O final de Demon Slayer dividiu opiniões quando o mangá foi encerrado em 2020, mas existe um elemento crucial que poucos notaram — e que torna esse desfecho superior ao de muitos outros animes do gênero. Ao invés de colocar todo o peso da vitória nas costas do protagonista, a obra de Koyoharu Gotouge surpreende ao destacar o papel decisivo de personagens secundários e coadjuvantes na derrota do vilão principal.
Com o Arco do Castelo Infinito sendo adaptado em uma trilogia de filmes, o público terá a chance de revisitar esse final com novos olhos — e perceber como ele foge dos clichês habituais dos shonen.
Ao contrário de muitos shonen, onde o protagonista alcança vitórias por “milagres” emocionais ou power-ups de última hora, Demon Slayer subverte essa fórmula ao enfraquecer Muzan com um plano elaborado por Tamayo, uma antiga demônio aliada. Com a ajuda de Shinobu e Yushiro, ela desenvolve um remédio em quatro estágios com o único objetivo de tornar o vilão vulnerável.
Esse remédio age biologicamente para envelhecer o corpo de Muzan em 9.000 anos, impedir sua divisão celular, enfraquecer sua regeneração e facilitar o dano por espadas de Nichirin. Ou seja, sem a genialidade de Tamayo — e os séculos de dedicação desde sua libertação pelo lendário Yoriichi — a vitória seria impossível, independentemente da coragem dos protagonistas.
Outro ponto muitas vezes ignorado é o impacto de Yoriichi Tsugikuni, o espadachim lendário da Era Sengoku. Ele não apenas enfrentou Muzan e o feriu de forma irreversível, criando pontos fracos que Tanjiro exploraria no futuro, como também foi o responsável indireto por libertar Tamayo do controle do vilão. Mesmo sem ter completado sua missão em vida, Yoriichi pavimentou o caminho para o fim do mal, sendo essencial mesmo fora do campo de batalha atual.
O clímax de Demon Slayer é um exemplo raro de shonen onde todos os personagens importam. Dos Hashira aos caçadores de menor patente, passando por Kagaya Ubuyashiki e até mesmo personagens de apoio, cada um teve um papel vital na guerra contra os demônios. Muitos dos caçadores de nível inferior, mesmo sem poder para ferir os inimigos, usaram seus próprios corpos para proteger os Hashira, permitindo que os mais fortes continuassem a lutar.
Essa construção coletiva da vitória transforma a narrativa em algo mais realista e emocional. Demon Slayer mostra que vencer um inimigo imortal como Muzan exige sacrifício, estratégia, legado e união — e não apenas a força de um herói solitário.
O final de Demon Slayer supera o de outros animes ao evitar soluções simplistas e ao valorizar o esforço conjunto de todos os personagens. Essa escolha narrativa, ainda que sutil, oferece um encerramento mais humano e memorável. Com a adaptação em anime se aproximando de seu clímax, essa força coletiva certamente ganhará o reconhecimento que merece.
Você pode assistir a Demon Slayer no Crunchyroll e Netflix.