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Post Trauma – Análise – Vale a Pena – Review

O gênero survival horror é um dos mais consolidados do mundo dos videogames. Com atmosferas densas, quebra-cabeças desafiadores e um constante sentimento de vulnerabilidade, obras como Resident Evil e Silent Hill estabeleceram os pilares desse estilo e continuam a ser a principal fonte de inspiração quando o assunto é jogos de terror. É nesse território que Post Trauma se encaixa: uma homenagem moderna aos clássicos, mas com identidade própria e uma proposta levemente diferente.

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Desenvolvido pelo estúdio indie espanhol Red Soul Games e publicado pela Raw Fury, o jogo coloca você no controle de Roman, um maquinista solitário que, após sofrer um ataque de pânico, desperta em uma realidade completamente distorcida. Preso em um mundo surreal, onde a arquitetura parece um amálgama de memórias fragmentadas, Roman precisa encarar monstros grotescos, resolver enigmas e lidar com os próprios traumas, enquanto busca por respostas e se possível uma saída.

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Com câmera fixa e ambientação opressiva, Post Trauma não esconde suas raízes. Mas engana-se quem pensa que se trata apenas de uma reprodução nostálgica: há aqui um esforço claro em reinterpretar o gênero, criando uma experiência imersiva e perturbadora que caminha entre o familiar e o inédito.

Ambientação como principal chamariz

Post Trauma – Análise – Vale a Pena – Review

Se tem algo que Post Trauma entende bem é o peso que a ambientação exerce dentro do survival horror. Desde os primeiros momentos, o jogo consegue mergulhar o jogador em um cenário opressivo, claustrofóbico e cheio de pequenas dissonâncias visuais que aumentam a sensação de estar perdido em um lugar que não faz sentido.

É um tipo de terror que não precisa de sustos gratuitos para funcionar. Ele cresce com o desconforto, com a dúvida, com o silêncio cortado apenas por ruídos desconexos. Nesse sentido, os cenários, mesmo simples em sua composição, são eficientes. As fases do metrô, do hospital e da escola, por exemplo, usam bem a presença de manequins em lugares inesperados, criando momentos de tensão mais genuína do que muitos encontros com inimigos.

Terror pelo olhar da câmera

A câmera fixa, herança direta dos clássicos, vai além da nostalgia e da homenagem, Ela é parte fundamental da construção do horror aqui. O jogo não apenas resgata esse recurso como também encontra formas criativas de usá-lo. Ângulos inclinados, leves balanços e enquadramentos que escondem mais do que mostram ajudam a aumentar o desconforto, sem tirar o controle do jogador. Ainda assim, Post Trauma sabe equilibrar essas escolhas com a fluidez da jogabilidade, garantindo que o desafio não esteja em brigar com os controles, mas em lidar com o que se esconde fora de vista.

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Narrativa confusa e estética que se desgasta

Apesar das boas escolhas estéticas e mecânicas, o jogo deixa a desejar em certos aspectos narrativos. A história de Roman, embora tenha potencial, carece de profundidade e sutileza. Em muitos momentos, o protagonista parece mais um guia tentando entregar informações ao jogador do que alguém verdadeiramente perdido e desesperado dentro de uma realidade fragmentada. A sensação é de que faltou um pouco mais de polimento na forma como a narrativa é apresentada, não nas grandes ideias, mas na maneira como elas são conduzidas.

A ambientação distorcida e surreal, que inicialmente impressiona, também sofre com a repetição visual à medida que o jogo avança. Mesmo com os gráficos realistas proporcionados pela Unreal Engine 5, o impacto inicial se dilui por uma direção de arte que não evolui tanto quanto poderia. Há uma ausência de variação e de identidade mais marcante, o que enfraquece parte da experiência, especialmente considerando que o jogo não é particularmente longo.

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Um prato cheio para fãs de puzzles

Ainda assim, o que Post Trauma tem de mais memorável são seus puzzles. Aqui, ele brilha com propriedade. Cada fase se estrutura como um grande enigma ou como uma sequência de pequenos desafios que exigem atenção, paciência e um certo raciocínio lógico. A curva de dificuldade é bem construída, e o jogo incentiva a observação minuciosa dos cenários. Uma pena que, em alguns momentos, as pistas sejam explícitas demais, quebrando parte da satisfação em decifrar o problema por conta própria.

No aspecto de sobrevivência, o jogo opta por um caminho mais acessível. A gestão de recursos existe, mas sem o peso constante da escassez. Você não vai precisar contar cada bala ou hesitar antes de usar um kit médico, o que pode decepcionar quem procura o lado mais tenso do survival horror. Além disso, o dilema entre fugir ou lutar quase não se apresenta. Na maioria das vezes, enfrentar os inimigos é a opção mais viável, restando pouco espaço para o improviso ou para decisões mais estratégicas.

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Boas ideias e limitações visíveis

Post Trauma – Análise – Vale a Pena – Review

Por outro lado, a inclusão de outros personagens jogáveis, incluindo partes em primeira pessoa, ajuda a dar um bom dinamismo ao ritmo da narrativa. Mesmo com suas limitações técnicas e orçamentárias de um jogo indie, Post Trauma demonstra criatividade para explorar diferentes perspectivas e formas de envolver o jogador dentro da sua história.

No final de Post Trauma, duas coisas ficam claras: os seus maiores defeitos são consequências naturais de um primeiro projeto de um estúdio pequeno, e as suas maiores qualidades são frutos de uma equipe claramente apaixonada pelo gênero survival horror. O resultado é um jogo digno, que embora use os clássicos como inspiração, trilha seu próprio caminho. Pode não ser a experiência mais polida ou original do mercado, mas é certamente uma adição valiosa para quem busca uma dose honesta de terror psicológico e muitos puzzles para decifrar.

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Review elaborado com uma chave para PC fornecida pela publisher.

Resumo para os preguiçosos

Post Trauma é uma homenagem moderna aos clássicos do survival horror, com câmera fixa, atmosfera densa e puzzles inteligentes. No controle de Roman, um maquinista perdido em uma realidade distorcida, o jogador enfrenta monstros, explora cenários opressivos e decifra enigmas que vão ficando progressivamente mais desafiadores. A ambientação é um dos grandes trunfos do jogo, e o uso criativo da câmera fixa intensifica a sensação de desconforto.

Apesar disso, o jogo tropeça na narrativa pouco sutil e na direção de arte que se repete com o tempo. Também falta profundidade na gestão de recursos e nos combates, que raramente exigem decisões difíceis. Ainda assim, com boas ideias, momentos inspirados e uma pegada mais acessível, Post Trauma se destaca como uma experiência válida e imersiva para fãs de terror psicológico, especialmente os que adoram resolver puzzles.

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Nota final

70
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Ambientação opressiva e bem construída
  • Uso criativo da câmera fixa
  • Puzzles bem elaborados
  • Boa estruturação de recursos

Contras

  • Narrativa pouco refinada, com um protagonista que soa mais como um narrador explicativo do que um personagem crível
  • Direção de arte repetitiva, que perde impacto visual ao longo do jogo, mesmo com gráficos realistas
  • Falta de tensão no combate
  • Polimento técnico limitado
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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.