Fechando a segunda trilogia de filmes de uma das maiores equipes de super-heróis da história, X-Men: Apocalipse é tanto um final como um novo início, já que é o primeiro impulso da nova timeline e além de introduzir novos atores aos papéis dos personagens que já conhecíamos, invalidará toda uma trilogia que terminou de maneira trágica e agora existe apenas em nossas memórias. Mas será que este novo capítulo segue a qualidade de seus dois antecessores ou caiu na “maldição” do terceiro filme?
A trama, como o nome já sugere, gira em torno do primeiro mutante da história, En Sabah Nur (Oscar Isaac) que viveu há milhares de anos atrás e permaneceu adormecido até acordar na época atual – que na verdade são os anos 80. Seu objetivo é apenas um: garantir a supremacia dos mutantes e dizimar os humanos da face da Terra. Para isso ele conta com quatro cavaleiros, os Cavaleiros do Apocalipse, que são Tempestade (Alexandra Shipp), Psylocke (Olivia Munn), Arcanjo (Ben Hardy) e Magneto (Michael Fassbender).
Apocalipse é introduzido de uma forma muito boa logo no início e já deixa claro que todo o filme será centrado nele, mas não é isso que acontece. No desenvolvimento do vilão podemos já perceber o quanto o roteiro é superficial, deixando acontecimentos importantíssimos sem explicação que não seja “obra do acaso”. Algumas conexões feitas no caminho que En Sabah Nur percorre selecionando seus cavaleiros são legais de ver e dão a entender que mais está sendo preparado para o futuro, mas são igualmente baseadas em nada.
Oscar Isaac consegue se virar muito bem no papel, mas não é capaz de nos tirar a atenção do visual lamentável do vilão. Acho que não é necessário comentar muito mais sobre isso, Apocalipse não é ameaçador, é muito artificial e a maquiagem do ator grita, além dos closes de câmera na separação dos dentes do ator que são, no mínimo, cômicos.
Já os quatro cavaleiros impressionam com seu visual extremamente fiel à suas versões dos quadrinhos e se beneficiam muito da época em que o filme se passa, o que torna muito aceitável seus trajes e penteados extravagantes. Tempestade, Psylocke e Anjo parecem ter sido jogados diretamente das páginas dos quadrinhos para o filme e seus poderes também são lindos de se ver, com efeitos especiais de uma qualidade incrível. Os três, porém, caem no mesmo problema de Apocalipse e além de serem pouco desenvolvidos, ainda ficam sem história pregressa.
Magneto é o que tem maior papel entre os cavaleiros, principalmente por já ter aparecido e ter sido amplamente desenvolvido nos dois filmes anteriores. A história do personagem começa muito bem com plot e motivações bem críveis, mas se perde após ele se juntar ao vilão e seus três companheiros. A partir daí o que aparenta é que Erik Lehnsherr não é nem herói nem vilão e até suas motivações que antes eram muito bem explicadas parecem não ser o que o guia.
Como são muitos personagens, a culpa da falta de destaque aos três cavaleiros citados primeiramente e a falta de direcionamento de Magneto deve ser atribuída diretamente a Bryan Singer que toma uma série de atitudes erradas que são facilmente perceptíveis em todo o filme. Uma delas é o tempo em cena dos personagens que não tem ritmo algum, como se as cenas tivessem sido separadas com o pensamento de “ok, agora personagem X aparece em cena, luta um pouco com personagem Y e depois é jogado em uma pilha de pedras e só volta daqui a dez minutos”.
E se de um lado falta história, do outro temos uma boa dose dela para o deleite dos fãs da franquia. Noturno (Kodi Smit-McPhee) é um dos principais destaques da equipe e tem momentos muito bons, tanto em cenas de humor, quanto nos combates. Ciclope (Tye Sheridan) é um dos poucos que tem uma história de origem e é o mutante mais inexperiente da equipe, o que mesmo destoando de sua posição de liderança em toda a história dos X-Men não chega a incomodar.
Sophie Turner representa muito bem Jean Grey e demonstra o domínio de cena que os que acompanham seu trabalho estão acostumados a ver. Dentre os jovens ela é a mais experiente e tem uma ligação mais forte com o Charles Xavier (James McAvoy), principalmente pela amplitude se seus poderes e pela habilidade de telepatia. Jean poderia ter sido muito mais desenvolvida na “batalha final” do filme – não que tenha sido pouco, mas poderia ter sido mais – e também cai no problema do tempo em cena já citado, só roubando a cena quando é a devida hora de seu destaque.
