É comum jogos colocarem o jogador na pele de um mafioso que deve fazer seu império evoluir em uma cidade corrupta, ou um simples policial que deve ir às ruas, perseguir, interrogar e prender bandidos. Já colocar o jogador na pele de um chefe de polícia, que deve comandar seu esquadrão dos bastidores e combater (ou se juntar) a máfia, não é tão comum assim; talvez seja por isso que a premissa de This is the Police soa tão original.
Em This is the Police você é Jack Boyd, um chefe de polícia já velho, prestes a se aposentar, e deve garantir que os últimos seis meses dele no comando do departamento sejam tranquilos, mantendo a ordem e agradando o prefeito e demais pessoas importantes da cidade de Freeburg (incluindo mafiosos). Você também deve garantir que Jack se aposente com uma boa grana em caixa – 500 mil, para ser específico – e fazer isso sem sujar as próprias mãos é um dos maiores desafios.
Grande parte dos 180 dias de This is the Police são gastas olhando para o mapa isométrico de Freeburg. Nele o jogador pode ver os policiais disponíveis e aqueles que estão atendendo algum chamado. As ligações do lado esquerdo e os pedidos da prefeitura, máfia ou alguma outra pessoa influente no lado direito. A interface é simples e bem feita, tornando fácil acessar tudo o que é possível fazer no game a partir dela.
O jogo oferece uma enorme variedade de atividades, sendo as mais comuns responder a chamados e escalar equipes de policiais para comparecer ao local. O número de policiais requirido depende da seriedade da situação e é preciso pensar bem antes de mandar muitos de seus companheiros em uma única ronda, já que podem haver outros chamados enquanto eles estão a caminho e você poderá ficar sem contingente para atendê-los – o que pode terminar com um criminoso nas ruas e um civil morto.
Além disso, a máfia, a prefeitura e pessoas influentes frequentemente pedem que você abra mão de alguns de seus policiais para que estes cumpram deveres não relacionados a seus trabalhos. Caso recuse esses pedidos, você desagradará aqueles com real poder, caso mande seus policiais eles tanto podem voltar a salvo e alegres, como podem encontrar um emprego mais rentável e se demitirem ou acabar mortos por qualquer motivo. É necessário manter seus parceiros felizes e prontos para o trabalho.
A equipe de policiais é dividida em turnos e é necessário tratar bem cada um deles e saber quando um turno precisa de mais contingente. Cada um deles possui uma pontuação própria, quanto maior o número, mais confiável ele é. Se mandar um policial em muitas missões ele ficará cansado e pode pedir para ficar em casa, ou você mesmo pode dar uma folga a ele – policiais cansados podem se envolver em acidentes durante o trabalho e são mais suscetíveis ao alcoolismo. É claro, é possível demitir policiais que arrumem desculpas para ficar em casa ou aqueles que estão bebendo demais, pedir para eles folgarem o quanto quiserem ou só trocá-los de turno, assim como é possível tratá-los bem e ajudá-los a melhorar. Tudo depende do tipo de jogador que você é.
Tudo gira em torno do dinheiro que entra no departamento de polícia – que pode vir da máfia através da venda de armas e jóias encontradas na cena do crime ou da prefeitura através de salário – e da quantidade de policiais que você tem à disposição. Desagradar a máfia significa menos dinheiro no caixa e um perigo à vida de Jack; desagradar a prefeitura significa menos dinheiro para o departamento e menos vagas para repor os policiais mortos. Infelizmente o jogo não lhe permite seguir um caminho totalmente limpo até o final, ou seja, se você jogar apenas agradando a máfia seu departamento acabará sem policiais para atender chamados; se jogar apenas agradando a prefeitura você acabará morto pela máfia.
Além desse jogo de segundas intenções, This is the Police ainda oferece muitas histórias secundárias, como a vida do próprio Jack, apresentada por meio de cutscenes que lembram histórias em quadrinhos simples e possibilitam que o jogador escolha os diálogos e assim defina o futuro do policial. É como se a história de Jack se desenrolasse sem depender das ações realizadas no comando do departamento. Embora entenda que seria muito trabalho mesclar ambos, creio que ainda seria possível fazer as ações do jogador refletirem na história principal.
E não há apenas policiais em This is the Police, mas detetives que também trabalham sobre o comando de Jack e frequentemente recebem casos onde o jogador deve descobrir o que realmente aconteceu na cena do crime através de puzzles. Nestes casos, cabe a você ler os depoimentos de testemunhas e colocar na ordem certa as pistas que os detetives lhe trazem, descobrindo assim o verdadeiro culpado e podendo mandar o detetive no comando junto com alguns policiais para prender o suspeito.
Esse modo de investigações é o mais confuso do jogo. No Switch a transição entre depoimentos e pistas é bem complicada pela falta de indicação visual e a ordenação de pistas mais ainda. Não há como saber se os detetives conseguiram todas as pistas ou qual delas está na ordem errada, o que obriga o jogador a tentar até a exaustão ordená-las no escuro até que o jogo dê algum aviso de que a ordem está correta – ou até que o jogador se canse e arquive o caso.
This is the Police é um bom jogo de estratégia e oferece muitos desafios ao jogador de diferentes formas, mas tende a ser injusto ou sem sentido com bastante frequência, e isso é bem frustrante. Algumas missões deixam o jogador numa corda bamba e obrigado a escolher a opção que lhe desagrada menos. Outras não fazem o menor sentido – como ordens para demitir todos os policiais homens – e tiram todo o realismo que o jogo apresenta no início.
O game se torna bem repetitivo também perto da metade da campanha, sendo vários dias sem desenvolvimento da história ou algo do tipo, apenas patrulhas e investigações, patrulhas e mais investigações. Outras sequências da campanha são carregadas de história, com cutscenes quase todos os dias. A desenvolvedora Weappy poderia bem ter balanceado história e jogabilidade e tornado o jogo bem menos maçante.
É uma pena que o jogo apresente falhas como essas no quesito jogabilidade, porque em todo o resto This is the Police é excepcional. O visual é muito bem feito, ilustrações detalhadas porém simples, narrativa repleta de personagens carismáticos que não possuem feições, trilha sonora que combina com o clima noir e a temática do game.
Além disso, eu não poderia deixar de citar a narração impecável presente em This is the Police, um trabalho magnífico que conquista o jogador a partir do primeiro diálogo e o prende a cada cutscene e fala de Jack ou qualquer outro personagem.
No fim, This is the Police é uma experiência satisfatória. Sua narrativa é excelente, apesar das falhas e de como o game se arrasta através da jogabilidade no meio da campanha. A narração, a trilha sonora e todo o visual empregado dele são excepcionais, um show a parte. É um jogo recomendado para fãs de estratégia e para quem gosta de histórias com temática policial.
Review elaborado com uma cópia do jogo para Nintendo Switch fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
This is the Police é um jogo recomendado para fãs de estratégia, temática policial e campanhas que possibilitam que o jogador tome decisões e influencie no rumo da história. Não é um jogo perfeito, mas entrega jogabilidade competente e bem feita e brilha em detalhes como narração, trilha sonora e na arte das cutscenes.
Prós
- Narração excepcional
- Belo visual e trilha sonora que combina com a temática
- Variedade de atividades
- Narrativa excelente
Contras
- Repetitivo
- Missões que não fazem sentido
- Modo de investigações confuso
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