Death Stranding trouxe à tona uma expressão que virou um de seus principais bordões entre a comunidade gamer e também nos reviews: “o jogo não é para todo mundo”. Esse post traz uma lista bem interessante falando sobre cinco jogos que não são para todo mundo. Mas antes de entrar na lista em si eu vou dar uma explicação aqui sobre esse conceito de “não é pra todo mundo”.
É claro que cada jogo, cada filme, série, livro e qualquer outro tipo de produto, seja de entretenimento, seja um produto digital como um aplicativo ou qualquer outro tipo de produto é pensado e projetado tendo um público-alvo em foco. Todo produto ao ser concebido, tem um trabalho de pesquisa para entender o momento de seu público e usuários para que assim o projeto desse produto possa ser feito visando ofertar algo mais condizente com isso.
Como estamos falando de games, eu vou deixar os outros produtos de lado, mas a verdade é que cada jogo tem um objetivo pré-determinado de atingir mais em cheio um público do que outro. Alguns jogos nascem com um escopo de público alvo maior, outros possuem um escopo menor dentro de seu nicho, de sua camada gamer-alvo.
Ou seja, por mais popular que uma franquia seja ou por mais que haja um acúmulo de elementos e conceitos que tendem a cair no gosto de um público maior, os jogos sempre visam atingir um grupo determinado de acordo com interesses, gênero, produtora, país, etc.Mas apesar de toda essa explicação, a expressão “não é pra todo mundo” ganhou muita força recentemente por conta justamente de Death Stranding. Jogo que vem sendo elogiado na maioria dos reviews mas tem recebido críticas bem ferrenhas em alguns outros, e em 9 de cada 10 reviews a gente se depara com a expressão de que o jogo “não é pra todo mundo”.
Mas, o que está certo e errado nisso? Aliás, existe um certo e errado quando se trata de um review, da opinião de jornalistas, redatores e de gamers sobre um determinado jogo. A real é que não existe um certo e errado nessa história, e tudo depende da perspectiva de quem emite opinião.
Dessa forma, a real é que dá pra dizer que todos os jogos não são para todo mundo. Afinal, mesmo jogos muito populares como FIFA, Call of Duty, League of Legends, Overwatch, Assassin’s Creed não são pra todo mundo, pois seus estilos de jogo, de narrativa não agradam a todos. Mas, deixando isso de lado e focando em jogos que despertaram muito esse sentimento, eu vou falar aqui de 5 jogos que não são para todo mundo e o porquê disso.
Abaixo, você confere nosso artigo e a versão dele em vídeo.
Vídeo – 5 jogos que não são para todo mundo
https://youtu.be/3A_kvcHgGr0
Outlast
Outlast é um jogo polêmico e controverso de diversas formas, e a razão dele estar nessa lista é porque não é todo mundo que gosta de ser perseguido sem poder reagir contra seu agressor, sofrer terror físico e psicológico e ainda enfrentar aberrações que levam tanto o personagem do jogo como o próprio jogador ao limite entre sanidade e loucura.
A gente tá acostumado com jogos em que somos caça e caçador ao mesmo tempo: da mesma forma que temos inimigos nos perseguindo e nos ferindo, somos capazes quase na mesma proporção de perseguir e dar cabo deles. Outlast quebra totalmente essa roda, e coloca o jogador na pele de um personagem incapaz de combater durante a grande maioria do jogo. Seu único recurso é correr e se esconder, deixando sempre uma sensação de perigo e de urgência nos jogadores, inclusive não sendo muito recomendado para quem sofre de algum transtorno relacionado à síndrome do pânico e de altos graus de ansiedade.
Além disso, Outlast leva o jogador a situações extremas de perseguição, fuga, hide and seek além da constante sensação de ansiedade ao tentar dosar o uso da bateria da câmera, que é o único recurso que ajuda o jogador e enxergar pelos escuros e tenebrosos corredores do hospício que escondem inimigos insanos sempre à espreita e prontos para atacar o jogador e lhe causar o terror quando ele menos espera.
Não que Outlast seja o primeiro jogo nessa linha, mas ele foi um divisor de águas por conta de seu sucesso e penetração dentro do público acostumado ao terror de sobrevivência. E é quando a gente sai desse público que vemos que esse não é um jogo para todo mundo. Embora seja um first person shooter, de shooter ele não tem nada, e atraídos pelo modo de câmera, muitos jogadores de FPS experimentaram Outlast e não foram adiante no jogo justamente pela ausência da possibilidade de revidar as agressões sofridas.
