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Opinião: Por que a Ubisoft e a EA estão cada vez conquistando menos o apreço dos jogadores?

Pense rápido: qual foi o último jogo que você comprou achando que ia fazer um baita negócio e acabou dando com os burros n’água? Bom, se o que passou pela sua cabeça foi algum título da Electronic Arts ou da Ubisoft, saiba que tem muita gente por ai que se encontra na mesma situação que você.

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Até o ano passado, a Electronic Arts era conhecida por muitos jogadores como a pior empresa de games do planeta. Acusada de liquidar com franquias, lançar jogos mal acabados e de desrespeitar o fãs ao empurrar modos de jogo que ela impunha, ela acabou manchando sua reputação muito profundamente, fazendo com que alguns pensassem que ela seria a primeira a ser lembrada como um exemplo a não ser seguido, mas será que é assim mesmo?

Quem não se recorda do que aconteceu com SimCity no início de 2013? O jogo causou orgasmos nos fãs mais fieis da franquia quando foi anunciado justamente por prometer uma nova experiência de simulação de cidades. O problema, é que a EA resolveu empurrar goela abaixo dos jogadores um sistema de DRM muito fraco que obrigava a permanência online enquanto o jogo estava rodando, o que causou sobrecarga nos servidores, alem de uma série de erros que impossibilitaram muita gente de sair construindo suas cidades logo no lançamento. O mais interessante foi que o prometido modo offline só saiu quase um ano depois.

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Erro observado logo nas primeiras horas após o lançamento
Erro observado logo nas primeiras horas após o lançamento

Recentemente pudemos acompanhar a saga da Ubisoft com o lançamento de Watch Dogs. Apesar do jogo ter dividido opiniões no que diz respeito a sua qualidade, a verdade é a a comunidade de jogadores -na grande maioria usuários de PC- não gostou do produto final que recebeu, principalmente por ter sido enganada no que diz respeito aos gráficos já que o que foi visto na E3 de 2012 acabou sendo totalmente diferente do que se viu por ai no lançamento do jogo, agora em 2014.

O jogo causou tanto frisson, que inúmeros “memes” surgiram por ai comentando os erros da Ubisoft. Alguns deles diziam inclusive que a empresa dedicou-se tanto a combater a pirataria, que vai chegar um dia em que ninguém mais vai baixar os seus jogos de forma ilegal, e nem comprar os originais também. A comparação com a EA também acabou sendo inevitável, sendo que alguns até mesmo consideraram a hipótese da Electronic Arts já não ser mais tão ruim assim.

EA ubi

A verdade é que cada vez mais estamos nos deixando levar por trailers cinematográficos e pelos legados de jogos passados. Muitas vezes acabamos pré-julgando um jogo pelo seus antecessores ou por outros títulos de sucesso lançados pelas mesmas desenvolvedoras, o que nem sempre é garantia de qualidade. Mas nos casos citados acima o problema é ainda um pouco pior, pois podemos acompanhar uma tendencia que vem se repetindo gradualmente de grandes empresas prometendo jogos inovadores e entregando algo que realmente beira os limites da mesmice e do marasmo.

Eu costumo dividir os jogos em duas categorias, os que me dão a sensação de estar presente dentro da trama, de fazer parte do jogo e que me fazem realmente me sentir afetado por tudo o que está ao meu redor, e aqueles que eu jogo mais casualmente, só pra me divertir naquele momento e que não necessariamente necessitam de muito “esforço” para serem jogados. Por exemplo, um jogo no qual eu me sinto realmente imerso é Diablo II, pois ele realmente parece ser feito para causar uma sensação de angústia de que o mundo vai sucumbir a vontade do vermelhão. Já em Counter Strike, eu não preciso me sentir tenso na hora de dar defuse na bomba acabo me divertindo de uma forma totalmente diferente. Entendam aqui, que eu não estou enaltecendo ou desmerecendo qualquer um dos dois títulos -afinal de contas eu citei dois de meus jogos prediletos -, mas existe uma diferença bem visível entre os modos de jogo dos dois já que um coloca em situações difíceis e tenta te desafiar de todas maneiras a vencer cada pequeno monstro do jogo, enquanto o outro te desafia a ter habilidades maiores do que o adversário na busca de pontos, no final quem tem mais, ganha.

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Pra tentar entender melhor o que eu quero dizer, vamos trazer essa situação para o cinema com as duas trilogias da saga Star Wars. A trilogia antiga feita lá nas décadas de 70/80 possui bons efeitos especiais para a época e épicas cenas de ação, mas o seu grande triunfo fica a cargo do enredo muito bem construído através de simplicidades e excentricidades que posteriormente deram origem a todo um universo imaginário. Já a nova trilogia foi concebida em outra época e com outros padrões, o que gerou filmes com alta carga de ação e efeitos especiais, mas que acabou deixando a desejar no enredo principalmente para quem esperava algo nos moldes dos filmes antigos. Ambas são trilogias muito boas, mas na maioria das vezes, cada uma agrada mais um público específico que prefere gêneros diferentes.

Ta bom, talvez algumas coisas tenham passado do limite mesmo
Ta bom, talvez algumas coisas tenham passado do limite mesmo

Essa diferença que tentei explicar aqui era muito mais visível há uns anos atrás, pois os jogos tinham escopos diferentes e se propunham a te oferecer experiências que não precisavam de um achievment para dar aquela sensação de dever cumprido. Mas e como fazer algo que agrade aos dois públicos? O mais lógico seria misturar quantidade ponderadas de cada elemento para que no final o produto acabe tendo um pouco de tudo, certo? Pergunta complicada essa, ainda mais sabendo que o conceito de ponderado varia bastante de pessoa pra pessoa. Mas basicamente o mercado de jogos vem ultimamente mesclando muita coisa num jogo só, e o resultado é uma bagunça tão grande que as vezes nem da pra saber o que você tem que fazer primeiro.

