Conheça o teste feito com os detentos de Tremembé

O Teste de Rorschach, popularmente conhecido como “teste do borrão de tinta”, voltou ao centro das atenções com a estreia da série Tremembé, produção original do Prime Video que chegou à plataforma nesta sexta-feira (31). Na ficção, detentas como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Daniel Cravinhos são submetidas ao teste durante a trama, numa sequência que chamou atenção do público por seu simbolismo e impacto dramático.

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Mas o que poucos sabem é que o exame retratado na série tem uma forte base na realidade. O teste foi de fato aplicado a Suzane e a outros presos de casos notórios do país, como Alexandre Nardoni, Mizael Bispo e Gil Rugai, em momentos decisivos de suas trajetórias na Justiça.

Suzane von Richthofen e o Rorschach na vida real

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Conheça o teste feito com os detentos de Tremembé

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Condenada a 39 anos de prisão pelo assassinato dos pais, Suzane von Richthofen já foi submetida ao Teste de Rorschach duas vezes desde que foi presa. O exame, solicitado pelo Ministério Público, é usado para avaliar traços de personalidade e determinar se o detento apresenta condições emocionais e psicológicas para retornar ao convívio social.

O resultado mais recente do laudo apontou traços de egocentrismo, narcisismo, imaturidade e incapacidade autocrítica. De acordo com o documento obtido pelo G1, Suzane demonstra dificuldade em avaliar as consequências de seus atos, além de falta de empatia e ausência de culpa em relação ao passado.

O Ministério Público utilizou esses elementos para se posicionar contra o pedido de progressão de Suzane ao regime aberto, alegando que a detenta ainda representava risco potencial à sociedade.

Essa não foi a primeira vez que o exame contrariou os interesses da defesa. Em 2014, uma avaliação semelhante já havia descrito Suzane como “manipuladora, emocionalmente instável e com agressividade camuflada”. Mesmo assim, a Justiça autorizou a mudança de regime de fechado para semiaberto naquele período.

Atualmente presa na Penitenciária de Tremembé (SP), Suzane é considerada uma detenta de bom comportamento, segundo a direção da unidade. Ainda assim, o teste psicológico continua sendo um dos principais obstáculos entre ela e a liberdade definitiva.

O que é o Teste de Rorschach

Criado pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach em 1921, o teste foi originalmente concebido como uma ferramenta de diagnóstico clínico para compreender a dinâmica da personalidade humana. Ele se baseia em um princípio simples: a interpretação de dez pranchas com manchas simétricas de tinta, que o avaliado deve observar e descrever livremente.

De acordo com a psicóloga Renata Akemi Yagi Barros de Brito, especialista na aplicação do teste e consultada pelo G1, o Rorschach é uma forma de análise projetiva, ou seja, o indivíduo projeta aspectos inconscientes da própria personalidade nas imagens ambíguas que vê.

Cada resposta é cuidadosamente registrada e analisada a partir de mais de 60 variáveis, incluindo percepção, afetividade, controle emocional, criatividade e comportamento social. Por isso, é considerado praticamente impossível de ser burlado.

O tempo médio da aplicação varia entre 45 minutos e uma hora e meia, dependendo do perfil do avaliado.

Como a Justiça usa o teste

Conheça o teste feito com os detentos de Tremembé

No contexto jurídico, o Teste de Rorschach é frequentemente solicitado em pedidos de progressão de regime. Seu objetivo é auxiliar juízes e promotores a decidir se o preso está psicologicamente apto a viver em liberdade, sem representar risco à sociedade.

Casos emblemáticos, como o de Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha Isabella, também passaram pelo mesmo tipo de avaliação. O Ministério Público de São Paulo solicitou o exame antes de decidir sobre o pedido de progressão de Nardoni ao regime aberto, argumentando que o bom comportamento carcerário, isoladamente, não seria suficiente para garantir a soltura.

Especialistas em psicologia forense explicam que o Rorschach é uma ferramenta valiosa justamente porque consegue “driblar” os mecanismos de defesa do avaliado, revelando padrões de pensamento e traços de personalidade que não emergem em entrevistas diretas.

A lógica por trás do teste

O Rorschach baseia-se na “hipótese projetiva”, conceito derivado da psicanálise freudiana. Segundo essa teoria, quando uma pessoa tenta dar sentido a imagens ambíguas, como as manchas do teste, ela acaba revelando aspectos internos de sua mente, como medos, desejos, traços de caráter e mecanismos de defesa.

Não existem respostas certas ou erradas. O que importa é como o indivíduo interpreta as imagens: se demonstra ansiedade, agressividade, empatia ou frieza emocional. O avaliador observa não apenas o conteúdo das respostas, mas também a forma, o tempo de reação e até a linguagem corporal.

Sistemas de análise como o de John Exner e o de Ewald Bohm são os mais utilizados no mundo. O primeiro organiza os resultados em índices que ajudam a detectar padrões de comportamento e possíveis transtornos, enquanto o segundo combina abordagens quantitativas e qualitativas, com foco em aspectos cognitivos e emocionais.

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