Se você é fã de One Piece, sabe muito bem que apesar de a série ir muito bem obrigado, as coisas não andam muito bem quando o assunto são jogos baseados na Tripulação do Chapéu de Palha. Mas a Bandai Namco não desiste e desde que lançou o primeiro trailer de One Piece Odyssey, arrematou por completo o coração dos fãs que vem a derradeira oportunidade de encontrar um jogo realmente bom para chamar de seu.
Na verdade, é muito leviano afirmar que não existem bons jogos de One Piece. Eles realmente existem, mas o problema é que não costumam agradar toda a fan-base de uma vez e falham em captar o espírito, a essência tão única da Tripulação do Chapéu de Palha.
One Piece Odyssey tenta subverter a maioria das mecânicas inventivas e complicadas que a gente vê em jogos atuais, retornando à boa e velha base que deu ao mundo, os JRPGs. Uma fórmula simples, mas que ao ser encadeada à tantas outras boas parcelas, acaba entregando uma ótima experiência, e que finalmente parece digna do legado de One Piece.
Isso porque Odyssey consegue fazer uma mistura perfeita entre conteúdo inédito e clássico. Sim, eu sei que isso talvez tenha soado estranho e um tanto complicado de entender, mas a solução para apresentar essa nova aventura é tão simples que não demora para que tudo faça sentido.
A “Odisseia” começa com Luffy e os demais chegando à Ilha de Waford, um lugar estranho, mas que para os padrões de One Piece até que não é lá grandes coisas. Após naufragarem o Thousand Sunny, Os Piratas do Chapéu de Palha percebem que vão ter de trabalhar para conseguir navegar novamente e decidem explorar a ilha a fim de descobrir o que ela oferece, afinal de contas.
Não demora muito até que se descubra que a Marinha possui interesse na ilha e que dois novos personagens apareçam no meio do caminho, Adio e Lim. Apesar de Adio demonstrar interesse em auxiliar Luffy e seus companheiros, Lim acaba roubando as habilidades de todo mundo, transformando-as em cubos misteriosos e espalhando-os por toda a ilha. Não precisa ser um gênio para se dar conta que essa é a desculpa perfeita para que todos voltem ao nível 1 e que precisem encarar uma série de aventuras e desafios para recuperarem a força de outrora.
Se One Piece Odyssey fosse só isso, já seria um grande jogo – por motivos que explicarei melhor mais tarde. Contudo, as coisas ficam ainda melhores quando descobrimos que alguns “cubos” de habilidade só podem ser absorvidos pelos Piratas do Chapéu de Palha após as memórias serem revividas! Sendo assim, é preciso que cada personagem reviva os momentos onde despertaram novas nuances de suas habilidades para que elas voltem à tona e permitam que o bando a sair da Ilha de Waford. Em outras palavras, One Piece Odyssey oferece uma verdadeira Odisseia pelo legado de 20 e tantos anos de One Piece, da melhor forma possível!
Toda essa aventura saudosista é regada a um sistema simples, porém extremamente funcional de exploração e combate. O mapa aberto e as dungeons são repletas de pontos específicos onde as habilidades de cada personagem é mais adequada, dependendo da situação. Ao jogador, cabe escolher e perceber qual personagem consegue resolver as situações que se apresentam, sejam elas obrigatórias, ou detalhes escondidos pelo mapa que podem valer boas recompensas.
Algumas dessas recompensas são pequenos cubos de habilidade, que ao contrário dos demais mencionados acima, não precisam ser “revividos” por memórias para serem absorvidos. Cada um destes permite que habilidades já adquiridas sejam reforçadas, causando mais dano ou até mesmo gastando menos energia para serem executadas.
Outro detalhe que chama atenção é a recriação dos mapas clássicos que, apesar de não serem totalmente fiéis ao mostrado na série, causam uma saudosa sensação de estar conhecendo um lugar mágico que você sempre sonhou, ou até mesmo revisitando algo que é caro a sua infância. Alabasta, por exemplo, é o primeiro desafio das memórias a ser apresentado e causa uma mistura incrível destas duas sensações.
One Piece Odyssey é tão bem amarrado que até estas pequenas diferenças nos mapas – causados principalmente para que tudo possa ser adaptado ao jogo da melhor forma possível, é explicada pela história. Segundo Lim, a menina misteriosa que transforma as habilidades em cubos, o mundo das memórias não é exatamente a realidade, já que memórias podem ser diferentes para cada pessoa. Isso também serve como justificativa para o fato de inimigos lá de trás, como Crocodile, que deram as caras em Alabasta e em um momento onde os Piratas do Chapéu de Palha não eram nem de longe tão poderosos quanto atualmente, estarem muito mais fortes.
Apesar da exploração ser parte importante de One Piece Odyssey, o combate é o grande protagonista e carro chefe da coisa toda. Afinal, é através dele que vemos o clímax dos momentos mais importantes acontecendo.
A fórmula escolhida pela Bandai Namco dessa vez foi o combate por turnos, típico dos JRPGs. Porém, nada é tão simples quanto parece e a porradaria come solta com um pouco de tempero para deixar as coisas mais interessantes.