Heavy Rain
O primeiro grande sucesso a gente não esquece, ainda mais quando ele vem cheio de novidades em mecânicas e causando sentimentos bastante controversos na comunidade gamer, e foi assim que Heavy Rain da Quantic Dream chegou ao Playstation 3.
Lançado em 2010, Heavy Rain apresentou um conceito de interatividade e de consequências dentro do jogo que até então não havia se visto em grandes jogos. Com uma pegada muito focada em interação e em cenas e momentos cinematográficos, Heavy Rain foi muito bem aceito pela grande maioria do público, e atraiu inclusive um público que não era tão ligado a games justamente por seu sistema de interação e por sua pegada quase que de um jogo-filme. E foi justamente isso que fez ele ser alvo de críticas, já que nos momentos-chave, o game tira o controle da mão do jogador tornando-o quase que um mero expectador, dando a ele apenas interações pontuais através de quick-time events.
Heavy Rain foi um divisor de águas nesse aspecto, e nos anos seguintes vimos esse gênero de jogos crescer bastante com títulos como Beyond Two Souls, Detroit Become Human que também são da Quantic Dream, Life os Strange, Until Dawn e uma série de jogos da Telltalle que trazem essa pegada mais focada em cenas cinematográficas, interações pontuais e tomada de decisões e suas consequências – quase sempre irreversíveis e que levam muitas vezes à acontecimentos trágicos.
Série Soulsborne
Mais um jogo, ou melhor, um estilo de jogo que vem ganhando o rótulo de “não é pra todo mundo” são os jogos Soulsborne, que abrangem em sua maioria jogos da From Software, desde Demon’s Souls, passando por Dark Souls 1, 2 e 3, Bloodborne, Sekiro Shadows Die Twice, além de jogos de outras produtoras que também seguem essa linha como Lords of the Fallen, The Surge e Nioh.
Basicamente estes jogos vão fazer você morrer para um inimigo bem comum múltiplas vezes, morrer quando estiver a um golpe de derrotar um chefe, morrer novamente ao enfrentar esse chefe mas sem nem ter encostado nele, morrer por cair em um abismo, morrer ao ser pego de surpresa, morrer por errar um comando, morrer por andar na direção errada, e morrer, morrer e morrer.
Quem é fã desse gênero, fala que o prazer nele está justamente em superar desafios extremos, em desvendar movimentação de inimigos e em encaixar formas de combate perfeitas para derrotar chefes incrivelmente mortais. A verdade é que esse tipo de jogo pode causar estresse na maioria dos jogadores, justamente porque a régua da dificuldade aqui é extremamente elevada e o jogador é punido com a morte em cada mínimo descuido.
São jogos que exigem paciência, dedicação, habilidade e principalmente resiliência. Sem esse conjunto de características fica bastante difícil superar qualquer um dos jogos desse gênero Soulsborne, que definitivamente não são jogos para todo mundo, principalmente comparando com os jogos das duas últimas gerações, que enchem o jogador de dicas, facilitadores e atalhos para superarem desafios.
Resident Evil 7
Claro que a uma lista minha não poderia deixar de ter um Resident Evil nessa lista, e se tem um RE que não é para todo mundo – mas deveria ser, esse é o Resident Evil 7.
Depois de levar a franquia para o lado da ação a partir de Resident Evil 4 e consolidar isso com os frenéticos Resident Evil 5 e Resident Evil 6, além de diversos outros lançamentos que indicavam cada vez mais uma tendência de abandonar o terror de sobrevivência e focar na ação, Resident Evil acabou se perdendo e começou a ser criticado de forma ferrenha principalmente pelos seus antigos fãs. O resultado disso foi um período de extrema baixa na franquia, não em vendas, mas em prestígio.
Dessa forma, a Capcom resolveu trazer a franquia de volta pra casa com RE7. Embora haja toda uma polêmica do jogo ser em primeira pessoa e não contar com protagonistas conhecidos, o jogo foi uma espécie de homenagem as raízes da franquia, apostando no terror de sobrevivência e colocando o jogador em situações bastante familiares apesar da nova perspectiva da câmera e dos novos personagens.
Muita gente torceu o nariz, mas a verdade é que RE7 iniciou a pavimentação para a volta da franquia a sua melhor forma, e foi graças a mecânicas e conceitos implementados nele que tivemos RE2 Remake e esperamos que em breve também tenhamos RE3 Remake e RE8 nesses mesmos moldes.
