Não é fácil ser fã de Star Wars. Há uns tempos atrás, tínhamos muitos jogos baseados na série, mas nenhum filme. Hoje, temos muitos filmes sendo lançados por ai, mas praticamente nenhum jogo. Não é estranho? Star Wars: Squadrons acaba de chegar para ajudar a preencher este vazio.
Na verdade, é sim. Chega a ser difícil entender por que em plena “Primavera” da indústria de jogos, tenhamos tanta dificuldade em ver jogos de Star Wars sendo lançados por ai, quando na verdade o mercado parece estar pronto para absorver praticamente qualquer coisa com um sabre de luz que seja jogado nele.
Mas a verdade é que as coisas não são bem assim. Nos últimos anos, alguns fãs tem defendido que o nome “Star Wars” já não significa a mesma coisa que antigamente, já que os filmes não tem mais o mesmo significado, e a maioria dos jogos lançados nos últimos 15 anos não agradou.
Por isso, quando Star Wars: Squadrons foi anunciado teve tanta gente se preocupando por ai. Neste review eu pretendo dar os meus pitacos sobre se toda esta preocupação teve algum fundamento, e se o jogo faz jus ao legado da franquia.
Primeiramente, é preciso revisar os títulos anteriores de Star Wars baseados em batalhas espaciais. Star Wars: Squadrons não é a primeira entrada que deixa de lado a batalha explícita de sabres de luz, para focar em confrontos diretos entre as tão amadas e populares naves imperiais e rebeldes – que convenhamos, possuem tanta personalidade quanto a maioria dos personagens mais icônicos de Star Wars!
Foram tantos bons jogos, que chega ser difícil elencar qual o melhor, mas o meu preferido é Rogue Squadron, de 1998. Apesar das limitações técnicas daquela época, o jogo brilha em conseguir oferecer uma experiência satisfatória de combate, capaz de satisfazer a maioria dos fãs da franquia que procuravam emular a sensação de sentar no cockpit de uma X-Wing.
Sendo assim, é totalmente aceitável a preocupação que Squadrons siga o mesmo modelo de desenvolvimento dos dois Battlefronts mais recentes: a simplificação máxima, que visa tornar o jogo fácil o suficiente para atrair até mesmo o jogador mais casual.
Em uma época em que já temos tantos bons jogos de batalhas espaciais disponíveis por ai, será que a EA conseguiu dessa vez?
Mais ou menos. Talvez a resposta mais adequada seja justamente: depende. Star Wars: Squadrons oferece um sistema de controles simplificado o suficiente para ser fácil de aprender, mas um tanto quanto contra-intuitivo quando jogado no controle.
Com isso, quero dizer que apesar de simples, é difícil compara-lo à outros tantos jogos disponíveis por ai. Ao mesmo tempo em que senti facilidade no controle da velocidade e da movimentação horizontal, demorei a conseguir dominar os controles a ponto de realizar desvios e mudanças bruscas de direção, sem me confundir e diminuir a velocidade.
Talvez isso soe um tanto quanto bobo para alguns leitores, mas o fato é que o sistema de pilotagem de Elite: Dangerous – muito mais complexo e detalhista – me pareceu menos complicado do que o de Star Wars: Squadrons em alguns momentos.
Contudo, não há como negar que o clima de Star Wars permeia o jogo constantemente, o tempo todo. Logo no início, é oferecido ao jogador a possibilidade de customizar seus dois pilotos principais, que desempenharão papéis importantes na campanha rebelde e imperial. As missões de cada facção se entrelaçam e se alternam, de maneira que o jogo te permite acompanhar a história e os eventos sob diferentes pontos de vista.
Mas quem precisa de história quando o jogo te oferece a possibilidade de voar a curta distância de um Star Destroyer, enquanto desvia-se do ataque ferrenho das torres de defesa a toda velocidade? Na verdade, a história que poderia ter sido trabalhada de maneira muito superficial, se mostra muito bem produzida e relevante. Sendo assim, toda missão começa com a expectativa de uma batalha emocionante, mas acompanhada da vontade de saber o que vai acontecer a seguir.
Com o tempo, o game vai te permitindo melhorar e personalizar sua nave, além de possibilitar que você utilize outras naves características do universo Star Wars. A proposta fica ainda mais interessante no modo multiplayer, já que a troca de naves pode ser realizada no meio da partida, conforme exige a batalha.