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Essa ideia de juntar dois modos de jogo não é necessariamente ruim, mas o problema é que algo sempre acaba sendo sacrificado. Por exemplo, em Far Cry 3 você ganha mais pontos se conseguir pegar o lider dos bandidos que tomam pontos específicos no mapa na faca, pois essa é uma tradição da tribo local. Claro que isso adiciona um grau de dificuldade ao jogo, mas acaba sacrificando a possibilidade do jogador tentar realizar aquela ação de um modo mais criativo, seja se posicionando em um ponto específico do mapa para conseguir um bom ponto de sniper, ou ainda tentando botar fogo na casa inteira e emboscar o cara no meio das chamas.

A série GTA sempre foi um exemplo perfeito de um jogo bem ponderado. Você podia entrar de cabeça dentro do enredo do jogo completando missões muito bem elaboradas ou até mesmo as galhofas que sempre se encontra no meio do jogo, ou sair tocando o terror por ai só pra ver o circo pegar fogo. Quando os caras perceberam que ambos os estilos de jogo agradavam, o que eles fizeram? Colocaram uma conquista para quem atropelava mais velinhas com bolsa azul originárias da patagônia? Não! Eles criaram um modo de jogo totalmente novo que te permite jogar no melhor estilo “The zuera never ends” chamado GTA Online.

Conversando sobre esse assunto com o Eric há uns dias atrás, ele me lembrou de Far Cry: Blood Dragon que tem como objetivo fazer uma mistura entre um shooter atual e os filmes mais caricatos dos anos 80. O resultado foi bastante interessante e nesse ponto eu acho que a Ubisoft mandou bem por tentar oferecer aos jogadores uma alternativa onde a galhofa predominava. Apesar do jogo não permitir que você aja da forma como preferir, é uma excelente pedida pra quem quer dar umas boas risadas sem sair de dentro da engine de Far Cry 3. Talvez esse seja um bom caminho a ser seguido pela desenvolvedora francesa de agora em diante.

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Aposto que muitos que estão lendo esse texto sequer se preocupa com o que foi citado aqui, mas eu realmente sinto falta disso e ainda digo mais, a Ubisoft é campeã em fazer em colocar coisas de mais em um jogo só. Todo ano temos uma nova edição de Assassins Creed e vemos uma franquia que poderia ser muito bem explorada e oferecer experiências totalmente imersivas ser lançada de uma forma um pouco diferente, misturada com um sistema que não te recompensa tanto com pontos mas que te obriga a realizar missões de uma forma mais mecânica, sem ter que usar tanto a sua criatividade. A maior prova disso é que a cada edição o “Parkour” está mais mecânico e o sistema de batalhas só tem movimentos novos como novidade e tudo se resume a apertar botões de forma ordenada, tanto pra escalar uma parede, pular uma ponte ou bater em alguem, sem brilho e sem grandes desafios. Outra coisa que as vezes me deixa confuso é a grande quantidade de minigames no meio da campanha principal que de certa forma acabam fazendo com que você se “perca” da rota principal do jogo. Interessante mesmo é perceber que em algumas situações os minigames são mais interessantes do que o próprio jogo em si.

Apesar de eu estar descendo o pau na Ubisoft, a EA não passa muito longe disso. Ultimamente a empresa vem nos agraciando com uma série de jogos pra lá de insatisfatórios e que não cumprem a proposta que muitas vezes é feita nos trailers, mas  pra não ficar citando exemplos específicos eu só vou colocar o título de um game que resume muito bem o que eu quero dizer: Dragon Age 2.

Mas por que será que cada vez mais isso vem ficando mais evidente? Será mesmo que essa tendência é algo de agora, ou já vem lá de antigamente e fomos nós que não percebemos? A resposta pra isso eu realmente não sei, talvez se parassemos pra analisar os títulos antigos de cada empresa nós pudéssemos chegar a alguma conclusão definitiva. A verdade mesmo é que muitas vezes os gráficos extremamente realistas são colocados em extrema evidência, enquanto o resto do jogo acaba ficando como coadjuvante.

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Ver empresas que outrora nos agraciaram com excelentes jogos e que eram referencia no mercado, tornarem-se alvo de tantas criticas por parte do seu próprio púlbico é algo lamentável, mas previsível. Talvez esse tipo de coisa sirva pra mostrar as desenvolvedoras que não basta lançar um título todo ano, o que nós queremos mesmo é algo conciso, bacana, e que ofereça mais do que um visual bonito tanto se for um jogo imersivo ou extremamente casual.

Claro que ambas ainda nos oferecem bons jogos e  alguns títulos que ainda não sofrem dos males citados aqui, mas é visível que os jogadores de hoje já estão cansados de receber a mesma coisa todo ano, com algumas pequenas melhorias aqui e ali. Cadê a criatividade e a inovação? Será que estes serão atributos que vão ficar a cargo somente das desenvolvedoras indies daqui há alguns anos? Deixe sua opinião nos comentários.

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João Víctor Sartor
João Víctor Sartorhttp://criticalhits.com.br
João Víctor Sartor é colaborador e sex-symbol do Critical Hits. Admirador das boas histórias, almeja de verdade escrever um livro algum dia. Divide seu tempo entre à leitura, jogatina, trabalho, engenharia e quando sobra tempo, vive.