A série O Eternauta, lançada pela Netflix, assume o desafio de adaptar uma das obras mais icônicas da história dos quadrinhos argentinos. Escrita por Héctor Germán Oesterheld nos anos 1950, a história original se transformou em símbolo de resistência política e identidade cultural na Argentina. A adaptação televisiva honra esse legado, mas também atualiza diversos elementos para dialogar com o público contemporâneo, incluindo mudanças no enredo, nos personagens e na ambientação.
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Apesar de manter a essência pós-apocalíptica e o clima de tensão crescente, a série toma liberdades criativas importantes que impactam tanto a estrutura narrativa quanto o simbolismo da história. Com alta aprovação crítica e renovação para uma segunda temporada, a nova versão desperta curiosidade sobre o quanto se distancia do material original.
Atualização temporal e contextual para o século XXI
A ambientação da série é uma das mudanças mais perceptíveis em relação aos quadrinhos. Enquanto a história original se passa nos anos 1950 e reflete os dilemas políticos da Argentina daquela época, a versão da Netflix desloca os acontecimentos para um futuro próximo, possivelmente o ano de 2025. Essa atualização não apenas torna a narrativa mais acessível ao público atual, mas também amplia sua relevância temática ao conectar os perigos do passado com os dilemas contemporâneos.
O início da história e a ausência do autor como personagem
Nos quadrinhos, o autor Oesterheld aparece como personagem, sendo o interlocutor de Juan Salvo, o protagonista que surge em sua sala como um viajante do tempo. A série, no entanto, opta por um início mais convencional, com foco direto no desastre apocalíptico que atinge o mundo. Ainda assim, o conceito de viagem no tempo não é descartado, aparecendo de forma mais sutil ao longo da temporada. Juan, o Eternauta, parece preso em um ciclo temporal, atravessando realidades alternativas sem plena consciência, um recurso que reforça o tom existencial da história.
Menos ficção clássica, mais mistério visual
Outro elemento alterado é a representação dos alienígenas. Nos quadrinhos, eles chegam à Terra em discos voadores, seguindo a tradição da ficção científica da época. Na série, os invasores são introduzidos por feixes de luz vermelha caindo do céu, evitando clichês visuais e apostando em um clima mais enigmático. O mesmo vale para a nomenclatura: enquanto os quadrinhos nomeiam claramente as criaturas, como os Cascarudos e o temido “Eles” (Ellos), a série opta por manter um certo mistério em torno dos invasores.
Mais espaço para personagens femininas e maior carga emocional
A personagem Clara, filha de Juan, ganha um papel significativamente maior na adaptação televisiva. Nos quadrinhos, sua participação é discreta. Já na série, ela é central para o conflito emocional do protagonista, sequestrada e controlada pelos alienígenas. Essa mudança eleva o envolvimento do espectador e traz à tona discussões sobre controle, identidade e perda. O drama de Juan, agora também um pai em busca da filha, adiciona profundidade emocional à trama.
Diferenças nas ferramentas de controle mental e construção de personagens
A forma como os alienígenas controlam os humanos também foi alterada. Nos quadrinhos, o uso de dispositivos chamados “telecontroladores” é claramente explicado. Já na série, a abordagem é mais ambígua. Clara, por exemplo, apresenta momentos de consciência, sugerindo que nem todos os controlados perderam completamente sua autonomia. Isso abre possibilidades narrativas mais complexas para a próxima temporada, dando margem para a resistência e a recuperação da identidade.
Além disso, o histórico militar de Juan é mais desenvolvido na série. Ele é apresentado como veterano de guerra, o que justifica sua postura combativa e seu trauma psicológico. Nos quadrinhos, Juan é apenas um militar da reserva. A mudança reforça o perfil do personagem como alguém marcado por perdas e pela experiência com a violência.
Uma ficção científica mais enraizada na realidade
Uma das adições mais notáveis da série é a tentativa de ancorar a ficção científica em explicações pseudocientíficas. Ao invés de apenas afirmar que a neve tóxica é uma arma alienígena, como nos quadrinhos, a série oferece uma teoria envolvendo alterações nos polos magnéticos e radiação vinda dos cinturões de Van Allen. Ainda que não totalmente científica, essa abordagem sugere um esforço de tornar os eventos mais plausíveis e menos fantasiosos.
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