Boots – As principais mudanças da série em relação ao livro

A série Boots, sucesso da Netflix, é inspirada no livro de memórias The Pink Marine, escrito por Greg Cope White, mas algumas mudanças importantes foram feitas para que a narrativa televisiva funcionasse melhor. A produção mistura drama e comédia para contar a história de Cam Cope, um jovem gay que decide se alistar nos Fuzileiros Navais em uma época em que a homossexualidade ainda era proibida nas Forças Armadas.

Sob a supervisão do próprio autor, que liderou a equipe de roteiristas, Boots manteve o tom espirituoso e reflexivo do livro, além de acrescentar uma trilha sonora vibrante com hits queer dos anos 1980. No entanto, algumas adaptações foram necessárias para dar ritmo e profundidade emocional à história.

A mudança de época: de 1979 para 1990

Boots - As principais mudanças da série em relação ao livro

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Uma das alterações mais marcantes entre o livro e a série está na linha temporal. Enquanto no livro Greg Cope White se alista em 1979, a versão televisiva situa os acontecimentos em 1990. A decisão criativa não é apenas estética: ela reforça a tensão social do período, quando as discussões sobre o banimento de pessoas LGBTQ+ nas Forças Armadas ganhavam força.

Em 1979, a homossexualidade já era malvista no ambiente militar, mas foi em 1981 que o Exército norte-americano publicou oficialmente a declaração de que “a homossexualidade é incompatível com o serviço militar”. Ao ambientar Boots em 1990, a série mostra um momento de maior debate público, permitindo explorar melhor o conflito entre repressão e mudança.

Cam Cope mais ingênuo que o Greg real

Entenda o final de Boots

Na série, Cam é retratado como inexperiente e ingênuo, alguém que entra para os Fuzileiros sem sequer entender completamente sua própria sexualidade. Já no livro, Greg Cope White relata que teve experiências anteriores com homens e mulheres antes do alistamento, embora se reconhecesse como gay. Ele também era um pouco mais velho que sua contraparte ficcional, o que o tornava mais maduro e consciente do ambiente hostil que enfrentaria.

Essa mudança na adaptação tem o objetivo de intensificar o contraste entre inocência e descoberta, elemento central na construção do personagem televisivo.

Bowman não era um par de gêmeos

Outro ajuste importante está nos personagens Cody e John Bowman, os irmãos gêmeos apresentados em Boots. Na obra original, há apenas um único Bowman, e ele é dispensado do pelotão logo no início do treinamento, durante os exercícios de barra.

Na série, transformar Bowman em gêmeos serve para explorar a competição entre irmãos e as pressões da masculinidade militar. Ao manter John por mais tempo na trama, o impacto emocional de sua saída se torna mais forte, especialmente para Cam, que perde um amigo em quem confiava.

O peso extra que mudou a história

Em uma das cenas mais emocionantes da série, o Sargento Sullivan conta a Cam que conseguiu entrar para os Fuzileiros apenas porque seu recrutador colou um pedaço de metal na perna para aumentar seu peso. Essa história é verdadeira, mas aconteceu com Greg Cope White, não com o sargento.

O autor realmente estava abaixo do peso mínimo exigido e contou com a ajuda de um recrutador compreensivo, que usou o truque para garantir sua entrada. A série transferiu esse detalhe para outro personagem, criando um elo simbólico entre Cam e Sullivan, mostrando que ambos precisaram “trapacear” para serem aceitos.

O Sargento Sullivan ganhou um novo papel dramático

Entenda o final de Boots

Na vida real, o instrutor de Greg, o Sargento Santoro, não era gay nem esteve sob investigação, como ocorre com Sullivan em Boots. A série transformou o personagem em um espelho de Cam, mostrando dois homens lutando para esconder a própria identidade em um ambiente opressor.

Essa liberdade criativa enriquece o arco emocional da trama e torna a relação entre os dois mais intensa e complexa, reforçando os temas centrais de medo, coragem e autodescoberta.

Um destino mais trágico para Ochoa

Boots - As principais mudanças da série em relação ao livro

No livro The Pink Marine, nenhum dos recrutas morre durante o treinamento. Já em Boots, o personagem Ochoa tem um destino trágico: sofre um colapso durante os exercícios e morre por complicações cardíacas.

A mudança também destaca os riscos físicos e psicológicos enfrentados pelos recrutas, além de reforçar a crítica ao sistema de treinamento extremo.

A relação familiar também foi alterada

Outro ponto que difere entre o livro e a adaptação está na relação entre Cam e sua mãe. Na série, ela reage com descaso quando o filho anuncia que vai se alistar, chegando a pedir que ele “volte com leite”. Já no livro, Greg explica que sua família sabia da decisão e tentou convencê-lo a desistir, mas o apoiou depois.

Essa alteração reforça o senso de isolamento de Cam, acentuando a ideia de que ele precisa provar seu valor sozinho.

Novos personagens e histórias exclusivas da série

A inclusão do personagem Jones é outra invenção da versão da Netflix. Ele representa a possibilidade de Cam encontrar alguém como ele dentro do exército. No entanto, Jones não existe no livro e todo o arco de amizade e tensão entre os dois é original da série.

A trama do recruta desaparecido durante o treinamento também foi criada para Boots, adicionando suspense e emoção a momentos que, no livro, são mais voltados à reflexão pessoal.

Mudanças no final e nas conquistas

Enquanto The Pink Marine termina com Greg recebendo sua especialização como comunicador militar e sendo promovido a Private First Class, a série opta por encerrar a história de forma mais simbólica, com Cam alcançando a formatura. O mesmo acontece com Ray, que na série perde o título de Honor Man para salvar o amigo, enquanto o verdadeiro Dale, na vida real, recebeu a honraria e foi promovido.

Essas alterações reforçam o tema central de Boots: a amizade, o sacrifício e o poder da empatia são mais importantes do que qualquer medalha.

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