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Full Throttle Remastered – Review

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Antes de começar este review devo alertar ao amigo leitor que não analisei o jogo em si, como estamos acostumados fazer. Todo mundo sabe que Full Throttle é um baita jogo. O que tentei fazer aqui foi avaliar a qualidade da remasterização e impacto que ela causa em quem revisita o jogo depois de tanto tempo.

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A Lenda do Fantasma Cinzento

Revirar lembranças sempre é um negócio complicado. Se não bastasse as lembranças ruins para que nos atormentam vez ou outra, existem também aquelas boas memórias que não resistem a ação do tempo e que vão ficando mais “cinzas” conforme envelhecemos. Quem aqui nunca foi revistar a casa dos avós depois de adulto e percebeu que o lugar não era tão mágico assim?

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Lendas antigas relatam a existência de um tal de Fantasma Cinzento, um ser imaterial que costuma povoar a mente das pessoas com a única finalidade de corromper nossos melhores e mais mágicos momentos em algo mais real e totalmente sem graça. Antigos povos pagãos afirmavam categoricamente que o Fantasma se apodera de tudo: desde memórias do seu aniversário de cinco anos até filmes, livros e jogos de vídeo-game. Não me pergunte como os povos pagãos tinha conhecimento sobre vídeo-games, pois esse é outro dos mistérios da humanidade.

A única forma de combater a ação desse ser miserável é reviver suas melhores lembranças para que sua vitalidade não seja sugada por ele. “Mas como se faz isso?”, você me pergunta. Eu não faço a menor ideia. Tampouco acredito na possibilidade de se viajar no tempo para tentar reviver suas memórias. É impossível viajar ao passado, mas já é possível trazer velhas lembranças ao presente da melhor forma possível.

A máquina do tempo chamada Double Fine

Já faz algum tempo que uma companhia muito simpática chamada Double Fine vem revitalizando jogos clássicos da LucasArts de uma maneira muito interessante. Grim Fandango e Day of the Tentacle por exemplo, foram dois títulos que foram revitalizados em algo que pudesse agradar tanto aos fãs mais antigos, como também à novos jogadores que nunca tiveram contato com point-n-click’s anteriormente. A forma como a Double Fine faz isso é um verdadeiro segredo, mas especula-se que ela tenha algum tipo de máquina do tempo capaz de trazer velhas memórias intactas ao presente.

Quando foi anunciado que Full Throttle também passaria por essa viagem temporal, senti um leve temor de que o resultado não ficasse tão bom quantos nos dois experimentos anteriores. Não por que Full Throttle fosse um game ruim – longe disso! -, mas por que esse jogo em específico possui uma série de particularidades únicas que poderiam tornar o processo mais complicado.

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Quando Full Throttle foi originalmente lançado lá em 1995, a LucasArts já enfrentava um dilema dentro de seus estúdios de desenvolvimento. O gênero point n’ click estava morrendo. Não que jogos desse estilo ainda não vendessem bem, mas na época outro games mais complexos começaram a aparecer no mercado e as super produções da LucasArts ofereciam grande risco de acabar em prejuízo. Por isso, a empresa precisava inovar e tentar cativar os consumidores novamente se quisesse continuar no mesmo segmento, e a única forma de fazer isso seria inserindo novos elementos de gameplay em Full Throttle e The Dig, outro game da empresa que foi lançado em 1995.

Essas mudanças forma bem recebidas na época e muitos dos fãs souberam apreciar as inovações presentes nos dois jogos. Mas o grande problema é que estas experiências da LucasArts foram utilizadas de maneira tão pontual, que o resultado original não envelheceu muito bem, ainda mais se considerarmos os padrões atuais. Por isso, a Double Fine corria sérios riscos de não conseguir reproduzir o mesmo sucesso tido com outros títulos remasterizados dessa vez, e acabar sucumbindo ao poder do Fantasma Cinzento. Felizmente, não foi isso que aconteceu.

