Resolver crimes não é tarefa fácil e mais difícil do que solucionar um crime já cometido é evitar o assassinato de uma pessoa sem entrar em contato direto com a vítima, o assassino ou a polícia. Esse é o desafio base de The Sexy Brutale, novo game do estúdio espanhol Tequila Works.
O jogador é convidado de honra de um baile de máscaras macabro na enorme mansão casino do jogo. Todos os convidados do baile estão fadados à morte, sendo que a hora e local de seus assassinatos já foram definidos.
Você, com o apoio de uma dama que surge e desaparece em uma poça de sangue, é quem deve salvá-los de seu trágico destino, analisando os cômodos da mansão e entendendo como todos os acontecimentos culminaram em suas mortes, para então reiniciar o dia e evitar o assassinato.
The Sexy Brutale é um jogo que leva gerenciamento e manipulação do tempo a sério: tudo nele tem uma hora certa para acontecer. Isso te dá a vantagem de entender o padrão dos acontecimentos e as ações dos personagens envolvidos no crime durante todo o dia, e a desvantagem de ter um tempo limitadíssimo para tomar decisões e estar no lugar certo na hora certa.
Espiando através de fechaduras e escondendo-se em armários você poderá saber o que e com quem as vítimas conversam, o que elas fazem e para onde elas vão. Saber onde um personagem vai estar te permite explorar outros lugares ao mesmo tempo e vê-lo se movimentar através do mapa do jogo que te mostra onde os personagens estarão em cada momento do dia – isso se você já tiver os observado.
Mas por que tenho que ficar espiando os personagens? Bem, essa é a justificativa do baile de máscaras. Há uma força mística atribuída às máscaras que dá a cada uma delas um poder baseado na melhor qualidade de seu dono, poder este que é obtido por você ao salvá-lo da morte.
Este poder, porém, te impede de ficar no mesmo ambiente que uma vítima ou um dos assassinos. Sinais visuais são dados ao encostar em portas que levam a cômodos com máscaras e caso você opte por entrar, a outra máscara flutuará até você, destruindo a sua e te levando à morte.
Por isso a única forma de vencer The Sexy Brutale é resolver seus extraordinariamente bem feitos puzzles vivendo o mesmo dia de novo e de novo até que o assassinato seja evitado.
O desafio vai evoluindo conforme você se acostuma com o estilo do jogo, oferecendo novas possibilidades sem deixar sua vida mais fácil, The Sexy Brutale passa a exigir raciocínio cada vez mais rápido por parte do jogador e muitas vezes você não estará pronto para isso e esbarrará no principal problema do game: progressão.
Ter que recomeçar o mesmo dia e ver os mesmos diálogos e acontecimentos várias vezes é extremamente cansativo e mesmo sendo algo necessário, acaba por minar a produtividade e entrega do jogador. Esse problema de progressão, porém, não é necessariamente um erro, eu o vejo como algo meio que impossível de se evitar devido ao sistema de jogabilidade estabelecido em The Sexy Brutale.
Eu recomendaria a resolução de apenas um assassinato por dia, ou pelo menos uma pausa bem longa entre uma jogatina e outra justamente para tirar a cabeça do jogo e descansar os miolos.
The Sexy Brutale, em termos de level design, segue o padrão definido pelo meu gênero favorito entre os jogos: ele é um metroidvania de verdade e bloqueará diversas vezes o seu caminho por falta de um item ou da chave correta, além de travar certas áreas com mistérios interessantes que são solucionados evitando outros assassinatos.
O mapa, formado pelos cômodos da mansão, é completamente interconectado e te fará não só revisitar áreas já exploradas, mas também rever assassinatos por outro ângulo – tudo, claro, com um propósito, mas explicar isso seria um spoiler.
O visual de Sexy Brutale é bem bonito, com cenários bem construídos, cheios de itens envolvidos com a história dos personagens e passagens secretas. A mansão em que o jogo se passa é claramente inspirada na arquitetura barroca, estilo artístico que o jogo usa como referência inclusive nos visuais do elenco.
Além do estilo artístico, outro detalhe muito acertado, que eu sinceramente achava que nunca mais veria em jogos modernos, é o fato de utilizarem o estilo de “sala avulsa que flutua no vácuo do espaço”, algo que era bem comum na era do PS1 já que os desenvolvedores não precisavam criar cenários gigantescos ou animar áreas não usadas – para ilustrar a ideia, era assim no primeiro Persona. Em Sexy Brutale esse estilo funciona muito bem, já que tudo o que está fora da sala atual, o da visão do personagem é oculto e apenas o cenário em que ele está é destacado, algo que valoriza muito mais a arte, os personagens e os acontecimentos naquele cômodo.
O game não possui qualquer linha de diálogo por voz, apenas textos – sem opção de legendas em português – e isso pode afastar certos jogadores em partes específicas que são carregadas de conversas, boa parte delas pouco interessantes.
As músicas que compõem sua bela trilha sonora também remetem à mesma época do movimento artístico que serve de inspiração para The Sexy Brutale, contando com trilhas com um estilo clássico carregadas de melancolia, combinando 100% com a atmosfera que o jogo e seu nome almejam passar. Os efeitos sonoros também devem ser destacados, já que após algumas horas de jogatina você poderá diferenciar o que e onde algo está acontecendo apenas ouvindo os pequenos sons que jogo proporciona, que são bem diferentes um do outro e são destaque pela falta de música em alguns dos cômodos da mansão.
The Sexy Brutale é nada menos do que um jogo incrível baseado em manipulação do tempo e raciocínio rápido que exige do jogador compreensão total das regras e dos acontecimentos simultâneos na mansão do jogo. Tem funcionalidades muito interessantes e puzzles realmente desafiadores, personagens bem diferentes um do outro e visual memorável, eu fortemente recomendo.
Review elaborado utilizando uma cópia do jogo para PC fornecida pela desenvolvedora.
Resumo para os preguiçosos
The Sexy Brutale é nada menos do que um jogo incrível baseado em manipulação do tempo e raciocínio rápido que exige do jogador compreensão total das regras e dos acontecimentos simultâneos na mansão do jogo. Tem funcionalidades muito interessantes e puzzles realmente desafiadores, personagens bem diferentes um do outro e visual memorável. Tem problemas de progressão devido ao estilo de jogabilidade estabelecido e séries de diálogos bem cansativas, mas mesmo assim vale seu tempo e dinheiro.
Prós
- Jogabilidade muito interessante
- Desafiador
- Mapas bem construídos e interligados
- Histórias incríveis envolvendo cada um dos assassinatos
- Visual com ótimas referências
Contras
- Problemas graves de progressão
- Diálogos meio cansativos às vezes