Já faz algum tempo que estamos tentando trazer um conteúdo um pouco mais diversificado aqui no CriticalHits. Se você prestar atenção, vai ver que de vez em quando aparecem por aqui algumas notícias referentes a filmes, HQ’s e variedades, já que no fundo o que tentamos fazer é abordar assuntos que nos divertem e compartilha-los com vocês. Seguindo essa linha de pensamento, vou escrever hoje sobre uma das maiores e melhores sagas de histórias em quadrinhos de todos os tempos, até por que esse assunto esta ficando bem recorrente nos últimos dias, graças as notícias relacionadas com o próximo filme do Capitão América.
Se você ainda não sabe o que está acontecendo, foi noticiado essa semana que Tony Stark estará em Capitão América 3, e que será neste filme em que a Guerra Civil será abordada. Mas afinal de contas, o que diabos é essa porcaria de Guerra Civil? Vamos por partes…
The road so far…
Desde sempre, uma das principais características do universo Marvel foi a camaradagem entre os seus heróis. Os Vingadores por exemplo sempre tiveram um ótimo relacionamento entre sí -tirando alguns arranca rabos pontuais em alguns momentos-, o Homem Aranha sempre foi o amigão da vizinhança e de todo mundo também, os X-men sempre se relacionaram de forma bem amigável com todos os outros grupos de heróis mesmo sendo odiados por todo o resto da sociedade, e assim vai…
Mas nem sempre foi assim. Quem acompanhou as Hq’s da era de ouro dos quadrinhos deve lembrar que quase sempre algum herói acabava saindo no braço com outro mocinho -quase sempre com o Namor-, mas no final das contas a trama era explicada com uma armação arquiteta por algum vilão e após tudo ser descoberto, os heróis se juntavam pra arrebentar as fuças do mal feitor, no melhor estilo super herói americano. Se você não tem saco pra ler as histórias mais antigas, uma boa dica é comprar o livro MARVELS, que retrata essa época de maneira bem interessante e que talvez num futuro próximo, eu trate dele aqui também.
Com o tempo, essa prática de botar dois heróis pra duelar acabou ficando meio batida, mas no fundo, todo mundo gostava de ver os mocinhos em uma disputa pra ver quem era mais forte. Mas com o clima de camaradagem dentro da Marvel, essa medição de forças era praticamente impossível de acontecer a menos que o Hulk decidisse sair quebrando tudo por ai -como já aconteceu- e todo mundo tivesse que se juntar pra tentar parar o verdão. Fora isso, não haviam muitas outras possibilidades.
Foi ai então que Mark Millar teve uma sensacional ideia de colocar os heróis contra a S.H.I.E.L.D, afinal de contas, quem não gostaria de acompanhar uma luta entre a agencia governamental mais fodona de todos os tempo contra os mascarádos mais amados das HQ’s? Na verdade, a ideia inicial de Millar era fazer com que o evento acontecesse em um universo paralelo, mais precisamente no que abriga a equipe de super humanos SUPREMOS, uma versão um pouco mais presada dos Vingadores, que tem como objetivo tratar o super grupo com uma pegada mais humana e real. A ideia foi tão boa, que logo conquistou todos dentro da casa das ideias e acabou evoluindo de uma simples luta contra uma agencia governamental, para uma luta contra o próprio governo que dividiria os heróis de uma forma nunca vista antes.
Antes de falar do estopim da guerra, temos que lembrar de duas coisas importantes que aconteceram antes do quebra pau comer solto. Após perder o controle, Hulk destruiu metade da cidade de Las Vegas e deu um trabalho do cão para os Vingadores conseguirem para-lo. Isso fez com que os Iluminatti, um grupo formado pelo professor Xavier, Homem de Ferro, Pantera Negra, Doutor Estranho, Reed Richards, Raio Negro e Namor, decidem resolver o problema de uma maneira bem sucinta: Mandar o verdão para o espaço. Esta decisão causou sérios danos ao grupo e mais tarde, deu origem a saga do “Planeta Hulk” e “Hulk contra o mundo”.
Alem disso, os mutantes estavam enfrentando uma forte vigilância dos sentinelas após os eventos da saga Dinastia M. Graças a Feiticeira Escarlate, toda a população mutante que outrora beirou os 40% de toda população mundial, foi reduzida a somente 198 pessoas. Todos estes mudaram-se para o Instituto Xavier que agora era comandado por Scott Summers e Emma Frost, e pra variar, o clima por lá não andava muito bom já que a pressão contra a raça mutante aumentos significativamente. Pra ajudar, nosso querido Wolverine resolveu ameaçar o presidente de morte, o que não melhorou muito a imagem dos caras.
Outra coisa que não ajudou muito foi um evento anterior chamado de Guerra Secretas. Resumindo a história toda, Nick Fury recrutou heróis para combater uma armação de proporções internacionais sem a permissão do governo americado. Isso gerou uma baita de uma instabilidade diplomática e consequentemente, a demissão de Fury do cargo de diretor da SHIELD. Durante a guerra civil, ele deu suporte aos rebeldes mas sem mostrar as caras.
