A série de crime Adolescência, um dos mais recentes sucessos da Netflix, traz à tona temas sensíveis e controversos da cultura digital. Lançada em 13 de março de 2025, a minissérie de quatro episódios acompanha o caso de Jamie Miller, um adolescente de 13 anos acusado de assassinar sua colega de classe. Mais do que uma investigação sobre sua culpa ou inocência, Adolescência mergulha na mente do jovem e nos fatores que moldaram suas escolhas, incluindo o impacto da cultura incel e o bullying que ele sofreu.
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O desenrolar da trama logo revela que Jamie, de fato, cometeu o crime, mas a grande questão que paira sobre a história não é “se”, e sim “por quê”. No terceiro episódio, a série se aprofunda na psicologia do protagonista por meio de conversas com a psicóloga Briony. Durante as sessões, temas como masculinidade, rejeição e a influência das comunidades incels são abordados, proporcionando ao público um olhar mais atento sobre um universo digital sombrio e pouco compreendido.
O que significa “incel” e como o termo surgiu?
A palavra “incel” é uma abreviação do termo em inglês involuntary celibate (celibatário involuntário). O conceito foi introduzido na década de 1990 por uma mulher conhecida apenas como Alana, que criou um fórum online para discutir as dificuldades de pessoas que, por timidez ou outros fatores, enfrentavam dificuldades em estabelecer relacionamentos. O que começou como uma rede de apoio acabou se transformando em algo mais radical.
Com o tempo, o termo “incel” passou a ser associado a uma comunidade
predominantemente masculina que atribui sua falta de sucesso amoroso às mulheres e à sociedade em geral. Essa ideologia, permeada por ressentimento e misoginia, sustenta que mulheres valorizam apenas homens atraentes — os chamados “Chads” — e desprezam os menos favorecidos fisicamente, rotulados como “beta males”.
A cultura incel já esteve ligada a atos de violência extrema. Em 2021, por exemplo, um homem chamado Jack Davison matou cinco pessoas na cidade de Plymouth, no Reino Unido, antes de tirar a própria vida. Posteriormente, investigações revelaram que ele era ativo em fóruns incels, onde compartilhava discursos de ódio e isolamento. Esses eventos reais ecoam a trajetória de Jamie em Adolescência, mostrando como a radicalização online pode ter consequências trágicas.
Adolescência como um alerta sobre misoginia e influência digital
A série Adolescência não apenas explora o crime de Jamie, mas também levanta um alerta sobre a influência da cultura incel e o impacto do ódio misógino disseminado na internet. No segundo episódio, o detetive Bascombe busca entender o que teria motivado Jamie a atacar sua colega Katie. A revelação de que ela o chamava de “incel” e o rejeitava parece ter sido o estopim para sua fúria.
O criador da série, Jack Thorne, comentou em entrevista que Jamie representa um jovem vulnerável, exposto a ideologias tóxicas que lhe oferecem explicações simplificadas para seus sentimentos de isolamento. “Ele encontra esse discurso na internet e, para ele, faz sentido. Ele não tem filtros para perceber o que é apropriado e o que não é”, disse Thorne à BBC.
Essa vulnerabilidade não é exclusiva de Jamie. Muitos jovens, ao se sentirem rejeitados ou solitários, acabam sendo atraídos para comunidades que reforçam narrativas de ódio. Adolescência funciona como um convite ao debate sobre a necessidade de monitoramento parental e conscientização sobre o perigo dessas ideologias.
O “manosfera” e sua influência na masculinidade tóxica
Durante a série, são mencionados conceitos que fazem parte do vocabulário incel, como a “manosfera”. Esse termo se refere a uma rede de grupos masculinos que promovem ideias antifeministas e propagam discursos que reforçam a superioridade dos homens sobre as mulheres.
Em Adolescência, personagens secundários ilustram como esses discursos se manifestam de diferentes formas. Ryan, amigo de Jamie, lhe entrega a arma do crime sem perceber a gravidade da situação, demonstrando uma visão distorcida da realidade. Adam, por outro lado, enfrenta isolamento, mas não adere ao discurso de ódio. Já Eddie, o pai de Jamie, representa um homem que, apesar de ter valores sólidos, se vê influenciado por noções ultrapassadas de masculinidade.
O conceito de “red pill” e sua distorção pelos incels
Outro termo explorado em Adolescência é a famosa metáfora da “red pill” (pílula vermelha), inspirada no filme Matrix. No longa, tomar a red pill significa despertar para a verdade oculta do mundo, enquanto a “blue pill” (pílula azul) representa permanecer na ignorância.
No entanto, no universo dos incels e do chamado “manosfera”, essa metáfora foi distorcida. Para eles, tomar a red pill significa entender que o mundo é supostamente controlado por mulheres e que os homens estão em desvantagem. Esses conceitos são frequentemente propagados em fóruns extremistas e utilizados para justificar o ódio e a violência contra mulheres.
Na série, o detetive Bascombe enfrenta dificuldades para compreender esse vocabulário digital, o que reflete um desafio real para pais e autoridades. Compreender esses termos é essencial para identificar sinais de radicalização e prevenir tragédias como a representada na ficção.
A perigosa crença teoria 80/20
Por fim, um dos discursos mais presentes nas comunidades incels é a chamada teoria 80/20, uma teoria infundada que afirma que 80% das mulheres estão interessadas apenas em 20% dos homens. Essa crença reforça a ideia de que a maioria dos homens nunca terá chances reais de sucesso romântico, o que alimenta ainda mais a frustração e a raiva dentro dessas comunidades.
No caso de Jamie, essa falsa estatística contribui para seu sentimento de rejeição e reforça sua visão distorcida da realidade. Como mostra Adolescência, esses discursos podem ser especialmente perigosos para mentes jovens e impressionáveis.
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