Anualmente, o mercado de mangás no Japão nos presenteia com uma vasta gama de histórias, abrangendo gêneros como shounen, shoujo, e josei. Esse universo diversificado nos oferece vislumbres de narrativas únicas que, muitas vezes, não recebem a atenção merecida pela mídia mainstream.
Entre esses títulos, alguns se destacam por abordar causas nobres, como é o caso de “With the Light” de Keiko Tobe, que narra o cotidiano de uma família com um filho autista, elogiado por aumentar a conscientização sobre o autismo. No entanto, existe um mangá cuja intenção não era nada louvável, tendo sido criado para exercer uma influência social negativa. Dada a sua natureza, pode-se considerá-lo o mangá mais maligno já produzido.
O Culto Aum Shinrikyo
Para entender o contexto, é preciso introduzir o Aum Shinrikyo, posteriormente conhecido como Aleph, um infame culto do juízo final japonês fundado em 1984. O culto mesclava elementos do budismo, hinduísmo e visões apocalípticas, atraindo seguidores com as promessas de salvação de seu líder messiânico, Shoko Asahara, que afirmava ter poderes sobrenaturais.
Apesar de suas atividades incluírem práticas inofensivas como aulas de yoga e meditação, o Aum Shinrikyo escondia um lado sombrio, com lavagem cerebral, atividades ilegais e produção de armas químicas. O culto ganhou notoriedade internacional após realizar um ataque com gás sarin no metrô de Tóquio em 1995, resultando na morte de 13 pessoas e ferindo mais de mil.
Outros Cultos Japoneses Notáveis
Além do Aum Shinrikyo, o Japão teve outros cultos controversos, como o Ho No Hana Sanpogyo e o Pana-Wave Laboratory, cada um com suas crenças e práticas peculiares. Entretanto, é importante mencionar que nem todas as organizações religiosas ou espirituais no Japão são consideradas cultos.
O Que é Mangá Underground?
O mangá underground representa uma subcultura que desafia as normas sociais, emergindo fora das publicações mainstream. Esses trabalhos frequentemente abordam questões sociais e políticas, contrastando com os doujinshis, que são obras criadas por fãs baseadas em propriedades intelectuais existentes.
Chouetsu Jin: O Mangá
Dentro desse cenário, surge o Chouetsu Jin, um anime e mangá produzido pelo Aum Shinrikyo. A obra retrata Shoko Asahara como uma figura messiânica e inclui um enredo onde o líder do culto liberta um jovem confinado pelos pais, sugerindo um caminho de “salvação” através do culto. No final do mangá, informações de contato eram fornecidas, incentivando os leitores a se juntarem à causa.
Chouetsu Jin é um exemplo claro de propaganda com intenções malévolas, utilizada como ferramenta para atrair indivíduos desfavorecidos para um culto terrorista. Embora o culto e o mangá não sejam mais amplamente divulgados, é crucial estudar esses fenômenos para que os leitores possam identificar futuras propagandas com intenções similares. Espera-se que os artistas de mangá aspirem a criar obras que contribuam positivamente para o mundo, em contraste com narrativas tão nefastas quanto Chouetsu Jin.