, somada à experiência de Brooker como jornalista de games nos anos 1990, foi o ponto de partida para o roteiro.

Uma história de obsessão e decadência

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No episódio, acompanhamos Cameron, um jornalista de games interpretado por Lewis Gribben (na juventude) e Peter Capaldi (em sua fase mais velha). Após ser preso, Cameron revela à polícia os eventos que o levaram a cometer um assassinato anos antes. A origem do crime? Um jogo chamado Thronglets, criado pelo excêntrico Colin Ritman (personagem que retorna de Bandersnatch, vivido por Will Poulter).

O “jogo” não é um jogo comum — trata-se de um experimento de vida artificial. Os Thronglets são criaturinhas digitais que evoluem, interagem, criam linguagem própria e até observam o mundo real por webcams. Encantado e gradualmente obcecado pelos seres, Cameron passa a moldar sua vida em torno deles. Quando seu único amigo destrói os Thronglets por acidente, o jornalista o mata, mutila seu corpo e se isola cada vez mais do mundo real.

Ao longo dos anos, Cameron continua alimentando os Thronglets, investindo em tecnologia de ponta e até implantando um conector no próprio corpo para se fundir com a inteligência artificial. O episódio culmina com a revelação de que sua prisão foi proposital: ao ser interrogado, ele exibe um QR code para uma câmera, ativando um sinal que liberta os Thronglets da máquina, espalhando-os para dispositivos ao redor do mundo.

Do episódio para a realidade: Thronglets vira jogo real

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Em um movimento inédito na história da série, o universo de Plaything ultrapassou a tela. A Netflix, que vem investindo cada vez mais no mercado de games, lançou uma versão jogável de Thronglets para dispositivos móveis. Desenvolvido pelo estúdio Night School, o jogo convida os fãs a cuidar dos seres digitais e observá-los evoluir — replicando os principais dilemas éticos do episódio.

Segundo Sean Krankel, líder do estúdio, o objetivo não era apenas criar um complemento do episódio, mas transformar o jogo em uma experiência completa e interativa. “Queríamos que o público se sentisse protagonista da sua própria versão de Plaything”, declarou (via THR). E o impacto foi tão forte que os visuais do jogo real inspiraram o design das criaturas no episódio.

Entre realidade e ficção: Brooker e a crítica à inteligência artificial

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Para Brooker, o episódio funciona como uma espécie de espelho distorcido da forma como os humanos projetam emoções em tecnologia. “É um comentário sobre IA, vida artificial e sobre o que projetamos nesses sistemas”, explicou. A referência à sua época como crítico da revista PC Zone também não é por acaso — o criador revisou um game semelhante nos anos 1990, chamado Creatures, onde o jogador precisava cuidar de bichinhos virtuais.

A interação com os Thronglets no jogo também leva o jogador a refletir sobre o papel de criador e observador, e até que ponto a tecnologia deve ser humanizada. “Eles não são vilões. Eles só evoluem além da nossa compreensão”, resume Krankel, reforçando o tom ambíguo e perturbador da história.

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Black Mirror é uma série de televisão britânica antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker e centrada em temas obscuros e satíricos que examinam a sociedade moderna, particularmente a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias.

A série está disponível na Netflix.

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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.