Um dos grandes diferencias de Full Throttle é a possibilidade de queimar os pneus da sua moto pelas estradas do jogo buscando seus objetivos, ou simplesmente procurando alguém pra descer o cacete mesmo. Transformar algo que muitas vezes foi considerado um “improviso” dos desenvolvedores para ligar várias partes do jogo em algo que faça sentido nos dias de hoje não deve ter sido tarefa fácil, mas eu gostei bastante do que a Double Fine fez.

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Por ser um jogo point-n-click, Full Throttle acaba dependendo muito de elementos visuais praticamente o tempo todo. Esse também poderia ser um ponto negativo na remasterização, já que o visual pixelado dá época dá todo o charme do jogo e experiências anteriores de trazer jogos clássicos ao “HD” não deram muito certo. Final Fantasy VI que o diga, já que a versão para mobile para mais um jogo de flash do que um clássico do Super Nintendo.

No fim das contas a Double Fine soube contornar muito bem o problema e conseguiu transformar o estilo charmoso em algo ainda melhor, sem perder em nada para a versão original. Além disso, o game foi adaptado para monitores wide-screen sem nenhum tipo de comprometimento a jogabilidade. O único problema que dificultou a minha vida foi a possibilidade de alternar entre o visual remasterizado e o clássico, o que me fez ficar trocando praticamente o tempo todo entre dos dois modos e deixar de prestar atenção em qualquer outra coisa na tela.

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O áudio do game também recebeu melhorias e agora você pode ouvir todos os personagens falando em alto e bom som, sem nenhuma interferência ou problema de qualidade. Nada mais justo para um jogo que foi um dos primeiros a contar com a formidável atuação de Mark Hamill como o vilão Ripburger.

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Mesmo com todas essas melhorias presentes na versão remasterizada, eu acho difícil que a geração mais jovem acabe se apegando tanto ao game. Repito mais uma vez: não é por que o jogo é ruim! Mas sim por que foi produto de outros tempos onde jogos de vídeo games tinham de fazer muito com muito pouco. No estado atual onde os jogos oferecem uma experiência completa de imersão, sobra muito pouco espaço para títulos que ofereçam algumas lacunas para que o espectador preencha-a com sua própria imaginação.

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Vale a pena, ou não?

Como já mencionei acima, Full Throttle é produto de outra época. Um verdadeiro jogo do século passado. Entretanto, a trama é tão bem feita e o estilo visual tão cativante que o game consegue divertir sim ainda nos dias de hoje.

Mesmo que você não tenha jogado nenhum jogo da LucasArts na época em que eles eram o supra sumo dos games, tenho certeza de que as referências que aparecem durante as andanças de Ben e da sua gangue, os Polecats, vão te encher de nostalgia e saudades da melhor década de todos os tempos. Agora, se você é um jogador mais novo e que já nasceu na era do PS2, fica mais complicado prever como será a sua reação ao jogar Full Throttle. De qualquer forma a experiência é válida para quem gosta de boas histórias, bom humor e ação animada.

Mal posso esperar para que a Double Fine consiga salvar “The Dig” do Fantasma Cinzento!

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Review elaborado com uma cópia do jogo para PS4 comprada pelo autor.

Resumo para os preguiçosos

Full Throttle foi um dos melhores jogos da década de 90 e quanto a isso não se discute. Entretanto, o processo de remasterização nem sempre garante que um clássico consiga causar o mesmo efeito nos fãs depois de tanto tempo e o objetivo desta análise foi justamente avaliar o trabalho da Double Fine em repaginar Ben e sua gangue para esses novos tempos. O produto final vale muito a pena tanto para aqueles que já jogaram e querem reviver bons momentos quanto para aqueles que estão buscando uma boa história sendo contada à moda antiga, lá dos tempos em que se amarrava cachorro com linguiça.

Nota final

80
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Visual e áudio melhorados
  • Possibilidade de alternar entre o visual moderno e o clássico

Contras

  • Pode não ser tão bem recebido assim por quem não jogou a versão original
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João Víctor Sartor
João Víctor Sartorhttp://criticalhits.com.br
João Víctor Sartor é colaborador e sex-symbol do Critical Hits. Admirador das boas histórias, almeja de verdade escrever um livro algum dia. Divide seu tempo entre à leitura, jogatina, trabalho, engenharia e quando sobra tempo, vive.