O episódio de estreia da sétima temporada de Black Mirror, intitulado Pessoas Comuns (Common People), trouxe um dos finais mais sombrios e impactantes da série até aqui. Protagonizado por Rashida Jones (Amanda) e Chris O’Dowd (Mike), o capítulo mergulha em uma distopia profundamente emocional e tecnológica, onde a vida e a morte se confundem sob a influência de uma megacorporação. O desfecho trágico dos protagonistas oferece uma reflexão amarga sobre autonomia, dependência e desumanização em nome da “cura”.
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Amanda escolhe a morte sob o controle da tecnologia
Amanda, a personagem central do episódio, vive aprisionada dentro de seu próprio corpo após um procedimento experimental que substitui parte de seu cérebro por uma tecnologia da empresa Rivermind. A promessa era de salvação, mas a realidade é um pesadelo: sem pagar uma assinatura contínua, ela passa a ser obrigada a interromper qualquer atividade para recitar propagandas. Sua rotina vira uma tortura disfarçada de tratamento.
Em entrevista, Rashida Jones revelou que, apesar de Amanda estar sob o efeito do sistema Rivermind Luxe no momento de sua decisão de morrer, a personagem acreditava estar em seu estado mental mais sereno. Segundo a atriz, Amanda enxergava sua escolha como uma libertação — um ato de autoconsciência e aceitação do fim, não como um impulso desesperado.
Mike é consumido pela culpa e pela impotência
Mike, seu parceiro, é levado a cometer o ato mais devastador de sua vida: atender ao pedido da esposa e sufocá-la enquanto ela ainda é forçada a fazer propaganda do serviço que a aprisiona. Ao final do episódio, ele diz de forma enigmática que fará uma “coisa especial mais tarde”, sugerindo que também escolheu pôr fim à própria vida, incapaz de viver após tamanha perda e degradação.
A performance de Chris O’Dowd transmite com brutalidade a exaustão e o desespero de quem tenta salvar o que ama em um sistema que transforma afeto em sofrimento. A série, como de costume, não entrega respostas diretas, mas deixa no ar a forte impressão de que Mike seguiu o mesmo caminho de Amanda.
Uma crítica feroz à mercantilização da saúde
Pessoas Comuns se destaca por retratar uma distopia que, embora tecnológica, se conecta diretamente com a realidade de muitos. A dependência de um tratamento contínuo e inacessível, o sacrifício financeiro e emocional, e a falta de alternativas humanas traçam paralelos inquietantes com a indústria da saúde na vida real.
A jornada do casal é marcada por humilhações: Mike, desesperado por dinheiro, recorre a se autoferir em um site para gerar renda, e acaba sendo demitido após ser descoberto. Tudo isso apenas para tentar manter Amanda “funcional” — uma funcionalidade que não serve à vida, mas ao consumo.
Um episódio que recusa a esperança fácil
Diferente de outros capítulos de Black Mirror que flertam com finais abertos ou alguma centelha de redenção, o primeiro episódio da sétima temporada é implacável. Não há escapatória, nem redenção ou milagre tecnológico. O roteiro opta por expor até onde um sistema pode degradar os vínculos mais íntimos, esgotando qualquer traço de dignidade.
O sofrimento de Amanda e Mike não vem apenas da doença ou da tecnologia, mas da lógica que transforma o cuidado em produto, a dor em assinatura e o amor em desespero.
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Black Mirror é uma série de televisão britânica antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker e centrada em temas obscuros e satíricos que examinam a sociedade moderna, particularmente a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias.
A série está disponível na Netflix.