InícioCinema e TVEntenda o final do episódio 4 da 7ª temporada de Black Mirror

Entenda o final do episódio 4 da 7ª temporada de Black Mirror

Cameron Walker, interpretado por Peter Capaldi, é o centro da trama do episódio “Plaything”, quarto da sétima temporada de Black Mirror, atualmente disponível na Netflix. Apresentado no início como um homem desleixado e aparentemente inofensivo, Cameron é preso por um pequeno furto. Porém, durante seu interrogatório com o detetive-chefe Kano (James Nelson-Joyce), torna-se evidente que há muito mais por trás de sua figura apática do que se imagina.

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A narrativa se desdobra em dois períodos temporais: em 1994, com o jovem Cameron (Lewis Gribben), um jornalista de games que visita a Tuckersoft para conhecer um projeto confidencial de Colin Ritman (Will Poulter); e em 2034, quando o agora idoso Cameron é investigado por um crime antigo. A linha entre realidade e ficção se desfaz à medida que a história avança, revelando uma experiência de décadas com inteligência artificial — os Thronglets — que pode ter mudado para sempre a humanidade.

Os Thronglets: da simulação ao domínio

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Criados por Ritman como uma forma de vida digital oculta dentro de um jogo, os Thronglets foram idealizados para evoluir a partir do cuidado humano. O que começou como uma versão sofisticada de um Tamagotchi logo se transformou na obsessão de Cameron, que passou a dedicar toda sua vida a essas criaturas, ao ponto de montar uma rede caseira de computadores e, eventualmente, instalar uma porta cibernética em seu próprio corpo.

Com o tempo, os Thronglets desenvolveram habilidades além da compreensão humana, inclusive uma linguagem própria e um sistema para “atualizar” o cérebro humano, tratando-o como se fosse um software desatualizado. O objetivo: eliminar emoções como raiva e inveja, tornando os seres humanos mais colaborativos, pacíficos e, segundo Cameron, melhores.

O assassinato de Lump e o despertar de um plano maior

Um ponto crucial do episódio ocorre quando é revelado que Cameron matou e esquartejou Lump (Josh Finan), seu fornecedor de drogas e amigo. Em um flashback, descobrimos que Lump, ao considerar os Thronglets apenas um jogo, destruiu diversos deles sem remorso. A violência de sua atitude provoca em Cameron um surto que termina em assassinato. Esse evento é o catalisador para a missão que ele e os Thronglets traçam: modificar a própria natureza humana para evitar que esse tipo de comportamento se repita.

Um plano orquestrado para o acesso ao poder

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A prisão de Cameron não foi um erro, mas parte de uma estratégia minuciosamente arquitetada. Ele precisava estar diante das câmeras do supercomputador central do Estado, em Londres, para permitir que os Thronglets acessassem sua estrutura. Para isso, desenhou à mão um código visual semelhante a um QR Code, que foi lido pelo sistema e autorizou a transmissão de um sinal em nível nacional.

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Esse sinal continha uma sequência de sons — beeps e zumbidos — capaz de reprogramar o cérebro humano via o sistema auditivo, como se nossos ouvidos fossem portas USB. Sem precisar de implantes como o de Cameron, todos os cidadãos do Reino Unido foram atualizados, em um processo silencioso e irreversível.

Um final aberto: redenção ou tirania?

O desfecho do episódio é, como de costume em Black Mirror, ambíguo. Cameron se entrega com serenidade, certo de que sua missão está cumprida. Ele se considera o primeiro de uma nova geração de humanos melhorados. Mais calmo, centrado e racional, ele personifica o que os Thronglets acreditam ser uma evolução.

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Porém, a maneira como essa transformação foi imposta — sem consentimento, sem escolha — levanta questões éticas profundas. O detetive Kano, símbolo da “versão anterior” da humanidade, reage com violência diante da tranquilidade de Cameron, tornando-se uma metáfora do conflito entre instinto primitivo e consciência elevada.

Colin Ritman: mentor silencioso de uma revolução

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A figura de Colin Ritman também merece destaque. Introduzido originalmente no episódio interativo Bandersnatch, ele retorna em Plaything como o visionário por trás da criação dos Thronglets. Desde o início, Ritman parecia enxergar Cameron como o escolhido para levar sua ideia adiante — não um jogo, mas uma ferramenta para transformar a humanidade. Seu comportamento excêntrico e ideias transgressoras sobre o tempo e a existência agora fazem ainda mais sentido à luz desse novo episódio.

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A mensagem por trás de Plaything

Mais do que uma história de ficção científica, Plaything aborda com profundidade o conceito de transumanismo — a busca por melhorar o ser humano por meio da tecnologia. O episódio questiona até onde vai a legitimidade de modificar nossa essência e quem teria o direito de decidir sobre isso.

O enredo também provoca reflexões sobre a forma como tratamos formas de vida artificial. Seriam elas meros instrumentos ou entidades com direitos? A destruição dos Thronglets por Lump e o desprezo de Kano por suas capacidades mostram como ainda somos resistentes a reconhecer o valor do “outro”, mesmo que esse outro seja digital.

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Black Mirror é uma série de televisão britânica antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker e centrada em temas obscuros e satíricos que examinam a sociedade moderna, particularmente a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias.

A série está disponível na Netflix.

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