O filme Anora, que chegou ao Prime Video nesta quarta‑feira (23), não adapta nenhum caso específico nem possui personagens com equivalentes verídicos. Ainda assim, a história criada por Sean Baker soa tão plausível que a pergunta sobre sua origem real é inevitável.
A pesquisa que moldou Ani
Sean Baker já havia explorado o universo do trabalho sexual em Tangerine e The Florida Project. Para Anora ele repetiu o método: entrevistou profissionais do sexo, frequentou clubes de strip em Brighton Beach e acumulou depoimentos sobre rotinas, vulnerabilidades e sonhos. “Se existe uma intenção nesses filmes, é contar histórias humanas para remover o estigma”, disse o diretor à Variety. Dessa pesquisa nasceram as nuances de Ani, interpretada com intensidade por Mikey Madison – performance que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz.
Inspiração em relatos reais
A faísca do roteiro surgiu quando Baker ouviu de um amigo a história de uma jovem russa‑americana recém‑casada sequestrada como garantia de pagamento de dívidas do marido. O cineasta também lembrou sua passagem como editor de vídeos de casamento, inclusive de cerimônias de famílias de imigrantes russos nos Estados Unidos. Esses elementos – o choque entre classes, o casamento por conveniência e a pressão familiar – foram reorganizados em ficção, mas mantêm forte eco na realidade.
Eco social e político
Ao mostrar uma stripper do Brooklyn que aceita se casar impulsivamente com o filho de um oligarca russo, Anora expõe tensões de imigração, desigualdade e poder. A família endinheirada que tenta anular o matrimônio e os capangas encarregados de controlar Ani refletem dinâmicas de opressão observadas por Baker em suas entrevistas. O filme não aponta culpados caricatos; prefere sugerir que o abuso de privilégios é sistêmico e que gestos de solidariedade, como os de Igor no terceiro ato, podem existir em meio ao caos.
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