Cada personagem possui um atributo característico que lhe representa, como Poder, Técnica ou Velocidade. A partir dai se desenrola o famoso e até mesmo esperado sistema de “Pedra, Papel e Tesoura”. Poder é eficaz contra Velocidade, eficaz contra Técnica, eficaz contra Poder. Assim como os membros da tripulação, cada inimigo também possui uma destas características, o que exige que o jogador preste atenção constante nos membros da sua equipe.
Outro detalhe interessante é a distância dos inimigos no campo de batalha. Apesar de cada batalha envolver 4 personagens a cada vez, cada Chapéu de Palha pode acabar em uma configuração diferente, o que resultará em grupos diferentes. Para exemplificar melhor, ao entrar em uma batalha o jogador pode acabar se deparando com uma situação onde Luffy está em um grupo com dois inimigos, enquanto Zorro e os demais estão em outro grupo, mais a distância.
É possível alternar os personagens entre os grupos livremente, a fim de permitir que cada um possa obter o melhor resultado possível. Mas o mais interessante é perceber como essa nova mecânica tenta traduzir, de certa forma, as batalhas que são características de One Piece, onde cada personagem acaba enfrentando um inimigo específico, muitas vezes em um local totalmente diferente um do outro.
A alternância entre momentos de exploração e combate é suave e bem divertida. Assim como todo JRPG, em alguns momentos acabamos nos deparando com mais inimigos espalhados pelo mapa do que gostaríamos de enfrentar, mas One Piece Odyssey também oferece algumas maneiras interessantes de evitar conflitos caso você queira. Às vezes basta tomar um caminho diferente, enquanto em outros momentos é melhor descer o sebo nas canelas.
Contudo, apesar dos elogios e da divertida jogabilidade, Odyssey não é só acertos – embora a maioria dos pontos negativos não sejam lá tão relevantes a ponto de comprometer severamente a sua experiência. O ponto que mais me chamou atenção em Odyssey é um recurso geralmente explorado por RPG’s ocidentais, que gostam de abusar do famoso “leva e traz” em quests e missões. Não é incomum que você se pegue indo e voltando várias e várias vezes pelo mesmo percurso a fim de resolver um problema ou mistério que poderia ter sido apresentado de maneira mais criativa. E olha que isso não é algo característico apenas de quests secundárias! Missões principais também abusam desse recurso, dando a impressão de que o jogo está tentando ganhar tempo de maneira desnecessária.
Os diálogos do jogo não são massantes e por contarem com o time de dublagem original, acabam empolgando. O único ponto negativo neste aspecto acontece pela impossibilidade de pular alguns momentos das conversas que não são tão interessantes ou que não captam tanto interesse, como na escolha de missões secundárias, por exemplo.
O sistema de missões secundárias de One Piece Odyssey também é bastante divertido e se divide em dois tipos de missões diferentes. Algumas missões acabam aparecendo no mapa e são dadas através de NPC’s que precisam de ajuda para alguma tarefa específica. Outras trazem os famosos cartazes de procurado, onde o jogador acaba tendo a oportunidade de caçar piratas que já apareceram na série, seja capitaneando seus próprios navios, sejam como imediatos de alguns dos bandos mais famosos da série.
Talvez o melhor aspecto de One Piece Odyssey seja sua leveza na forma como a aventura se desenrola. Costumo dizer que devido ao tempo escaço, acabo jogando a maioria dos jogos o mais rápido possível, as vezes, sem necessidade. Contudo, Odyssey me fez ter vontade de ir devagar, de aproveitar cada momento e de acompanhar o desenrolar da história com o máximo de atenção possível. É como se estivesse assistindo ao anime, mas podendo escolher em que descer o braço.
No fim das contas, One Piece Odyssey é um excelente lançamento para começar o ano e provavelmente o melhor jogo de One Piece que já joguei. Se precisasse convencer alguém a experimentar, poderia até dizer que é uma espécie de Dragon Quest, só que com os Chapéus de Palha. Portanto, se você gosta de JRPGs de qualidade, não deixe de se aventurar nessa odisseia. Agora, se você é fã de One Piece, Waford é com certeza uma parada obrigatória.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PS5. Jogo disponível para PS4, PS5, PC, Xbox X e Xbox Series.
Resumo para os preguiçosos
One Piece Odyssey é praticamente uma mistura de Dragon Quest com One Piece. Um jogo que parece finalmente ter encontrado a forma correta de contar as aventuras dos Chapéus de Palha em um game magnífico, repleto de aventura, boas sacadas e histórias inédias e clássicas ao mesmo tempo.
Prós
- Adiciona novas aventuras ao mesmo tempo em que apresenta a oportunidade de revisitar sagas clássicas de One Piece;
- Dublagem IMPECÁVEL;
- Bons gráficos;
- Sistema de combate familiar a inventivo;
- Exploração permite que você utilize as habilidades de cada personagem para obter os melhores resultados.
Contras
- Diálogos excessivos em alguns momentos;
- Algumas quests obrigam o jogador e ir e voltar pelo mesmo caminho várias vezes seguidas.