Dá pra dizer que RE7 não é um jogo para todo mundo justamente por ser o primeiro da cronologia principal a ser em primeira pessoa e trouxe personagens novos sendo o foco de quase toda a história. Isso afastou parte dos fãs, especialmente os fãs que passaram a acompanhar a franquia durante o seu período de ação.
Mas a ideia de RE7 era justamente essa: ser um jogo menor, com escopo mais fechado tanto com relação ao jogo em si quanto em relação ao público, dessa forma a Capcom teve mais liberdade para fazer experimentações e a gente sabe que jogos com conceitos experimentais e que mudam uma franquia acabam não sendo para todos os jogadores.
Death Stranding
Death Stranding é o motivo dessa lista existir. Não me lembro de um jogo que tenha despertado tantos sentimentos opostos como esse, e isso obviamente ganha ainda mais volume pelo fato de ser o primeiro jogo de Hideo Kojima depois de deixar a Konami.
Death Stranding é um jogo onde temos a missão de reconectar as cidades do país após o acontecimento de um evento apocalíptico que tem o mesmo nome do jogo – Death Stranding. Para isso, o jogador deve atravessar terrenos extremamente irregulares e acidentados carregando cargas e enfrentando ameaças que nem sempre podem ser combatidas – principalmente no primeiro terço do game, onde não há armas ou ferramentas que possibilitem o combate. Isso acaba levando o jogador a praticar stealth para se esconder ou simplesmente fugir durante esse primeiro momento.
No decorrer do jogo começam a surgir possibilidade de batalhas, mas elas são bastante simples, e não chegam a ter uma mecânica especial ou inovadora. Basicamente essa é a mecânica do jogo durante toda a longa jornada de pelo menos 50h, o que acabou irritando alguns jogadores que carinhosamente apelidaram o jogo de Walking Simulator e de PAC Simulator, em alusão ao trabalho dos Correios de entregar pacotes que muitas vezes chegam atrasados e danificados.
Pelas experiências relatadas, a grande maioria dos jogadores tiveram muitos problemas em entregar os pacotes em Death Stranding, uma vez que qualquer queda danifica a carga e faz o jogador ter de reiniciar as missões, algumas vezes perdendo uma ou duas horas de progresso. Apesar disso, o jogo apresenta uma inovadora mecânica multiplayer em seu gameplay, onde um determinado grupo de jogadores compartilham um mesmo universo, e as estradas pavimentadas por um jogador se tornam disponíveis para os demais, além de outros pontos de interação e de compartilhamento de mundo que mostram que há outros “Sams” trabalhando nesse caótico novo mundo.
Death Stranding é controverso por seu gameplay, pelo hype que ele gerou – principalmente por ser um jogo de Hideo Kojima, e também porque como todo jogo do Kojima que se prese, ele tem cenas longas, muito longas, o que faz alguns jogadores mais críticos e alheios ao estilo de Kojima afirmarem que seus jogos são mais para serem vistos do que jogados.
Aliás, uma comparação válida e que eu faço muito entre meus amigos é que Hideo Kojima é o Lars von Trier dos games: apresenta trabalhos fantásticos do ponto de vista artístico e de enredo, com significados ocultos, metáforas complexas e grande densidade poética, mas que muitas vezes não caem no gosto popular por apresentarem uma complexidade que exige um certo grau de maturação dentro de suas próprias obras para que possam ser apreciados, em resumo, se você não for adepto desse tipo de obra o jogo ou filme pode ser chato pra caralho.
Kojima presa por criar experiências diferentes em seus jogos e busca passar isso aos jogadores através de uma série de experimentos em gameplay e um foco muito grande em enredos densos e cheios desses significados e metáforas.
Eu admito que sou do grupo que ultimamente não tem tido experiências muito boas com os jogos do Kojima. Isso não quer dizer que eu ache Kojima um lixo ou que eu seja um lixo de gamer por não gostar de seus jogos. Quer dizer simplesmente que o meu momento gamer não é compatível com as experiências que Kojima proporciona aos seus fãs. Basicamente, Death Stranding não é um jogo pra mim, e não há problema nenhum nisso.
E você? Já jogou algum jogo que “não é para todo mundo”? Conta pra gente aí nos comentários quais outros jogos você acha que se encaixa nessa definição!