O que é preciso entender aqui é que não eram mais só os mutantes que enfrentavam a desaprovação do público. Devido as atitudes tomadas por alguns heróis nas últimas sagas, a população havia perdido a confiança e o apreço pelos mascarados e eles já não tinham mais o prestígio de antes. Até o cabeça de teia estava enfrentando alguns problemas, tanto é que acabou ficando muito amigo de Tony Stark nessa época e de quebra, ganhou uma roupa nova cheia de gadgets irados. Essa decisão foi crucial no decorrer da Guerra Civil.
A cisão
O enredo gira em torno de dois pontos de vista diferentes, com argumentos bastante sólidos e com consequências bem definidas de ambos os lados. Mas vamos por partes. ATENÇÃO, A PARTIR DAQUI O SPOILER VAI ROLAR SOLTO, NÃO DIGA QUE NÃO AVISEI.
Tudo começa quando um grupo de heróis chamados de “Os Novos Guerreiros” vai para a cidade de Stamford em busca de ação para o próximo episódio do seu reallity show. Sim, é isso mesmo, uma espécie de “Polícia 24h”, só que ao invés de polícias o programa acompanhava as empreitadas desse super grupo novato na luta contra o crime.
Até ai tudo certo, mas acontece que esses Novos Guerreiros acabam se deparando com um bando de vilões refugiados um pouco mais fortes do que eles, e numa tentativa de ganhar mais audiência para o programa, arranjam briga com os caras pra tentar mostrar ao público que não são somente um grupo de garotos usando collant. O problema é que os vilões eram barra pesada, e até um dos garotos chamado “Microbio” admitiu que eles eram muita areia pro caminhãozinho deles, mas quem é que dá ouvidos a razão quando se tem super poderes, não é?
No final das contas, um dos vilões chamados de Nitro usa seus poderes para explodir um quarteirão inteiro, assassinando Namorita -prima de Namor- e dizimando um escola inteira. Cerca de 900 pessoas morreram nesse evento, incluindo mulheres e crianças. Este foi o estopim da coisa toda, foi por causa destas atitudes que a população e o governo passaram a encarar de forma diferente a luta dos vigilantes contra o crime.
Como já foi dito anteriormente, a coisa não ia muito bem para todos os heróis. A imagem de quase todos eles estava manchada pelas atitudes erradas que haviam tomado e nem o governo, nem a população, estavam de acordo com a forma de agir que eles estavam tomando. Foi ai que em uma tentativa de regularizar a situação, o governo dos Estados Unidos resolveu sancionar a lei de registro de super humanos, que basicamente fazia com que todo vigilante mascarado que não estivesse devidamente registrado, passasse a ser considerado um fora da lei, perseguido e preso.
É ai que a coisa começa a pegar fogo. Se por um lado haviam aquelas que concordavam com esta lei devido aos benefícios que esta traria, outros a repudiavam severamente. Entretanto, no decorrer da HQ se percebe que ambos os lados possuem pontos de vista muito coerentes, o que torna complicado tomar partido em alguns momentos.
Quando registrado, um herói passaria a trabalhar para o governo. Dessa forma, ele receberia treinamento adequado para que não acabasse tomando atitudes imprudentes como as vistas em Stamford, ganharia salário, suporte, equipamento e tudo mais, mas em troca deveria revelar sua identidade secreta e comprometer-se a seguir as ordens do governo.
Isso pode parecer a solução para todos os problemas de muitos heróis por ai, mas não se aplica a todos. Quem poderia garantir a segurança de todas estas identidades secretas? E se alguma organização criminosa se infiltrasse na casa branca e se apoderasse destas identidades, como ficariam as famílias e amigos dos heróis? Isso sem contar a possibilidade do próprio governo utilizar os super humanos em situações de conflito internacional, afinal de contas, quem garante a idoneidade do governo?
É a partir dai que dois grandes grupos se dividem. O primeiro é o grupo que resolve aderir a nova lei e se registrar, liderados pelo principal apoiador do projeto no senado, Tony Stark ou Homem de Ferro. No outro lado, temos aqueles vigilantes que não concordam com a forma que a lei será aplicada, principalmente por que ela obriga aos heróis registrados a caçarem aqueles que não se submeterem a ela. Esses são liderados por ninguém menos do que Steve Rogers, ou Capitão América, ou Bandeirão, como é conhecido nas mocadas.
Muitos heróis ficam realmente perdidos no meio dessa confusão toda. Na realidade, os próprios Vingadores não sabem direito como agir já que dois membros fundadores encabeçam dois pontos de vista diferentes. O próprio Homem Aranha que a fim de apoiar a lei de registro acabou revelando sua identidade secreta -e quase matando JJ Jameson por isso-, acaba voltando atrás e se reunindo aos vingadores secretos, o grupo do Capitão América, posteriormente.