E falando em roubar a cena, quem mais uma vez o faz é Mercúrio (Evan Peters) que é de longe o melhor personagem do filme. Desta vez, Pietro ganha muito mais importância na trama e a enche de humor até nos momentos mais sérios. Suas cenas em slowmotion são ótimas e a principal, ao som de “Sweet Dreams (Are Made Of This)”, sozinha já faz o ingresso valer.
Para Mística (Jennifer Lawrence) sobra desta vez a liderança indesejada da equipe, que na verdade não é bem uma liderança. Podemos perceber que esta é a intenção, mas ela só é colocada no posto por ser a mutante mais experiente entre os heróis e quando a batalha finalmente chega é “cada um faz o seu”.
Fera (Nicholas Hoult) é mais uma vez um sidekick e tem menos espaço neste do que nos dois filmes anteriores. Ainda não é o sábio Fera que estamos acostumado a ver, mas também não é um personagem descartável, ele está em desenvolvimento e posso apostar que no próximo longa seu papel será mais importante.
A direção não é de todo ruim, e uma ótima sacada para fazer um dos principais personagens não ficar em segundo plano foi usá-lo como chave. Obviamente eu não vou falar que tipo de chave Charles Xavier é, mas ele serve para muitas coisas no filme além de explicar porque diabos o professor mais conhecido do mundo é careca.
O que a direção infelizmente não conseguiu foi lidar com todos estes subplots dando a atenção devida a cada um deles. Isso faz com que o filme acabe sendo superficial em histórias que deixem o público interessado e o mergulhem no filme e acabe guardando toda a emoção para as lutas épicas e destruições em massa repletas de efeitos especiais.
O roteiro do filme deixa bastante a desejar, é fraco em vários aspectos e muitas vezes previsível. Ele é uma prova de que a saga precisa de sangue novo não só no elenco, mas também na produção, com uma equipe que saiba pensar diferente e entregar algo que não siga um modelo presente em diversos filmes ou tenha coisas que os fãs de uma franquia que já esteve literalmente em todos os lugares já viram.
Mas você sabe por que X-Men: Apocalipse não é um filme ruim? Porque ele é fan service puro. Não só no visual de todos os personagens (exclua Apocalipse disso), mas o clima do filme, as lutas entre heróis e disputas de poderes e até algumas participações como a de Jubileu são puramente para alegrar os fãs dos X-Men. Se você cresceu assistindo a série animada dos X-Men, ou X-Men: Evolution, ou jogando um Marvel Super Heroes ou Marvel vs. Capcom, este filme foi feito para você.
O que é diferente nesse sentido é que o fan service aqui não é escondido ou transformado em easter eggs, ele está escancarado, espalhado por toda parte e até nas cenas de humor conseguirá agradar àqueles que sempre amaram a equipe. A participação de Wolverine (Hugh Jackman) também entra no elemento fan service, apesar de ter ligação direta com alguns acontecimentos e possivelmente com a continuação deste filme.
X-Men: Apocalipse consegue ser bom, mas pura e simplesmente porque os produtores entenderam o que os fãs queriam ver. Em filmes de mutantes, a audiência quer ver mutantes e poderes e isso o longa entrega e muito bem. A fidelidade ao material original é incrível e mesmo com diversos problemas principalmente de roteiro e direção, creio que ele não vá desagradar ninguém ou deixar alguém decepcionado, talvez deixe a sensação de que poderia ser muito mais e que os problemas são tão evidentes que seria fácil consertá-los, mas ainda assim vale a pena.
Resumo para os preguiçosos
X-Men: Apocalipse é o puro creme do fan service. Ele conta com personagens extremamente fiéis às suas versões dos quadrinhos, humor e atmosfera que agradará principalmente aos fãs da equipe. Possui muitos problemas, roteiro fraco e previsível e direção que deixa a desejar, mas brilha onde realmente importa: nas lutas entre mutantes.
Creio que o filme agradará a todos aqueles que o assistirem, não é uma grande produção, muito menos um filme perfeito, mas consegue ser bom em uma das coisas que realmente interessam e seus problemas não parecem ter um peso real no futuro da saga e nem incorrigíveis.
Possui cena pós-créditos.
Prós
- Personagens fiéis
- Ótima escolha de elenco
- Fan service puro
- Mercúrio
- Bastante humor
- Sophie Turner
Contras
- Visual de Apocalipse
- Roteiro fraco e previsível com vários furos
- Direção deixa a desejar
- Tempo de cena dividido dos personagens incomoda
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