Talvez o ponto mais alto de Star Wars: Squadrons seja a caracterização visual dos cockpits. É impressionante como o painel da Tie Fighter consegue passar a impressão de ser algo quase impossível de reproduzir mesmo com a melhor tecnologia de ponta atual disponível, ao mesmo tempo em que parece ter saído diretamente da década de 1970.
Com todo esse cuidado e apelo visual, fica fácil sentir-se na pele de um piloto, e tudo deve ficar ainda mais intenso caso você tenha condições de aproveitar o jogo em VR.
O problema é que, como ele parece tentar se vender como um grande atrativo para o público VR, existem alguns aspectos que acabam ficando esquisitos quando você joga no controle, ou no teclado e mouse.
Andar pela base e conversar com os personagens é algo que deixa bastante a desejar. Primeiramente porque você não anda de verdade pra lugar nenhum, e só seleciona pra onde quer ir, se vendo na nova localidade após um breve carregamento. Já os diálogos são totalmente passivos, com todo mundo conversando entre si sem nenhuma participação ativa do jogar.
Muitas vezes é como se você sequer estivesse ali, ou como se de fato seu personagem tivesse algum problema de fala. Tudo bem, sabemos que isso foi muito comum em jogos de RPG uns tempos atrás, mas foi a primeira vez que me senti realmente incomodado por ter minha imersão afetada por este detalhe.
Os briefings, detalhes, conversas… tudo parece um pouco superficial demais, como se não tivesse sido plenamente explorado como deveria. Como falei antes, algumas batalhas e momentos do jogo te fazer pensar que história não é tão necessário assim. Mas com uma narrativa que muitas vezes dá a impressão de estar acabada ou apressada, você quase sente vontade de sentar o dedo no botão e pular a cutscene de uma vez – algo triste, pra um jogo baseado no universo de Star Wars.
No final das contas, Star Wars: Squadrons me gerou alguns sentimentos confusos. Eu gostei da experiência, mas não senti que ela foi boa o suficiente ou que atendeu as expectivas. Ao me dar conta disso, entendi porque tanta preocupação acerca do modo como a EA vinha desenvolvendo o jogo.
Além disso, também entendi algo que talvez jogos de Star Wars hoje sejam tão raros porque naturalmente temos uma expectativa muito alta. Não é fácil agradar fãs de uma série tão antiga, e que já viveram tantas experiências saudosas ao longos dos anos.
Isso significa que devemos pegar leve com o que vem por ai? Não. Afinal de contas, acredito que já esta mais do que na hora da EA entender que apesar de ser uma franquia “família”, jogos de Star Wars podem ser melhores aproveitados caso sejam destinados á um público mais específico, e passem a oferecer uma experiência melhor e mais refinada.
Contudo, não posso dizer que Star Wars: Squadrons é um jogo ruim. Apesar de ter sentido que ele poderia ter me dado mais, eu me diverti bastante nas batalhas que vivenciei, mesmo brigando com os controles e achando que teria tido um desempenho melhor no mouse e teclado.
Sendo assim, posso recomendar a experiência para qualquer um que tenha interesse em sentir um gostinho de como deve ser pilotar uma Tie-Fighter ou uma X-Wing, no meio de uma batalha frenética, em pleno espaço sideral. Contudo, infelizmente, Star Wars: Squadrons não figurará como um dos melhores jogos da série, nem provavelmente será lembrado como um das experiências mais memoráveis baseadas na franquia.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PS4 Pro fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Star Wars: Squadrons é o primeiro jogo da série baseado no combate espacial desde o lançamento de Rogue Squadron 3, em 2003. Porém, mesmo após tanto tempo, a impressão é de que o produto final não evoluiu tanto quanto deveria.
Apesar do visual maravilhoso e do design perfeitamente baseado na franquia, o jogo peca nos controles – principalmente no joystick, e parece não saber se decidir se prefere priorizar a experiência do jogador convencional, ou daquele que utilizar equipamentos de VR.
Infelizmente, é mais um jogo que aparenta imenso potencial, mas que não tem força para ser tudo aquilo que esperávamos. Ainda assim, os combates são bastante divertidos e a experiência multiplayer é algo a ser vivenciada, principalmente na companhia de amigos fãs de Star Wars.
Prós
- Gráficos incríveis e aspectos visuais surpreendentes
- Mecânicas de combates divertidas e dinâmicas
- Design das naves
Contras
- Controles confusos e imprecisos
- História rasa e quase que descartável
- Personagem é tão passivo, que chega a quebrar a imersão.