No terceiro episódio da segunda temporada de Ruptura (Severance), uma cena envolvendo Milchick e Natalie chama atenção por seu tom desconfortável e seu impacto na narrativa. Natalie surpreende Milchick ao entregar um presente enviado pela Lumon, supostamente uma forma de reconhecimento por seu trabalho. No entanto, ao abrir o pacote, Milchick se depara com algo inesperado e perturbador, desencadeando uma troca de olhares carregada de tensão entre os dois.
Desde que assumiu um papel de maior responsabilidade nos andares inferiores da Lumon, Milchick tem se esforçado para manter o controle dos funcionários da Macrodata Refinement. Apesar de sua dedicação, ele sente que sua lealdade não é devidamente reconhecida pela empresa, o que fica evidente quando percebe que seu nome sequer foi atualizado no protetor de tela do seu computador, ainda exibindo o de sua antecessora, Cobel. Quando Natalie aparece com um presente enviado diretamente pela Lumon, a expectativa é que finalmente ele receba algum tipo de valorização. No entanto, o que deveria ser uma demonstração de apreço acaba se revelando algo profundamente insensível.
A problemática das pinturas de Kier “reimaginadas”
Ao remover o embrulho, Milchick encontra uma série de pinturas que retratam Kier Eagan, o fundador da Lumon, com traços negros. Natalie explica que as imagens foram “recanonizadas de forma inclusiva” para que Milchick pudesse se sentir mais conectado à história da empresa. No entanto, em vez de soar como um gesto genuíno de diversidade, a “homenagem” parece extremamente deslocada e ofensiva.
A decisão da Lumon de presentear Milchick com essas pinturas revela uma falta de compreensão sobre questões de representatividade e diversidade. A abordagem adotada pela empresa ignora a complexidade do assunto e acaba destacando seu próprio distanciamento da realidade dos funcionários. A cena reforça a ideia de que a Lumon opera sob uma lógica hierárquica e cega para as experiências individuais de seus trabalhadores, tratando a inclusão de forma superficial e mecânica.
O silêncio compartilhado entre Milchick e Natalie
Após desembrulhar as pinturas, Milchick e Natalie trocam um olhar desconfortável. Enquanto Milchick parece processar o absurdo do que acabou de receber, Natalie reage com um sorriso tímido e contido, reminiscentes de cenas de filmes como Corra! (Get Out), onde expressões faciais são usadas para transmitir mensagens ocultas de opressão. Apesar da clara percepção de que o presente é inadequado, nenhum dos dois se sente à vontade para comentar a situação.
A troca silenciosa entre os personagens sugere que ambos entendem a problemática do presente, mas evitam expressar qualquer crítica. Natalie chega a afirmar que achou as pinturas “excelentes” quando as recebeu, provavelmente por medo de represálias da diretoria da Lumon. Esse momento simboliza como a cultura corporativa da empresa impede seus funcionários de questionar as decisões de seus superiores, obrigando-os a aceitar situações incômodas sem contestar.
O impacto da cena na narrativa de Ruptura
A cena das pinturas em Ruptura não é apenas um detalhe isolado, mas sim um reflexo da dinâmica opressiva da Lumon e da relação que a empresa mantém com seus funcionários. O desconforto de Milchick e Natalie não é fruto apenas da situação em si, mas também do medo de contrariar as expectativas da corporação.
Essa sequência reforça um dos temas centrais da série: a exploração da identidade individual em um ambiente de controle absoluto. A Lumon continua a exercer uma influência sufocante sobre seus funcionários, e essa cena destaca como até mesmo aqueles que ocupam posições de comando, como Milchick e Natalie, estão presos às regras e às incoerências da empresa.
Confira mais sobre a série
- Tudo que você precisa saber sobre a 2ª temporada de Ruptura (Severance)
- Resumo da 1ª temporada de Ruptura (Severance)
Ruptura (Severance) é uma série de suspense psicológico que explora os limites do controle corporativo e da identidade humana. A trama acompanha Mark Scout (Adam Scott), um funcionário da Lumen Industries que se submete a um procedimento chamado “ruptura”, que separa cirurgicamente as memórias relacionadas ao trabalho das memórias pessoais. Durante o expediente, Mark e seus colegas não têm nenhuma lembrança de suas vidas fora da empresa, enquanto suas versões “externas” desconhecem completamente o que fazem no trabalho.
À medida que eventos misteriosos começam a ocorrer, Mark descobre inconsistências perturbadoras que desafiam a lógica da separação. Ele se vê forçado a questionar as intenções da Lumen e os verdadeiros efeitos do procedimento de ruptura, enquanto tenta desvendar a verdade por trás da vida dupla que foi imposto a ele e aos outros funcionários.