Gylt foi um dos jogos exclusivos do finado Google Stadia, que agora finalmente chega aos consoles de mesa e pode ser aproveitado de maneira offline pelos jogadores. Tido como um dos melhores jogos exclusivos do serviço de streaming da gigante das buscas, como o jogo se sai agora, quatro anos após o seu lançamento e em um ambiente local?
Em Gylt, você controla Sally, uma jovem que vive numa cidade do interior e cuja prima desapareceu há cerca de um mês. Muitas pessoas desistiram de procurá-la, mas Sally continua colando cartazes de procurado por aí enquanto tenta evitar os bullies que a atormentam pela cidade.
Num dia, enquanto fazia exatamente isso, Sally é perseguida por esses jovens desagradáveis e acaba caindo de bicicleta bem longe de casa, e esta fica danificada, forçando-a a voltar para casa caminhando.
Na jornada de volta, Sally acaba descobrindo que foi parar em outro mundo, ou numa versão alternativa ao seu próprio mundo, que é habitada por criaturas estranhas e que a prima dela, até então desaparecida, habita aquele local. Agora, você deve tentar encontrar essa prima de Sally e salvá-la desse lugar.
Para isso, você começará se esgueirando pelos lugares, pois está indefeso aos monstros que habitam esse mundo, e conforma avança pelo jogo você vai desbloqueando ferramentas, seja para auxiliar na sua furtividade, seja forma de combatê-los. Como você é uma garotinha, a ideia toda do jogo é que você evite o confronto, e só consiga mesmo vencer os inimigos quando pegá-los de surpresa, já que bater de frente com um é uma receita para que mais dois ou três apareçam no lugar onde você está.
Aqui vale ressaltar que a inteligência artificial dos inimigos está longe de ser um super inimigo do stealth. Ela funciona bem melhor do que nos mais recentes Assassin’s Creed, por exemplo, já que o cone de visão dos inimigos é bem mais amplo e eles te detectam com mais facilidade quando você se expõe, mas eles também acabam perdendo a personagem de vista muito facilmente, até porque você é bem frágil, então qualquer inimigo mais motivado acaba te matando.
Apesar de Gylt ser vendido como um Survival Horror, ou seja, um jogo de tensão onde os recursos são limitados, a minha experiência com o jogo foi bastante agradável e felizmente ele é bem generoso em recursos, seja em bombinhas para asma (que servem para recuperar a sua vida) seja em pilhas para a lanterna que você desbloqueia conforme avança no jogo para matar os inimigos.
Um detalhe que eu não gostei nesse gerenciamento de recursos é o fato de que você não consegue armazenar munição para a sua lanterna, ou seja, se ela está no máximo da carga, Sally não carrega mais consigo, então você tem uma quantidade limitada de inimigos que você consegue despachar por vez, e o jogo vai trabalhando de modo a fazer que você sempre tenha que escolher quando vai matar os inimigos e quando você vai fazer o máximo para evitá-los e assim seguir adiante.
Fora o combate e o stealth, o jogo ainda conta com puzzles ambientais, onde você deve por exemplo, girar alavancas para baixar a água, desligar fios para não levar choque na água, arrastar escadas para subir no lugar certo e assim por diante.
Além do gameplay, outro ponto que chama bastante a atenção em Gylt é o fato de que o jogo aborda de uma maneira bem interessante, e até por vezes pesada, o bullying. Tanto Sally quanto Emily sofreram bullying antes e durante os eventos do jogo, e a discussão que ele faz a respeito do tema toca em pontos pesados, mas também necessários, e que inclusive podem ser um gatilho para quem já passou por esse tipo de situação durante a vida.
A maneira como o jogo aborda essa discussão também é interessante, já que ela não é feita de forma direta, e sim por meio de mensagens deixadas no jogo, partes do cenário que não são necessariamente parte do jogo e assim por diante, é como estarmos acessando a cabeça de uma pessoa que está tentando enfrentar esse trauma ou revivendo ele ao longo dos dias.
Graficamente, Gylt tem um estilo de arte bonito, com boas animações e uma movimentação bem legal também. A trilha sonora e a dublagem do jogo também são muito boas, e felizmente o jogo vem legendado em português, o que facilita a compreensão dos acontecimentos.
Mas e aí, Gylt vale a pena?
Gylt é um jogo bem interessante de stealth e suspense que aborda assuntos pesados como bullying. O jogo conta com um estilo de arte bem bonito e desafios bem pensados, resultando numa experiência bem legal que finalmente saiu dos grilões do Stadia e agora pode ser jogado por mais gente.
É um jogo imperdível? Não, mas diverte o suficiente e aborda pontos importantes, sendo uma experiência positiva, ainda que nada surpreendente.
Resumo para os preguiçosos
Gylt é um jogo de suspense e stealth onde você controla uma menina chamada Sally que acaba caindo num mundo fantástico com monstros e agora deve se esgueirar dessas criaturas enquanto tenta resgatar a prima, que desapareceu há cerca de um mês.
O jogo conta com mecânicas básicas de stealth e combate, mas uma história interessante e que aborda assuntos pesados e necessários como o bullying. No fim das contas, apesar do jogo não ser nada de surpreendente do ponto de vista de gameplay, o enredo te prende e faz querer ir até o final, sendo uma experiência positiva.
Prós
- Belo estilo de arte
- Discussão sobre bullying interessante
Contras
- Mecânicas de jogo bem simples
- Apesar de contar com algumas partes legais, o stealth do jogo acaba se tornando repetitivo