Dustborn se apresenta como um jogo narrativo centrado em escolhas, ambientado em um futuro distópico alternativo dos Estados Unidos. A premissa é boa: você assume o papel de Pax, uma jovem com superpoderes vocais, que junto a um grupo de desajustados, precisa atravessar um país fragmentado e perigoso para entregar um pacote misterioso.
Em teoria, Dustborn parece promissor, combinando elementos de narrativa, ação, ritmo e decisões morais. No entanto, a execução deixa a desejar, resultando em uma experiência que, embora ambiciosa, acaba sendo superficial e frustrante em diversos aspectos.
Um Universo Fascinante, mas Mal Explorado
Dustborn começa de forma promissora, com Pax e seu grupo de amigos – Sai, Theo e Noam – tendo acabado de roubar dados de uma mega-corporação que controla a Califórnia. A missão é simples: entregar esses dados à organização conhecida como The Weave, localizada na distante Nova Escócia.
Para isso, o grupo se disfarça como uma banda de rock chamada Dustborn, iniciando uma jornada pela América fragmentada. A ambientação do jogo, um futuro distópico onde os Estados Unidos se fragmentaram em várias facções e estados independentes, é rica em potencial, cheia de lore interessante e personagens diversos.
No entanto, Dustborn não consegue aprofundar-se o suficiente nesse universo, deixando muitos detalhes vagos e não explorados, enfraquecendo o impacto narrativo.
A diversidade do elenco de Dustborn é louvável e representa um ponto positivo do jogo. Pax, a protagonista, é uma jovem de origem latina com poderes vocais; Noam, seu ex-parceiro, é uma pessoa não-binária; Theo, o “cérebro” do grupo, é um afro-americano mais velho; e Sai é uma jovem asiática com uma personalidade ansiosa e impulsiva.
Apesar disso, a maioria dos personagens são tratados de forma superficial, com histórias pouco desenvolvidas e interações que frequentemente se concentram mais na protagonista do que em suas relações. O jogo introduz novos personagens ao longo da trama, mas sem tempo ou atenção suficientes para desenvolvê-los adequadamente, o que resulta em uma situação onde muitos personagens são apresentados, mas poucos recebem a atenção que merecem.
O sistema de Codas, que rastreia as crenças e motivações dos personagens com base em suas interações, é um conceito interessante e um dos pontos fortes do jogo. No entanto, sua execução é limitada, com as escolhas do jogador tendo um impacto mínimo no desenrolar da história. Por exemplo, as Codas de Noam, que refletem suas decisões sobre voltar para casa em Hong Kong ou reconstruir seu relacionamento com Pax, parecem promissoras, mas o impacto real dessas decisões no jogo é mínimo, o que diminui a importância das escolhas feitas pelo jogador.
Gameplay e o combate problemático
O combate em Dustborn é, sem dúvida, um dos aspectos mais decepcionantes do jogo. Armada com um taco de beisebol, Pax deve enfrentar uma variedade de inimigos, desde gangues de motoqueiros até robôs descontrolados. O sistema de combate é truncado e desajeitado, com animações lentas e ruins.
Embora Pax possa usar seus poderes vocais – conhecidos como Vox – para influenciar o campo de batalha, os efeitos são limitados e o carregamento de habilidades é lento, o que torna o combate monótono e repetitivo.
A falta de consequências para a derrota também é um grande problema; se Pax for derrotada, ela simplesmente se levanta no mesmo local onde caiu, o que tira toda a tensão dos combates.
Em sua jornada, o grupo de Pax frequentemente para em diferentes locais, onde o jogador pode explorar, coletar recursos e interagir com outros personagens. Embora essas paradas possam ser divertidas, elas raramente impactam significativamente a jogabilidade ou a história. Um dos principais minigames é o de captura de fantasmas, que desbloqueia novos Vox para serem usados tanto em combate quanto em diálogos. Entretanto, como o combate é bem meia boca, esses desbloqueios perdem parte de seu valor.
Os segmentos de ritmo, que surgem quando a banda precisa se apresentar, são uma adição interessante, mas falham em realmente adicionar na experiência do jogo. Embora a apresentação visual seja sólida e as músicas tematicamente consistentes, a jogabilidade desses segmentos é rasa, com pouca variação entre as músicas e a possibilidade de ignorar completamente as novas canções em favor de repetir a primeira.
Além disso, o impacto desses segmentos na narrativa é limitado, tornando-os mais uma distração do que uma parte central da experiência.
Trilha sonora e dublagem
A trilha sonora de Dustborn, com suas influências punk rock, complementa bem o tom e a ambientação do jogo. As músicas são boas e, embora possam se tornar repetitivas, elas contribuem para a atmosfera rebelde e caótica do jogo.
A dublagem, por outro lado, é um misto de altos e baixos. Enquanto a maioria dos atores faz um bom trabalho em dar vida aos personagens, há momentos em que as performances parecem forçadas ou desconexas. Pax, em particular, sofre com uma inconsistência na entrega das falas, especialmente durante o combate. Felizmente, o jogo está disponível com legendas em português brasileiro, apesar da dublagem ser americana.
Mas e aí, Dustborn vale a pena?
Dustborn tinha todos os ingredientes para ser uma experiência memorável: uma ambientação distópica interessante, personagens diversos e um sistema de escolhas morais promissor. No entanto, a execução deixa a desejar em quase todos os aspectos. A narrativa se perde em sua própria ambição, apresentando muitos personagens sem desenvolvê-los adequadamente, enquanto o combate e os minigames falham em oferecer uma jogabilidade satisfatória. A trilha sonora e a dublagem ajudam a salvar alguns momentos, mas no geral, Dustborn se torna uma experiência frustrante, que falha em aproveitar todo o seu potencial.
Se você está em busca de um jogo narrativo que explore temas sociais e políticos em um futuro distópico, Dustborn pode despertar seu interesse. No entanto, esteja preparado para uma jornada repleta de altos e baixos, onde as falhas do jogo frequentemente ofuscam suas qualidades.
Review elaborado com uma chave de PS5 cedida pela Publisher.
Resumo para os preguiçosos
Dustborn tem uma premissa intrigante e diversidade de personagens, oferecendo um mundo distópico com potencial narrativo. O sistema de Codas, que rastreia as crenças e motivações dos personagens, é um dos pontos altos do jogo, proporcionando interações mais dinâmicas e influenciando o desenvolvimento da história. Além disso, a trilha sonora punk rock complementa bem a ambientação, ajudando a criar uma atmosfera rebelde e envolvente.
Por outro lado, o jogo sofre com uma execução inconsistente, especialmente no combate, que é duro e insatisfatório. A narrativa, apesar de ambiciosa, se perde ao tentar incluir muitos personagens e elementos sem desenvolvê-los adequadamente. Os segmentos de ritmo e minigames, embora interessantes em teoria, acabam sendo superficiais e pouco impactantes na experiência geral.
Prós
- Boa premissa da história
- Diversidade de personagens bem representada.
- Sistema de Codas.
- Trilha sonora.
Contras
- Combate truncado e bem ruim.
- Narrativa se perde totalmente.
- Segmentos entediantes a todo momento.
- Escolhas não impactam como deveriam.