Consequências
Foi nessa saga que a personalidade de Stark ficou realmente evidente. Foi ai que finalmente podemos verificar como ele é capaz de tomar as atitudes mais arriscadas a fim de tentar conseguir o que quer ou provar seu ponto de vista. Uma das mais audaciosas atitudes do homem de lata foi clonar Thor, o deus do trovão a partir de uma mecha de cabelo que ele fez questão de pegar na primeira reunião dos Vingadores. Thor nesse momento estava desaparecido e dado como morto, mas na realidade estava lutando suas próprias lutas Asgardianas em outra dimensão. O clone criado por Stark acaba mantando Golias, um herói não muito conhecido pelos fãs, mas que era bem antigo e acabou causando uma reviravolta enorme na saga.
Alem disso, o governo também pôs em prática o projeto 42, que levava esse nome por que foi a quadragésima segunda ideia que Stark, Hank Pym e Reed Richards tiveram na noite do atentado de Stamford. Este projeto consistia em uma mega prisão na zona negativa onde todos os super vilões e heróis fora da lei seriam encarcerados para cumprirem suas penas. Não contente com isso, os caras ainda recrutaram alguns vilões com as fichas mais sujas do que pau de galinheiro pra caçar os foras da lei, e botam até o Venon atrás do Homem Aranha quando esse resolve mudar de lado.
Só que não foi somente o time do Homem de Ferro que pisou na bola. O próprio Capitão América acabou trocando os pés pelas mãos quando deixou que Frank Castel, o Justiceiro, se juntasse a equipe. Castle é um maníaco homicida que resolve tudo na base daquele ditado “olho por olho, dente por dente”. Mas o próprio bandeiroso se arrepende da decisão depois de ver Castle em ação e o acaba expulsando do grupo, mesmo que ele tenha sido de imensa ajuda.
No final das contas, os dois times se encontram na prisão da zona negativa para resolver a disputa de uma vez por todas. Mas quando a comandante Hill decide fechar os portais numa tentativa de impedir que os heróis liberados fujam, Manto usa seus poderes de teleporte para mandar todo mundo ao edifício Baxter, e é lá que eles terminam de resolver suas diferenças destruindo quase metade da cidade no processo. No fim, ao perceber que esta causando mal aqueles que jurou proteger, o Capitão América se rende e põe fim ao conflito.
Depois disso, alguns dos heróis que juntaram-se aos Vingadores Secretos acabaram recebendo anistia em troca do registro. Isso acaba sendo uma dádiva para alguns como Sue Richards, a Mulher Invisível, já que ela havia trocado de lado na batalha após ver que seu marido tinha as mãos sujas de sangue por ter auxiliado Stark e Pym no desenvolvimento do clone do Thor.
Com o Capitão preso, Tony Stark assume o cargo de diretor da SHIELD no lugar de Maria Hill, e promete mudanças drásticas a partir daquele momento. Eu queria contar mais alguns detalhes sobre acontecimentos posteriores a Guerra, mas não quero estragar a surpresa que alguns vão ter com os desfechos sensacionais que se sucedem.
A Saga
A Saga de toda a Guerra Civil pode ser acompanhada através de sete edições muito bem escritas e desenhadas por Mark Millar e Steven Mcniven, mas o evento foi tão grande e possuiu tanto impacto no universo Marvel, que todas as HQ’s foram afetadas por ele. Inúmeros heróis acabam não aparecendo diretamente na trama principal, mas participam de forma indireta em algum outro evento paralelo. O próprio Wolverine decide não participar da batalha ao lado do Capitão por que não quer correr o risco de entrar em confronto com os X-men, mas é ele que persegue e executa Nitro, o vilão que deu origem a toda a confusão.
Outra edição que vale a pena acompanhar é a Frontline, que não trás nenhum herói ou coisa parecida, mas retrata o trabalho de dois jornalistas americanos e como eles acabam se enveredando na trama toda, descobrindo prós e contras de ambos os lados e tendo que processar tudo o que acontece para poder dar a população a verdadeira face dos acontecimentos.
Ainda existe outra história paralela que corre concomitantemente à Guerra Civil e que conta a trama de Speedball, um dos Novos Guerreiros e o único sobrevivente do desastre de Stamford. Speedball é preso, renegado pela própria família e de quebra perde seus poderes devido ao trauma do acidente, mas acaba descobrindo que pode manifesta-los de uma maneira diferente quando sente dor. Dessa forma, acaba desenvolvendo um uniforme sadomasoquista que lhe fere após ser vestido, e passa a se chamar de Penitência e a combater o crime devidamente registrado. Um tanto quanto bizarro, mas vale a leitura.
Existem milhões de outros motivos pelos quais você poderia ler Guerra Civil, mas se eu falar de todos aqui, você provavelmente vá desistir da ideia. Eu realmente recomendo que você se inteire dessa saga se é fã de quadrinhos, mas que não tente começar por ela caso nunca tenha lido nada do gênero, pois fora da edição principal a cronologia é um tanto quanto confusa e alguns furos podem acontecer caso você não tome o devido cuidado de acompanhar tudo da maneira certa. Os eventos que aconteceram aqui foram grandes demais e influenciaram praticamente todas as outras sagas que surgiram a partir desse momento. Mais pra frente, pretendo tratar de outras sagas importantes aqui no site, mas antes de mais nada eu quero saber de quem lá leu: De que lado vocês está?
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