Harvestella vale a pena? Análise – Review

A Square Enix tem experiência de sobra quando o assunto é lançar jogos de qualidade. Harvestella, por exemplo, é a tentativa da Square em reproduzir o sucesso de jogos como Rune Factory e do sucesso Stardew Valley, com orçamento mais contido do que jogos AAA.

Harvestella é um jogo que mistura dois gêneros diferentes em um projeto, no mínimo, ambicioso. A proposta é simples: o jogador deve produzir seus próprios recursos a fim de encontrar maneiras de avançar na história do game, que se desenrola como um típico de um RPG de ação.

Como não poderia deixar de ser, Harvestella tem as complexidades típicas de um jogo produzido pela Square Enix. Em termos de história, é contado que o mundo do jogo possui quatro cristais responsáveis por alternar as estações do ano. Do nada, os cristais começam a se comportar de maneira diferente e criam uma nova estação de apenas um dia chamada “Quietus”. Nesta estação, o mundo é coberto por uma névoa estranha e tudo que se aventura nela, morre.

O jogo começa com o jogador acordando misteriosamente em uma vila após o Quietus, sem lembrar de absolutamente nada. Após ser cuidado pelos moradores, o jogador é transferido à uma espécie de Galpão, que serve como início da sua jornada pela agricultura!

Depois de um certo tempo, acaba-se descobrindo que o distúrbio dos cristais parece ser mais sério do que se imaginava, e cabe a você descobrir exatamente o que está acontecendo e tentar evitar o pior.

Enquanto Harvestella não está te obrigando a descer o braço em monstros aleatórios, o gameplay é bem típico dos jogos de fazenda que conhecemos. Plante, cuide dos seus canteiros, colha e ganhe dinheiro. Conforme o tempo vai passando, plantações e recursos mais complexos vão ficando disponíveis, renovando o interesse por descobrir novas possibilidades.

Talvez o ponto mais interessante de Harvestella seja justamente o motivo pelo qual você continua cultivando sua terra. Não é só mais para ganhar dinheiro e ir melhorando sua fazenda. O objetivo agora é salvar o mundo, e a forma como você cuida de sua fazenda trará mais ou menos benefícios durante a sua jornada.

Harvestella conta com todos os aspectos que um bom jogo de fazenda deveria ter. O calendário de 30 dias é utilizado para dividir as estações do ano, e cada estação conta com um conjunto específico de plantas a serem cultivadas. É preciso gerenciar seu tempo e energia para conseguir dar conta de todas as tarefas, além de claro, se um cidadão ativo da vila.

O sistema de progressão é um tanto quanto esquisito, já que para liberar novas capacidades e habilidades, o jogador precisa realizar tarefas específicas como colher determinada quantidade de uma fruta específica que vai te permitir usar a enxada mais vezes. Até que funciona bem, mas por ser um tanto diferente do que estamos acostumados, faz com que Harvestella quase soe como um jogo mobile.

Apesar de no início as coisas parecem bastante promissoras, com o tempo percebe-se que a parte do cultivo é bastante limitada e poderia ser melhor. Mesmo após a criação de animais estar disponível, Harvestella não consegue ser um jogo de fazenda que estimule ou que te mantenha interessado mesmo após o início de um novo ano. É literalmente como se o jogo te pedisse para focar mais na parte de RPG e relevar a falta de graça em continuar melhorando sua fazenda.

De fato Harvestella brilha no quesito RPG. Chega a ser impressionante ver seu grupo viajando para outras cidades e desbravando o mapa, se aventurando por masmorras e mistérios sem fim, ao mesmo tempo em que o jogo te faz lembrar que você talvez tenha esquecido de dar a devida atenção à sua plantação de trigo.

A cadência entre estas duas mecânicas, fazenda e RPG, é surpreendentemente funcional e divertida. O único ponto negativo é o fato da fazenda se mostrar tão limitada a partir de determinado momento, o que acaba gerando até uma frustração em continuar a melhora-la. Com o tempo, sua fazenda pode acabar tornando-se um fardo, já que não mantém o mesmo nível visto no começo do jogo, onde tudo é novidade e realmente interessante.

O combate de Harvestella também chama atenção por se apresentar como um sólido hack n’ slash. Particularmente acho que essa foi uma escolha bem adequada para o estilo de jogo, pois a adição de um complexo sistema de turnos poderia deixar o gameplay pesado e gerar uma dificuldade artificial inútil. Esse formato mais fluído torna as batalhas mais divertidas e o jogo como um todo, muito mais leve.

Mas não se engane, já que apesar de simples, os combates podem ser bastante desafiadores. Além de coordenar seus companheiros, o jogador precisa estar sempre atento às fraquezas do inimigo e conferir se possui os itens necessários para causar o maior dano possível. Não é nada extremamente complexo e inovador, mas consegue segurar bem o tranco e manter o interesse. Vale mencionar também, que o jogo conta com o característico sistema de “Jobs” da Square Enix, o que por si só já é suficiente para chamar atenção de qualquer fã de Final Fantasy.

Em geral, Harvestella é um bom jogo, que consegue apresentar uma mecânica inovador que mistura fazenda e combate. Nenhum dos dois “subgêneros” é melhor do que o outro, mas funcionam bem em conjunto.

A quantidade de tarefas é realmente surpreendente e dificilmente você vai se pegar sem nada para fazer, pelo menos se souber se organizar. Os gráficos também não são nada surpreendentes, mas são bonitos e agradáveis, principalmente no que diz respeito ao design dos inimigos.

Acredito que o principal problema de Harvestella seja a falta de equilíbrio entre os dois gêneros, já que em determinado momento, a parte de combate é muito mais interessante do que cultivar sua fazenda. Em termos simples, a impressão que se tem é que você atinge o ápice do desenvolvimento de sua fazenda muito antes de chegar ao final da história, o que realmente pesa e transforma o cultivo, cuidado com os animais e produção em geral, em algo bem enfadonho.

Ainda assim, não dá pra dizer que Harvestella é um jogo ruim. Poderia ser muito melhor, mas é divertido e acaba sendo uma das propostas mais interessantes que vi nos últimos anos.

Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela publisher. Jogo disponível para Nintendo Switch e PC.